Sábado, 1 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIX


Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIX - Gente de Opinião

Bagé, 24.02.2025

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Tribuna da Imprensa n° 4.306, Rio, RJ

Sábado, 21 e Domingo 22.03.1964

 

Na Praça que é do Povo

(Hélio Fernandes)

 

 

Na praça que é do povo, na rua que é do povo”, como diria o sr. João Goulart, reuniu-se finalmente o povo que, ainda segundo o mesmo Jango, “é a alma da democracia, é a fonte de todo o poder democrático”. Em São Paulo, numa marcha empolgante que ia da Praça da República à Praça da Sé, reuniu-se, desta vez, o povo. Mas, contrariando, decepcionando, estarrecendo e encabulando o sr. João Goulart, reuniu-se para defender a Democracia e a Constituição e prestigiar o Congresso, transmitindo-lhe a sua confiança. E era povo mesmo, sem “cheiro” de “pelego”.

 

É preciso que se assinale, antes de mais nada, que nestes dias conturbados o povo ainda não se havia reunido. O comício da Central, com os seus 100 mil participantes, foi um equívoco, no máximo uma mobilização de “pelegos”. Preparado e anunciado com dois meses de antecedência, custou aos cofres públicos 350 milhões de cruzeiros criminosamente esbanjados pelos “pelegos” numa estarrecedora parada publicitária. E as massas foram arrebanhadas pelas viaturas das autarquias, ministérios e pelas frotas da Petrobrás. Foi uma concentração de massas a Cr$ 3.500,00 por cabeça. Nunca um comício espontâneo, com povo mesmo.

 

Agora, não. O que houve em São Paulo, entusiasmando e comovendo o País inteiro, renovando a esperança de muitos que poderiam sentir-se temerosos, foi uma concentração do povo, límpida e espontânea, tanto assim que o País inteiro ignorava a disposição dos paulistas de irem às ruas. Não custou um vintém do dinheiro do contribuinte. Era o acontecimento que estava faltando, mas era o acontecimento que não poderia deixar de ocorrer. Pois até então tinham falado os “pelegos”, os agitadores, os comunistas, a minoria subversiva. Até então, houvera o monólogo na Central, com as massas cercadas pelas metralhadoras e baionetas dos soldados de Jair, obrigados por sua vez a proteger cartazes com a foice e o martelo. Até então, havia apenas as massas trazidas como gado humano para a Central, e livres apenas para bater palmas e aplaudir. Ou levantar as mãos a um gesto de Brizola. Era o monólogo totalitário. Faltava o diálogo, “na praça que é do povo, na rua que é do povo”. E este diálogo surgiu em São Paulo. Meio milhão de pessoas do povo mostrou que a esmagadora maioria livre, pacífica e confiante está a serviço da legalidade, da liberdade e da democracia, contra a frenética minoria que pretende mergulhar o Brasil na miséria de uma ditadura para, com isto, esconder a miséria da inflação.

 

Contra as vagas totalitárias estipendiadas pela Petrobras e pelo indecoroso sindicalismo, surgiu finalmente o mar humano da democracia. Fiel ao seu papel histórico na vida brasileira, São Paulo, o baluarte constitucionalista de 32, transmitiu a mensagem que, em todo o País, estava sendo esperada. Esta mensagem não se dirige apenas a todas as consciências democráticas. Esta mensagem da imensa e maciça maioria paulista não se dirige apenas imensa e maciça maioria de todo o País. Dirige-se, em sinal de advertência, à veraz, ambiciosa e obsessiva minoria empenhada em subverter as instituições. Esta mensagem do homem e também da mulher paulista, mãe, irmã, mulher e filha dos trabalhadores urbanos, dos soldados, de todas as classes sociais, dirige-se de modo especial ao sr. João Goulart que, a pretexto de implantar reformas, trama o fechamento do Congresso, a legalidade do Partido Comunista e a implantação de uma República Campônio-Sindicalista. E também aos iludidos ministros militares de Jango.

 

Meio milhão de paulistas advertiu o sr. Goulart e seus asseclas de que a posição do povo é de defesa intransigente do regime e das instituições democráticas, contra qualquer forma de extremismo. É de inteira solidariedade ao Congresso, reconhecido e proclamado como único poder competente para promover as reformas, que devem surgir do diálogo democrático não do monólogo totalitário.

 

Sendo um brado de alerta e mobilização, o comício de são Paulo reafirma e estado de espírito do todo o povo brasileiro em todos os recantos. Foi mais do que um comício, foi, realmente, um plebiscito, o comparecimento do povo a uma espécie de urna invisível colocada na rua e na praça. “Na rua que é do povo, na praça que é do povo”, como diria, embora terrivelmente enganado por si mesmo e pela sua récua ([1]) de pelegos e de comuno-carreiristas, o doutor Jango Goulart.

 

O Comício de São Paulo é a resposta do povo a Jango, resposta que Jango não queria e talvez não queira ouvir ainda. Mas que será forçado a ouvir um dia, quer queira ou não, se continuar tapando os ouvidos às vozes de meio milhão de paulistas, que são as vozes do Brasil. Anteontem, em São Paulo, houve o plebiscito da democracia, nas ruas do povo, nas praças do povo.

 

# Revolução de Cima é Golpe de Estado #

 

Belo Horizonte (Sucursal) – Afirmando que “a revolução comandada de cima não é outra coisa senão Golpe de Estado” a que Minas está disposta a lutar contra o Golpe, o Governador Magalhães Pinto, disse em manifesto de “Minas Gerais ao Brasil” que:

 

Não reconhece a autenticidade dos que, apresentando-se como donos das reformas, delas se utilizam como pretexto para agitação, visando a perpetuar grupos e pessoas no poder.

 

Lembrando ainda que: “já não há lugar para e reprodução de sistemas ditatoriais arquivados em nossa história”, advertiu que Minas espera uma atitude franca e clara do Presidente da República, uma atitude clara e coerente do Congresso Nacional e uma atitude clara e consequente das Forças Armadas, pois:

 

A lei maior fez deles não defensores de parcialidades do País, mas de toda a Pátria, não garantidoras de um, sim de todos os poderes constitucionais. Este é um pronunciamento do povo de Minas Gerais. De Minas parte esta conclusão ao País.

 

Ao Governador do Estado cumpre o dever de interpretar as aspirações, as angústias e a atitude da gente mineira. Faz, com todo o povo, uma só frente na preservação do regime democrático, no aprimoramento e dinamização das instituições livres, para que a mudança social, que não se deve deter, seja um avanço, não um recuo, uma consolidação de conquistas, não um retrocesso a técnicas políticas de opressão.

 

A razão de nossa atitude é clara. Claros são os objetivos de nossa união. Clara, tranquila e determinada há de ser a ação que empreenderemos.

 

O povo já sabe que a Constituição lhe dá o direito à “justa distribuição de terra com igual oportunidade para todos”, a participação efetiva no processo eleitoral, sem submissão às cúpulas, aos benefícios da renda nacional, da cultura, da saúde e do trabalho. Sabe, também, hoje, mais do que nunca, que ele, povo, é o último proprietário das reformas. Não reconhece, assim, autenticidade nos que, apresentando-se como donos das reformas, delas se utilizam como pretexto para agitação, visando à perpetuar grupos ou pessoas no poder.

 

Paciente, amante da paz e da liberdade, o povo repele o golpe e o continuísmo, como repele, também, a exploração interessada dos radicalismos políticos.

 

Sustentamos que as reformas, para corresponderem à aspiração do povo, devem resultar do consenso de todas as forças empenhada no processo de mudança. Não nos conformamos em que se reduzam a bandeiras agitadas por uns poucos ou a troféu de vitória a ser colhido por lideranças pessoais. Os últimos acontecimentos demonstraram uma duplicidade de processo, que é nosso dever denunciar à Nação. Ao mesmo tempo em que, de forma regular, se apela para Congresso, a fim de pedir emendas constitucionais consideradas imprescindíveis as reformas, efetuam-se manobras publicitárias e promocionais. O que então se revela não é só desesperança na capacidade da representação política. É também descrença no regime democrático ou incapacidade de adaptar-se a ele.

 

Ao apelo ao Congresso, dizemos sim. O sistema democrático não impede, também, os estímulos do povo à fixação de problemas e sugestão de fórmulas que os solucionem. Consideramos, todavia, insuportável o desprezo pelas instituições representativas. Esperamos uma atitude franca e clara do presidente da República.

 

Sem desconhecermos a existência de transformações revolucionárias em curso, resultantes da tomada de consciência do nosso povo e exacerbadas pelo processo inflacionário, afirmamos que a revolução comandada de cima não é outra coisa, senão o Golpe de Estado. Estamos dispostos a lutar contra o Golpe. Já não há lugar para a reprodução de sistemas ditatoriais arquivados em nossa história.

 

A aventura de suprimir qualquer dos mandatos nos levará fatalmente, à guerra fraticida, cuja consequência não será a renovação, que desejamos, mas a ruína da Pátria e o retardamento da libertação econômica, social e política, a que aspira todo o povo brasileiro.

 

Esperamos uma atitude clara e coerente do Congresso Nacional. Com os Senadores está o poder de equacionar as reformas e de efetuá-las, sem o sacrifício das instituições democráticas.

 

O povo condenará seus legisladores, se ficarem insensíveis e inertes. Esperamos uma atitude clara e consequente das Forças Armadas. A lei maior fez delas não defensores de parcialidades do País, mas de toda a Pátria, não garantidoras de um, mas de todos os poderes constitucionais

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

E-mail: hiramrsilva@gmail.com



[1]    Récua: tropa de bestas de carga; grupo de cavalgaduras. (Hiram Reis)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 1 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Porque Sou Brasileiro Republicano

Porque Sou Brasileiro Republicano

Bagé, RS, 27.10.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Po

Da Natureza do Militar

Da Natureza do Militar

Bagé, RS, 06.10.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Da

Ideologias e Seus Restos

Ideologias e Seus Restos

Bagé, RS, 03.09.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” Id

Soldado Holístico

Soldado Holístico

Bagé, RS, 25.08.2025 Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo. “Consentio in genere, numero et gradu” So

Gente de Opinião Sábado, 1 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)