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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Francisco Solano López – Parte II


Francisco Solano López – Parte II - Gente de Opinião

Bagé, 22.05.2020

 

III


Durante a longa campanha, López teve ocasião de desenvolver toda a energia e tenacidade de que era capaz uma têmpera de ferro. Não foi propriamente um guerreiro; sempre se conservou fora das linhas de combate e não dirigia pessoalmente a ação dos seus exércitos. E ele tinha razão para colocar a sua pessoa ao abrigo das contingências da Batalha. Realmente, concentrando em si todos os poderes da Nação, era o símbolo vivo do Governo, encarnava todo o seu sistema administrativo e uma vez suprimido o ditador ou desaparecido do Teatro da Guerra, estava tudo acabado.

 

Ele era sobretudo um audaz e um voluntarioso, de tal sorte que exercia entre seus súditos uma influência dominadora e absoluta. Todos tremiam ao seu aspecto e ninguém ousava falar em sua presença sem ser interrogado. Cruel e sanguinário, era muito irregular nas suas afeições. Tão facilmente cumulava de honras e proventos a um obscuro soltado, como desautorizava e rebaixava o mais prestimoso e reputado General. Desconfiava de todos, não acreditava na honra do cavaleiro, na lealdade militar. Tinha um número muito pequeno de íntimos; nunca fazia elogios aos soldados e oficiais e ostentava não ligar importância alguma aos Generais. Nada comunicava do que ocorria de notável nem permitia que qualquer pessoa, sem exceção, comunicasse a outrem os sucessos de que tinha notícia ou fizesse a quem quer que fosse perguntas a respeito do que porventura soubesse.

 

No Exército apenas cumpriam-se, às vezes mecânica e inconscientemente, as ordens do ditador assim se explica como acontecimentos de grande importância não se tornavam públicos e sobretudo não chegava notícia deles ao campo dos aliados senão muito tempo depois de ocorridos. Mesmo sobre questões de detalhe, cujo conhecimento interessava à boa administração das Forças, López guardava a mais absoluta reserva.

 

O chefe do Estado Maior não soube jamais a cifra exata das forças efetivas do Exército. Desta e de outras circunstâncias que López queria conservar secretas, apenas ele e mais um ou dois íntimos tinham ciência e se porventura qualquer de seus Generais houvesse cometido a indiscrição de pretender devassar qualquer destes segredos, teria sido imediatamente fuzilado. A essa atmosfera pesada, a esse regime de terror que o Marechal infundia em torno de sua autoridade, correspondia uma obediência incondicional e tácita que não era a subserviência podre dos tímidos e covardes porque era o fruto de uma educação religiosa absolutamente passiva e do um exaltamento patriótico levado ao delírio que faziam da pessoa do ditador a simultânea encarnação de Deus e da Pátria.

 

Alguns fatos se deram que pintam característicamente a intensidade da força autoritária do ditador. Certo dia, em 20.07.1865, López ordenou a um dos Generais que fosse prender o General Robles, Chefe Superior da Divisão do Sul e o trouxesse com segurança à sua presença.

 

‒ Que forças levo, senhor?

 

Perguntou o emissário, que era o General Barrios, cunhado do ditador.

 

‒ Um Ajudante de Ordens e esta nota escrita, respondeu o Marechal entregando-lhe um pedaço de papel dobrado e lacrado.

 

O emissário partiu, embarcou no vapor “Igurei” e saltando no porto do Empedrado dirigiu-se à tenda do General em Chefe, que ao avistá-lo veio ao seu encontro de mãos estendidas.

 

‒ Alto lá, disse Barrios, entregando-lhe o papel, não aperto a mão de quem venho prender por ordem superior.

 

O General Robles, quebrou o selo da carta e leu tranquilamente a ordem do ditador. Achava-se ele no meio de trinta mil homens a que disciplinara e que lhe votavam uma dedicação extrema. Era a única autoridade a que obedeciam havia três anos, desde a formação do acampamento de Cerro Leon. Pois bem, terminada a leitura, o velho General, cheio de serviços e fadigas, tirou calmamente a espada do cinturão e a entregou ao companheiro. Ao outro dia, chegava à presença de López e era fuzilado como réu de alta traição à Pátria.

 

Esse mesmo Barrios pouco tempo sobreviveu ao infeliz camarada. Era o cunhado do López, então General de Divisão e Ministro da Guerra e da Marinha; na manhã de 12.08.1866, apresentou-se ele, em S. Fernando, ao Presidente que estava escrevendo; cortejou polidamente e esperou a dois passos de distância. Decorridos quinze minutos, López, que não lhe havia correspondido ao cumprimento, levantou a cabeça e, fulminando-o com o olhar formidável dos maus momentos, rugiu:

 

‒ Fiz-lhe depositário de minha confiança, supondo-o um leal servidor; estou persuadido do que você é indigno dela. Retire-se de minha presença.

 

Barrios, o homem então de mais importância no Exército, tremeu dos pés à cabeça, dificilmente encontrou a porta e seguiu pela rua cambaleando como um ébrio. Em casa atirou-se como um louco à esposa, que era irmã de López; segurando-a pelos cabelos, arrastou-a pelo chão, pisou-lhe o rosto com o tacão das botas até ensanguenta-la toda e, deixando-a prostrada e desfalecida, degolou-se com uma navalha.

 

IV

 

Houve um oficial a quem o ditador sobre todos prezava e distinguia e que sempre se mostrou digno de tão grande confiança. Entretanto, se não houvesse morrido em 1867, era pouco provável que chegasse ao fim da campanha sem incorrer no desagrado de López. Como quer que fosse, este teve especial estima por José Eduvigis Díaz Vera, Chefe de Polícia e Capitão Comandante do 40° Batalhão de Infantaria, quando a Guerra foi declarada.

 

 

Diaz era um valente e destemido oficial, inteligente e perspicaz e talvez o único auxiliar consciente do Marechal. Tinha 33 anos e levou para o Campo de Batalha todo seu entusiasmo de moço e de patriota.

Foi uma das figuras proeminentes da campanha e praticou atos de verdadeiro heroísmo em todos os combates em que entrou. Verdadeiro tipo do espanhol, visionário e audaz, há um pequeno episódio curiosíssimo que dá a medida de seu caráter arrojado e fogoso. Em fevereiro de 1865, o Presidente, após uma visita que fez ao 40° Batalhão, há pouco organizado e disciplinado pela perícia e energia de José Diaz, como sinal de satisfação pelo que viu, convidou o comandante para jantar em sua mesa, onde também se sentaram, entre outros distintos oficiais, o Coronel Barrios que chegara da Expedição de Mato Grosso, Francisco Sanchez, Presidente do Conselho de Ministros e o Major Estigarribia.

 

Em meio da conversa, que era toda sobre a próxima campanha, o Marechal perguntou ao capitão Diaz se já tinha meditado algum Plano de Guerra e que o expusesse.

 

‒ Nenhum, senhor! Respondeu o oficial, porque nada mais quero senão conhecer o que V. Exª tenha resolvido, para o executar.

 

López, lisonjeado com a resposta do seu subordinado, voltando-se para os oficiais, observou que eram eles os Generais de amanhã e os depositários de sua confiança; que apesar do alto apreço que lhe merecia a modéstia de seus amigos e servidores, contudo ouviria com prazer a opinião deles franca e sincera.

 

‒ Nesse caso, senhor! Exclamou Diaz, erguendo-se, direi que o mais ardente anseio de minha vida seria receber de V. Exª ordem para escolher sete mil homens do Exército e, embarcando-os nos melhores vapores da nossa Armada, tomar sem perda do tempo o rumo do Atlântico.

 

   Passar pelo Rio da Prata, iludindo a vigilância dos navios brasileiros surtos ai; apresentar-me à vista do Rio do Janeiro, no nono dia; penetrar na baía à meia noite por entre os Fortes cujos canhões não me fariam danos; desembarcar, em trinta minutos, debaixo das maiores precauções, atravessar a cidade rapidamente, cercar o Palácio de S. Cristovão e cair sobre ele, arrebatando a família imperial inclusive D. Pedro II.

 

   Voltar para bordo trazendo bem guardada a minha presa e vinte dias depois entregá-la a V. Exª, nesta capital, de onde imporíamos a paz!

 

O assombroso projeto do moço desvairado foi ouvido em meio do maior silêncio.

 

López, visivelmente comovido, ao terminar o Capitão Diaz a incisiva narração, levantou o copo de champanhe e saudando o sonhador mancebo brindou ao patriotismo paraguaio ([1]).

 

De um relance López devia ter visto a inexequibilidade do projeto alucinado do seu oficial; mas, certamente esse plano de se apoderar da pessoa do soberano brasileiro, cuja autoridade e prestígio o ditador tanto ambicionava ferir e abalar, deveria ter emocionado profundamente a vaidade do orgulhoso caudilho.

 

Daí, desse simples fato, talvez proviesse a grande afeição que consagrou a Diaz, em quem aliás sempre encontrou a mais dedicada resolução para todas as empresas que fantasiava a ilusão em que entretinha o espírito do General a corte aduladora e imprevidente que o cercava.

 

Assim é que Diaz vai aparecendo sempre em todas as mais notáveis peripécias da guerra, sucessivamente promovido, até que após a sanguinolenta batalha de 24.05.1866 ([2]), Tuiuti, para os aliados, Estero-Bellaco, como a chamam os paraguaios, o vemos elevado ao alto posto de General de Brigada.

 

A esse tempo, já a fama levara aos quatro cantos do país o nome glorioso do valente soldado. Era o mais popular dos guerrilheiros de López e a crônica dos seus feitos, engrandecidos pela ardente imaginação popular, era repetida com entusiasmo de boca em boca. Entretanto, depois que José Diaz se viu General, foi que manifestou em sua plenitude as raras qualidades de homem de Guerra. Posto que sempre gozasse da confiança absoluta do Marechal, a inferioridade da patente em relação a outros com quem servia, embarcava-lhe a externação completa do seu pensamento, e tirava-lhe toda a iniciativa fora daquilo que lhe era especialmente cometido.

 

Só depois que entrou para o quadro dos oficiais generais é que se sentiu com inteira liberdade e autoridade para intervir nas combinações de importância e emitir franca e desassombradamente suas ideias. Breve seu conselho tornou-se necessário em todas as deliberações, e em Passo-Pocú houve momento em que exercia de fato a Superintendência Geral dos Exércitos em operações.

 

Apenas ele e o Coronel Aveiro eram os conhecedores dos mais pequenos detalhes da situação, guardados por López no mais meticuloso sigilo. Encontrava-se quotidianamente com o Marechal, quase sempre a horas tardias da noite. Era ele quem levava ao chefe a parte oficial das derradeiras notícias, omitidas nas comunicações telegráficas.

 

Penetrava na tenda sem formalidade alguma, nem prévio aviso, apenas apeava do cavalo com as armas na cintura e o chicote de prata pendente do pulso, chegando, se López já estava recolhido, até a rede em que ele na campanha repousava sempre.

 

Mas, era o único que gozava de semelhante liberdade, como também era o único que conversava com o ditador sobre os acontecimentos da guerra e o único que em algumas ocasiões ousava emitir observações em sua presença.

 

López, por seu turno, confiava-lhe as suas mais íntimas confidências. Foi com Diaz que se entendeu após a memorável conferência que, em Yataity-Corá, teve com Bartholomeu Mitre, Presidente da Confederação Argentina e então Generalíssimo dos Exércitos Aliados.

 

Pela meia noite, de 12.09.1866, fez López chamar com urgência o seu valido ao quartel general.

 

O Presidente estava Betado em frente à mesa de trabalho, completamente só e absorvido na mais profunda meditação; constantemente entregava-se a essas longas concentrações, que duravam horas, ou sentado, imóvel em uma cadeira, ou passeando automaticamente ao comprido de uma sala. Diaz penetrou no alojamento, fez ao Marechal a continência devida e conservou-se a dois passos de distância, o seu quepe na mão. López, com a intimidade que só se permitia com o antigo Comandante do 40°, narrou ao General a entrevista com Mitre, os pensamentos que o tinham levado a solicitá-la, e as disposições que trazia desse encontro original.

 

Num momento do reflexão previdente López conseguira furtar-se à ilusão enganadora em que fazia viver uma Corte viciada de aduladores sem coração.

 

Pode bem avaliar a gravidade do momento pela rememoração de alguns dos desastres irremediáveis que o já o tinham vitimado. A perda dos doze mil veteranos nas mãos de Estigarribia e Duarte; a ruína da esquadra no Combate Naval de Riachuelo; o desbarato quase total do Exército na Batalha Campal de 24 de maio e agora a tomada de Curuzu pelo valoroso Barão de Porto Alegre.

 

A consciência amortecida do ditador foi subitamente iluminada pela situação dificílima em que se achava. Bem via que real perigo correra após a ação de 3 de setembro. Se Porto Alegre, animado pela esplêndida vitória, talvez o triunfo de maior transcendência das nossas armas depois da passagem do Paraná, tivesse continuado a avançar com as forças que lhe restavam, teria surpreendido o ditador pela retaguarda, dominado todas suas fortificações e abreviado consideravelmente a Guerra, se porventura lhe não desse termo.

 

Ao espírito de López apresentou-se nitidamente o aperto da situação; o ditador resolveu provocar uma conferência com o General em Chefe dos Exércitos Aliados e propor-lhe um acordo. Alimentava intimamente a esperança de conseguir arredar do Teatro da Guerra Mitre e o Exército Argentino, rompendo-se assim a Tríplice Aliança e ficando apenas ele em luta contra o' Império que lhe merecia um ódio implacável. Em todo o caso, si nada obtivesse na conferência, teria sempre ganho algum tempo para completar as fortificações de Curupaití. Aceitando o generalíssimo a conferência, a que aliás não quis comparecer o General Polydoro, então Chefe das Forças Brasileiras, foi designado para sua realização o dia 12 de setembro, às onze horas da manhã, no lugar denominado Yataity-Corá, entre as guardas avançadas dos dois Exércitos.

 

Nessa manhã, às 7 horas, López, tomou a sua carnagem e acompanhado de um piquete do vinte cinco homens da sua escolta e de um luzido e numeroso Estado-Maior de chefes e oficiais, dirigiu-se ao lugar da entrevista. Em Passo Gomez tomou o seu fogoso cavalo branco e galopou só pela campina, mas não antes de haver com o binóculo percebido na orla do um capão, a dois quilômetros afastados, a sombra de um contingente de homens. Realmente, precaução maquiavélica, mil soldados destacados do mais seleto das suas forças e municiados com cem tiros cada um, tinham sido colocados, à meia-noite, sob o maior silêncio, em ponto estratégico e prontos ao primeiro sinal. A conferência foi extremamente amistosa. A princípio o General Oriental esteve também presente. Mas Flores não quis ouvir as recriminações que López lhe fazia de haver aceito o concurso estrangeiro para invadir o território de sua Pátria e depor o governo legal, responsabilizando-o pela “Tríplice Aliança” e pelo sangue que se estava derramando.

 

O valente caudilho não levantou a discussão e, tomando o seu cavalo, seguiu em direção ao acampamento de suas Forças. Ao retirar-se D. Venâncio Flores, Lopez, fixando a atenção, percebeu que um numeroso Destacamento Argentino fazia exercícios militares nas cercanias de Yataity-Corá e compreendeu que o seu adversário também tomara as precauções de que ele não se havia esquecido. O ditador se havia apresentado vestido na mais rigorosa etiqueta: casaca bordada do Marechal, botas de verniz, espada com os copos cinzelados de ouro, e um ponche de seda tricolor ricamente bordado. Mitre tinha apenas uma blusa militar sem galões, um chapéu desabado de feltro e uma espada comum.

 

A conferência prolongou-se e aqueles dois homens, ambos na culminância do poder, mas provindo de origens tão diversas, de caráter e tendências tão desarmônicas, de sentimentos e costumes tão radicalmente opostos, debateram por cinco horas a Paz e a Guerra.

 

Rememorando os incidentes que determinaram as hostilidades e o direito positivo de cada um dos estados beligerantes; as ofensas, os agravos, as provocações que se trocaram de parte a parte; os atos irregulares, violadores do direito das gentes e das leis da Guerra que levaram ao Tratado da “Tríplice Aliança”, pacto solene garantido pela fé pública das nações contratantes e que de modo algum poderia ser quebrado sem prévio e comum acordo. Em todo o caso Mitre chegou a apresentar a possibilidade da Paz assentando na separação definitiva de López do governo e da terra paraguaia.

 

‒ Isso só me imporão, atalhou com vivacidade o ditador, sobre a minha última trincheira, nos confins de minha, terra!

 

Finda a conferência, consignaram a notícia dela em um memorando, escrito em três vias pelo Coronel Alem, antigo Chefe da Secretaria de López; ao se separarem, depois de frases de amável cortesia, Mitre aceitou um cálice de rum que o ditador lhe ofereceu, e, saudando a próxima terminação da Guerra, trocaram os rebenques de uso em lembrança do memorável acontecimento. (REVISTA BRASILEIRA, 1896)

 

Bibliografia:

 

REVISTA BRASILEIRA, 1896. Homens e Coisas do Paraguai – Solano Lopez e José Diaz – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista Brasileira – Sociedade Revista Brasileira – Segundo Ano – Tomo VI, 1896.

 

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·    E-mail: [email protected].



[1]   É curioso saber-se que apesar do senso crítico que se lhe nota, tomou a sério o original projeto do capita Diaz. Em seu livro o autor Sr. D. Silvano Godoy o comenta da seguinte forma: “Não podia ser mais transcendental o plano apresentado pelo Comandante do 40°, nem mais propriamente, digno da sangrenta Epopeia Paraguaia. Com a metade de sua gente que conseguisse desembarcar, não havia obstáculo humano que o impedisse de levar a termo, até o último detalhe, seu arriscado cometimento. A vontade, energia e entusiasmo incontestáveis, ao lado da indiscutível competência – amplamente justificada na duração da guerra – auguravam pressentimentos felizes quanto ao resultado do gigantesco pensamento. E se atentarmos à qualidade da tropa encarregada de sua realização e que não existiam linhas telegráficas, redes de torpedos, nem encouraçados e que as baterias do Rio estavam artilhadas com canhões de sistema velho, ainda admitindo o caso de que ele preferisse forçar a barra ao desembarque fácil e simples na Praia Vermelha, Copacabana ou Gávea, o êxito não podia ser duvidoso. A experiência, todavia, encarregou-se de comprovar nossa afirmação em época recente, por ocasião da sublevação do Sargento Silvino de Macedo em 29.01.1892. A Fortaleza de Santa Cruz, considerada inexpugnável, foi atacada, dominada e tomada à baioneta por quatro companhias do 7° e 10° Batalhões às ordens do Tenente-Coronel Carlos Olympio Ferraz, e a ilha da Lage levantou a bandeira de parlamentar, rendendo-se à descrição, ao primeiro tiro de canhão da esquadra”. (Rodrigo Octavio)

[2]   A respeito dessa importantíssima Batalha, assim se exprime o autor Sr. D. Silvano Godoy: “A batalha de 21 de maio foi das mais sangrentas de toda a Guerra e seu resultado um completo desastre. Cinco horas consecutivas de furiosa e desigual peleja quase exterminaram o Exército de López, que teve cinco mil mortos e sete mil feridos, enquanto as perdas aliadas chegaram apenas à metade. Os chefes superiores das três Divisões paraguaias tinham comando independente, o único porém, que cumpriu irrepreensivelmente o seu dever, porque esgotou os recursos desesperados de sua atividade e energia, foi o Coronel Diaz que dirigiu pessoalmente os seus Batalhões, combatendo ao lado do último de seus soldados. O General Resquin, que comandava a ala esquerda, se portou covardemente, desaparecendo desde o primeiro momento da ação ‒ sem dar uma só ordem ‒ e sem que os ajudantes dos Comandantes de Brigada que solicitavam instruções dele, conseguissem descobrir o seu paradeiro. López rugiu de cólera ao ter conhecimento disso, e o manifestou em termos duros, e se não fuzilou o General, foi unicamente porque seu cunhado, o General Barrrios, merecia a mesma pena pela supina inépcia com que se havia portado na ala direita. Além disso, o feito de armas de Tuiuti foi o maior erro do Marechal López”. (Rodrigo Octavio)

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