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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Ajuricaba, Herói ou Traidor? – Parte IV


Ajuricaba, Herói ou Traidor? – Parte IV - Gente de Opinião

Bagé, 18.06.2020

 

 

 

Revista Trimensal de História e Geografia, 1850

 

Ano de 1720

 

 

Não devo passar em silêncio outra frequente entrada no Rio Branco, adiantada ao seu braço chamado Tacutu, e por ele procurada a comunicação com as colônias Holandesas. É fato indubitável que Frei Jerônimo Coelho, religioso carmelita o missionário da aldeia dos Tarumãs [a primeira do Rio Negro], man­dava fazer negócio com os Holandeses por aqueles rios: o que, porquanto pude averiguar, seria pelos anos de 1720 e seguintes.

 

Talvez que o célebre pirata Ajuricaba, de nação Manao, descobrisse aquele caminho; porque este famoso ladrão tinha feito aliança com os holandeses, usava nas suas embarcações de bandeira daquela república, e assaltava as nossas povoações do Rio Negro, reduzia à escravidão injusta aos nossos índios, e os ia vender aos Holandeses. A guerra que se fez a este pirata, e a sua trágica morte, é alheio assunto desta relação. (RTHG, 1850.)

 

 

 

Dicionário Topográfico, Histórico, Descritivo da Comarca do Alto-Amazonas, 1852

 

Ano de 1725

 

 

Em 1725, celebrizou-se no Rio Branco, Ajuricaba, Principal dos Manaos do Rio Hiiáá, o qual ao serviço dos Holandeses agredia os estabelecimentos Portu­gueses do Rio Negro, e arrebatando-lhes os Indíge­nas conduzia-os pelos Rios Branco, Repunuri e Suri­name aos estabelecimentos Holandeses. [...]

 

A este tempo, sob o Governo do decimo-sétimo Capitão-mor do Pará, José Velho de Azevedo, ocor­reu um fato de não pequena importância, qual a correria que no Rio Negro exerceu o famoso Ajuri­caba, Principal dos Manaos do Rio Hiiáá, por indução dos Holandeses da Guiana, que levados de sua instintiva perfídia se lembraram de empreender o aniquilamento dos estabelecimentos Portugueses, não por aberta hostilidade, que comprometesse as relações internacionais, mas insinuando a insur­reição, e a devastação por mãos dos próprios súbdi­tos rebelados; e Ajuricaba vencido pela persuasão, e dedicado como Indígena, agredindo as Missões do Rio Negro, e arrebatando seus neófitos, os arrastava pelo Rio Branco às possessões Holandesas, cuja bandeira trazia arvorada em sua flotilha, constante de vinte e tantas canoas. Ciente o Governador do Estado, João da Maia Gama, expediu a Belchior Mendes de Moraes com uma força em defesa das Povoações, enquanto aguardava determinações da corte; em virtude das quais, em 1727, expediu o Capitão João Paes do Amaral com suficiente reforço ao dito Belchior, que bateu e aprisionou Ajuricaba, o qual remetido em ferros para o Pará, baldada ainda uma tentativa de levantamento a bordo, atirou-se ao rio; e com este expediente poupou-se à ignominia do patíbulo, que o aguardava. Os Indígenas, seus entusiastas até a superstição, recusarão por muito tempo acreditar em sua morte, e o esperavam com a mesma tenacidade, com que ainda hoje esperam os Portugueses por seu D. Sebastião. (DTHDCAA, 1852)

 

 

 

Comissão do Madeira, Pará e Amazonas pelo Encarregado dos Trabalhos Etnográficos, 1874

 

Ano de 1725

 

 

Em 1725, celebrizou-se, no Rio Branco, o índio Ajuri­caba, um dos mais poderosos chefes dos Manaos. A natureza havia-o dotado do ânimo intrépido e guer­reiro. Tinha feito aliança com os holandeses da Guia­na com os quais negociava em escravos, agredindo os estabelecimentos portugueses e arrebatando-lhes os indígenas, que ia vender aos holandeses. Governava então a Capitania do Pará o General João da Maia da Gama, que, tendo notícia daquelas corre­rias, mandou a Belchior Mendes de Moraes com um corpo de infantaria, a fim de guarnecer as povoações invadidas. Apenas chegou Belchior ao Rio Branco, teve logo notícia de que acabava Ajuricaba de invadir o Carvoeiro, e de aprisionar muitos índios.

 

Partiu imediatamente em seu seguimento e três dias depois encontrou a esquadrilha de Ajuricaba, que compunha-se de 25 canoas. Segundo as instruções que tinha, limitou-se Belchior a repreender severa­mente o chefe Manao e a tomar-lhe os prisioneiros. Depois disto, deu-se pressa Belchior Mendes em guarnecer as povoações e em proceder à devassa, de cujo resultado deu conhecimento ao Governador, que dirigiu-se ao Governo da metrópole, represen­tando contra as violências de Ajuricaba, provadas pela devassa, e juntamente as de outros principais facinorosos, como eram as dos irmãos Bebari e Bajari, assassinos de Caranumá. Ordenou, então, o governo da metrópole que se fizesse guerra aqueles chefes.

 

Tratou logo o General de cumprir a ordem, prepa­rando um luzido contingente, cujo comando confiou a João Paes do Amaral, com ordem de se unir a Belchior Mendes. Conseguiram estes dois capitães terminar com felicidade a guerra. Ajuricaba caiu prisioneiro com mais dois mil índios, mas sendo remetido para o Pará, teve a habilidade de provocar na canoa em que ia uma sublevação, que com muita dificuldade pôde ser sufocada. Malogrado o plano que havia formado, suicidou-se Ajuricaba, atirando-se ao rio. (CMPA, 1874)

 

 

 

Anais da Biblioteca Nacional, Vol. 67, 1948

 

Ano de 1728

 

Para o Governador do Maranhão

Louva-se-lhe a guerra que fez ao Índios Mamearús e Mayapinas e se lhe ordena a continue para desimpedir a passagem das Cachoeiras.

 

Dom João por Graça de Deus Rei, faço saber a vós João da Maia da Gama Governador e Capitão General do Estado do Maranhão que vendo-se a conta que me destes em carta de 25 de setembro do ano passado e papéis que com ela remetestes sobre as tropas que expedistes contra os Índios Manuanes, e guerra que mandastes fazer aos principais da Nação Mayapenas de que resultara prender-se ao Bárbaro Ajuricaba que se intitulava Governador de todas aquelas nações representando-me que para dezem­bro se havia dar o castigo aos ditos Mayapenas, e que com ele ficaria desimpedida a passagem das cachoeiras e se abriria caminho para as tropas dos resgates me pareceu dizer-vos que tudo o que obrastes foi com acerto e ajustado com as minhas ordens e se vos aprova e louva o que nesta parte despusestes e assim vos ordeno continueis na diligência de desimpedir a passagem das cachoeiras expedindo tropas contra os Índios Mayapenas para castigarem na forma possível as suas desatenções e rebeldia. El Rei nosso Senhor o mandou por Antonio Roiz da Costa Dor e Joze Carvalho d'Abreu, Conse­lheiros do seu Conselho Ultramarino e se passou por duas vias.

 

Dionizio Cardoso Pereira a fez em Lisboa Ocidental a 23 de janeiro de 1728. (ADBN, N° 67)

 

O Guesa
Canto II

(Joaquim de Sousândrade)

 

[...] Talvez de Ajuricaba a sombra amada

Que vem, deixando os túmulos do rio,

Nas endechas da vaga soluçada

Gemer ao vento dos desertos frio:

Onça exata, erma planta do terreiro,

Que ainda acorda a bater os arredores

Ao repouso da noite do guerreiro,

Noite d'onde não mais surgem alvores.

Talvez Lobo-d'Almada, o virtuoso

Cidadão, que esta Pátria tanto amara,

A chorar, das relíquias vergonhoso

Que a ingratidão às trevas dispersara

Cidadão, que esta pátria tanto amara,

A chorar, das relíquias vergonhoso

Que a ingratidão às trevas dispersara:

Foi a queda do cedro da floresta

Que faz nos céus o vácuo para as aves

Que não encontram na folhagem mesta

Dos perfumes os ninhos inefáveis ‒

Ouçamos... o fervor de estranha prece,

Que no silêncio a natureza imita

De nossos corações... aquém palpita... [...]

 

Bibliografia:

 

ADBN, N° 67. Ajuricaba ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Anais da Biblioteca Nacional, Vol. 67 ‒ Livro Grosso do Maranhão – 2ª Parte ‒ Divisão de Obras Raras e Publicações, 1948.

 

CMPA, 1874. Ajuricaba ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Comissão do Madeira, Pará e Amazonas (1ª Parte) pelo Encarregado dos Trabalhos Etnográficos, Cônego Francisco Bernardino de Souza,1874.

 

DTHDCAA, 1852. Ajuricaba ‒ Brasil ‒ Recife, PE ‒ Dicionário Topográfico, Histórico, Descritivo da Comarca do Alto-Amazonas, por Lourenço da Silva Araújo e Amazonas, 1852.

 

RTHG, 1850. Ajuricaba ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Revista Trimensal de História e Geografia, Segunda Série, 1850.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·    E-mail: [email protected].

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