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Viviane Paes

Dia dos Pais: Fernando Fonseca, o pai que liderava


Dia dos Pais: Fernando Fonseca, o pai que liderava - Gente de Opinião

Busquei na memória quando vi o engenheiro Fernando Fonseca pela primeira vez e não consegui. É simples, o conheci como esposo de uma cliente e posteriormente amiga da minha família: a empresária, filantropa e psicóloga Júlia Arcanjo Fonseca.

Lembro Júlia levando alguns macacões de trabalho do esposo para minha mãe, que era costureira com ateliê na Avenida Calama fazer algum reparo.  O vi uma vez de longe, um senhor começando a ficar calvo, de olhos gentis que ficava sempre dentro do carro lendo. Eu tinha 10 anos.

Aos 21 anos, quando já havia saído do jornal “O Estadão do Norte” finalizará uma campanha vitoriosa do então candidato à Prefeitura de Porto Velho, o saudoso Chiquilito Erse, a Júlia me ligou e fez uma pergunta inusitada. “Você teria interesse em trabalhar na assessoria de comunicação da Eletronorte?”. Eu não estava preparada para algo tão desafiador. Havia começado a cursar Letras-Espanhol, na Universidade Federal de Rondônia – Unir e não tinha nenhuma experiência em assessoria de imprensa. Atuei alguns meses como repórter na TV Allamanda, fui subeditora de Economia, no periódico Diário da Manhã, em Goiânia e fiz estágio por seis meses na Comunicação do Sindicato da Construção de Goiás – Sinduscon/GO, mas não tinha segurança e experiência para atuar na maior estatal do Estado.

Júlia é especialista em detectar e reforçar as qualidades das pessoas. Ela é desses seres iluminados que aquecem sua alma com um olhar! Júlia me conhecia desde criança, uma filha de migrantes que haviam escolhido Rondônia como moradia, afirmou: “Esse é um local de aprendizado também Vivi, você pode iniciar como estagiária pela Unir”.  

Seu esposo, o Fernando Fonseca havia assumido há uns cinco anos a gerência da Regional de Produção e Comercialização de Rondônia (conhecida externamente como Eletronorte/Rondônia) e precisava de um profissional de confiança para desenvolver algumas atividades específicas da comunicação local. Na Sede, em Brasília havia a Gerência de Comunicação que definiria as atividades a serem replicadas nas demais regionais da empresa.

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O líder e a jornalista

Quando participei da entrevista com o engenheiro Fernando – aqui preciso dizer que essa é uma denominação comum na Eletronorte, ele se mostrou surpreso com essa versão da filha da Natália. Fazia muitos anos que não nos encontrávamos. Eu era mãe e exercia a profissão de jornalista há seis anos.

O engenheiro Fernando disse o que esperava de mim e fui sincera sobre as minhas limitações como assessora de comunicação e imprensa. Ele estava iniciando o curso de Direito e sempre participava de cursos e treinamentos de liderança oferecidos pela Empresa. Sorrindo me confidenciou que seria uma oportunidade aprendizado para nós. “Também não tenho experiência alguma nessa área da liderança. Vamos errar, acertar, errar e principalmente aprender juntos”.

Assim iniciamos os trabalhos, uma amizade e uma relação quase paternal de um líder com uma liderada. Essa relação durou uma década, até Fernando falecer em 18 de outubro de 2008, em decorrência de um câncer.

Nessa rápida trajetória experimentei todas as vertentes da Comunicação Empresarial de uma das maiores empresas do setor elétrico do Brasil. Fizemos revista de retrospectiva, informativos especiais, documentários das ações de Responsabilidade Social, do Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios – Prodeem, Procel até a execução de um livro inédito sobre a história da energia elétrica no Estado, o Memória da Energia Elétrica de Rondônia.

Esse material, ainda considerado o único do gênero 16 anos após seu lançamento, nasceu de uma conversa informal do engenheiro Fernando Fonseca com a diretora da Biblioteca Francisco Meirelles, a bibliotecária, Glória Valladares que apontou a inexistência de livros abordando a questão energética na região.

Já havíamos conversado sobre a necessidade de um projeto marcante e consistente para comemorar os 20 anos de atuação da Eletronorte na região e de repente a lacuna exposta pela Glorinha resolveu o impasse.

“Vamos falar da história da energia elétrica na região, mas eu quero ver nesse livro depoimentos de moradores dos municípios e a participação de nossos historiadores”, pediu Fernando Fonseca. “A demais estrutura é com a “doutora” e a equipe da Comunicação e da Qualidade”, completou.

E, durante oito meses percorremos a maior parte dos 52 municípios rondonienses para elaborar esse livro.

Estava grávida do meu segundo filho quando descobri acidentalmente que o engenheiro Fernando estava em tratamento de câncer. Eu, que era uma das pessoas mais próximas a ele fui à última, a saber, da batalha que estava enfrentando. Como bem disse a Isabel Ferreira, a Bel, da superintendência de Comunicação da Sede: “as pessoas estavam de poupando por você estar em uma gestação de risco, Vivi”.

O Memória da Energia Elétrica de Rondônia lançado em 2006, durante a Exposição Alma do Norte foi um sucesso e estabeleceu a liderança e a relevância da Eletronorte, no Estado, mediante os estudos dos impactos ambientais das usinas do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira: Santo Antônio e Jirau.

Fernando faleceu em Belém, apesar de ter amado e valorizado Porto Velho e Rondônia. Foi passar seus últimos dias ao lado da única filha, Margareth, dos irmãos, dos sobrinhos em companhia da esposa, Júlia.

Não consigo lembrar a última vez que conversei com ele, antes de seu retorno ao Pará. Esses momentos que causam dor na alma parecem que não são processados pela mente.

Recordo do sorriso, do olhar sempre amoroso e brincalhão. Da maneira educada de falar, uma voz firme quase sussurrada. Da maneira carinhosa que chamava meu marido, Alexsandro: Luquinha! Uma intimidade que nasceu após descobrir o parentesco dele com um colaborador falecido da Empresa, seu tio Mário, o bujão!

Nunca o chamei de pai, pois ele tinha amizade com meu pai e tinha uma filha que morava distante. No entanto, quando o Vinycius nasceu e o Fernando foi o primeiro a nos visitar no hospital, vi seus olhos esverdeados cheios de lágrimas enquanto brincava: “Quando esse rapazinho crescer terá que me chamar de tio Fernando, pois sou novo demais para ser avô!”.

Nada mais precisou ser falado. Meu coração entendeu!

O professor Queiroz foi meu pai, no jornalismo, Fernando Fonseca foi meu pai na gestão da Comunicação. Ambos essenciais para a profissional que me tornei! Não é essa a missão paterna?!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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