Quinta-feira, 9 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Saúde

Calor e mudanças climáticas podem acelerar o ciclo da dengue na Amazônia

Com o calor em alta e a estiagem, o mosquito Aedes aegypti encontra condições ideais para se reproduzir. Especialistas orientam que o período pré-inverno amazônico é o mais estratégico para evitar novos surtos.


Calor e mudanças climáticas podem acelerar o ciclo da dengue na Amazônia - Gente de Opinião

A dengue é uma das doenças tropicais mais sensíveis às variações do clima. O aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas vêm alterando o ciclo de reprodução do Aedes aegypti, criando condições ideais para o mosquito, especialmente na Amazônia.

Neste período de transição, com dias mais quentes e chuvas ainda irregulares, especialistas destacam que agir agora, eliminando criadouros e reforçando a vigilância, é essencial para evitar o aumento de casos que costumam ocorrer durante o inverno amazônico, entre o fim e o início de cada ano.

O doutor em Saúde Pública Bruno Eduardo Silva de Araújo, da Estácio, explica: “O calor acelera o processo de desenvolvimento do mosquito. Em temperaturas entre 26 °C e 30 °C, o tempo para um ovo virar adulto diminui, o que significa mais mosquitos nascendo em menos tempo.”

De acordo com dados do Ministério da Saúde, referentes ao primeiro semestre de 2025, o estado de Rondônia registrou mais de 2.900 casos prováveis de dengue, sendo 151 confirmados na capital, Porto Velho. Já o sistema InfoDengue, da Fiocruz, aponta que o estado se mantém em nível verde, o que indica estabilidade e baixo risco de surto. Em Belém do Pará, outra capital amazônica, o alerta é amarelo: o clima quente e úmido favorece a reprodução do mosquito, embora ainda não haja aumento expressivo na transmissão.

O médico de família e comunidade Evandro Rios Soté, coordenador do curso de Medicina do IDOMED FAMEJIPA, explica que o comportamento do mosquito e a gravidade dos casos estão diretamente ligados à resposta do corpo humano e à rapidez no atendimento. “A dengue é uma doença viral que pode causar febre alta, dores intensas, manchas na pele e até sangramentos. O perigo aumenta quando há demora para procurar atendimento”, afirma. “Crianças desidratam mais rápido e muitas vezes não conseguem descrever o que sentem. Já os idosos, por terem outras doenças, podem piorar de forma súbita”, completa.

O médico alerta ainda que a automedicação é um dos principais riscos durante o tratamento da doença. Muitos confundem os sintomas de dengue com gripe ou virose e tomam medicamentos por conta própria, o que pode agravar o quadro. Anti-inflamatórios e aspirina, por exemplo, aumentam o risco de sangramento, enquanto o uso excessivo de chás ou remédios caseiros pode causar desidratação. “A recomendação é clara: suspeita de dengue, procure o posto de saúde, beba bastante água e não se automedique”, reforça Soté.

CONSCIÊNCIA COLETIVA — Além do clima, o especialista em saúde pública Bruno Araújo chama atenção para o papel do saneamento básico e da gestão de resíduos na proliferação da doença. “Garrafas, pneus e tampinhas acumulam água e viram criadouros. A falta de coleta de lixo e de rede de esgoto favorece o mosquito. Um ambiente urbano mal planejado oferece tudo o que ele precisa para se multiplicar.”

As soluções, segundo ele, passam por um conjunto de medidas estruturais: universalização do saneamento, melhor gestão de resíduos sólidos e drenagem urbana sustentável, com jardins de chuva e pavimentos permeáveis. “Essas medidas reduzem os pontos de acúmulo de água e fortalecem o conceito de Saúde Única, que integra saúde humana, meio ambiente e planejamento urbano.”

Para os especialistas, o combate à dengue depende de uma mudança de comportamento coletivo. A professora Amanda Mello, docente de Farmácia da Estácio e mestre em Patologia das Doenças Tropicais, destaca que o individualismo ainda é um obstáculo: “Muitas pessoas acreditam que cuidar apenas do próprio quintal é suficiente, quando uma casa abandonada ou uma piscina descoberta já podem afetar todo o entorno.” Segundo ela, é preciso desenvolver uma ‘civilidade sanitária’, baseada na consciência de que o cuidado com o ambiente é uma responsabilidade compartilhada. “Pequenas ações, como eliminar água parada e manter caixas d’água tampadas, têm impacto decisivo na prevenção da doença e na construção de cidades mais resilientes às mudanças do clima”, complementa.

Amanda também destaca que, embora exista vacina contra a dengue, ela ainda é restrita ao setor privado e não cobre todas as cepas do vírus. “A prevenção mais eficaz continua sendo eliminar criadouros e manter o ambiente limpo.”

Com o avanço das mudanças climáticas e o aumento das temperaturas médias na Amazônia, os especialistas são unânimes: o combate à dengue exige uma nova postura da população. “O clima favorece o mosquito, mas o comportamento humano define se ele vai se espalhar. Prevenção é responsabilidade coletiva”, conclui Amanda.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 9 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Hospital de Base cria “Cantinho da Brincadeira” no Centro Cirúrgico para acolher crianças

Hospital de Base cria “Cantinho da Brincadeira” no Centro Cirúrgico para acolher crianças

O Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, em Porto Velho, deu mais um passo importante na humanização do atendimento ao implantar o Cantinho da Brincadei

Governo de RO emite Nota Técnica reforçando orientações para o risco de bebidas adulteradas com metanol

Governo de RO emite Nota Técnica reforçando orientações para o risco de bebidas adulteradas com metanol

Para intensificar as ações de fiscalização em estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas, o governo de Rondônia, por meio da Agência Esta

Porto Velho recebe Simpósio Local sobre Melanoma na FIMCA e Faculdade Metropolitana

Porto Velho recebe Simpósio Local sobre Melanoma na FIMCA e Faculdade Metropolitana

Na manhã deste sábado, 4 de outubro de 2025, Porto Velho sediou o Simpósio Local sobre Melanoma, realizado no Anfiteatro Dra. Maria Silvia Carvalho,

FIMCA realiza abertura da 3ª edição do Projeto Porto Saúde

FIMCA realiza abertura da 3ª edição do Projeto Porto Saúde

O Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA realizou, nesta sexta-feira (3 de outubro de 2025), a cerimônia de abertura da 3ª edição do Projet

Gente de Opinião Quinta-feira, 9 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)