Quinta-feira, 6 de novembro de 2025 - 10h45

CAOS
A tragédia da
coleta de resíduos sólidos em Porto Velho não é um acidente; é a consequência
direta de uma deliberação institucionalmente míope. O clamor da população,
agora confrontada com montanhas de lixo, expõe a falha sistêmica de instâncias
que se julgaram aptas a arbitrar sobre serviços essenciais com base em uma
interpretação normativa descontextualizada.
LITERALIDADE
O texto original
acerta ao sublinhar que a insistência na literalidade da norma, sem considerar
a complexidade da logística de limpeza urbana, era uma fórmula para o desastre.
A decisão de primeira instância, que ensaiou um movimento de mediação,
representava o único sopro de sensatez. No entanto, o desenrolar posterior
demonstrou que a celeridade requerida pelo interesse público foi suplantada
pela morosidade burocrática.
SELETIVIDADE
O resultado é
previsível e socialmente regressivo: a população de baixa renda, residente em
áreas periféricas, torna-se o ônus desse imbróglio, enfrentando o iminente
risco de surtos sanitários. Em contraponto, a minoria abastada, instalada em
condomínios de luxo, permanece blindada por soluções de coleta privada. Essa
disparidade evidencia a seletividade do impacto da ineficiência estatal.
INÉRCIA
A responsabilidade
por este impasse na capital deve ser imputada às entidades que, nas fases
administrativa e judicial, optaram por criar obstáculos regulatórios em vez de
atuar como facilitadores preventivos. O tempo despendido na inércia processual,
registrado nos autos, é um atestado de desconexão.
GARANTIDORA
A crítica, portanto,
não recai apenas sobre a interpretação fria, mas sobre a indiferença de
burocratas que parecem alheios às consequências sociais de seus despachos. A
realidade, meus caros, é que a eficácia da Justiça deve ser medida pela sua
capacidade de garantir a saúde pública, e não apenas pelo rigor filológico de
suas sentenças.
QUALIDADE
O cerne da questão,
como bem aponta outros colegas, reside na ausência de peso dado à expertise
técnica. Em um serviço contínuo e vital, como a gestão de resíduos em um
município de dimensões consideráveis, a exemplo de Porto Velho, o critério de
capacidade operacional deveria ter primazia sobre o mero preço. Não
se trata de defender uma ou outra empresa por razões publicitárias, mas de
reconhecer que o interesse coletivo é vilipendiado quando se permite que
"empresas cartoriais" — ou seja, concorrentes sem histórico
comprovado e tecnologia adequada — vençam certames essenciais.
PESTE
Com o acúmulo de lixo
na área urbana da capital e, pior, nos distritos e no Baixo Madeira, a situação
transborda do administrativo para o sanitário. A crítica final é a mais
pungente: a lentidão da Justiça, exacerbada por liminares diversas e
divergentes, corre o risco de ser lembrada não por sua jurisprudência, mas por
ter catalisado uma peste urbana.
DESCONEXÃO
O cidadão tem o
direito e o dever de exigir que a proteção do bem comum prevaleça sobre a
omissão e o formalismo deslocado. A única conclusão inegável é que a desconexão
da norma com a realidade está cobrando seu preço, e é a coletividade quem paga.
TRAGÉDIA
O problema não está
exatamente na administração, mas na fé quase religiosa de que a forma como foi
escolhida resolve tudo. O resultado é sempre o mesmo: vence a empresa mais
barata, invariavelmente a menos capaz. Contrata-se um consórcio de aventureiros
para operar um sistema que exigiria bons profissionais e planejamento, não
improviso e retórica. Depois, quando o caos se instala, aplicam-se multas como
quem joga água benta sobre cadáver. A concessionária é um monumento à inépcia —
e o contribuinte, refém dessa pantomima, paga caro para assistir à tragédia do
serviço público terceirizado que não cumpre aquilo para o qual foi contratado.
CHUVAS
Com as primeiras chuvas, Porto Velho volta a encenar seu drama anual: alagam-se
ruas, casas e promessas. Os bueiros entupidos e as “bocas de lobo”
transformadas em sarcófagos de lixo são o retrato da cidade que produz entulho
mais depressa do que soluções. A prefeitura anuncia medidas preventivas, mas o
problema nasce na coleta precária e na empresa que não consegue cumprir o
básico. O lixo que se acumula nas calçadas desce triunfante com as enxurradas,
como símbolo da desordem. E o que poderia ser um simples período de chuvas
transforma-se em mais uma temporada de caos — previsível, repetida e lucrativa
apenas para os mesmos de sempre. E quem não tem culpa pelo caos é quem paga a
conta.
LABIRINTOS
O processo de escolha
da empresa encarregada da coleta de lixo arrasta-se desde a gestão anterior
que, sejamos corretos, tentou dar uma solução definitiva ao problema. Mas
(repitamos) acabou enredada pela própria engrenagem estatal — uma burocracia
infernal e um festival de interpretações normativas levadas à risca, como se a
letra fria da lei fosse mais importante que a vida real das cidades. O
resultado foi a paralisia completa: um impasse que atravessou governos,
desperdiçou tempo e paciência, e agora atinge a todos. A máquina pública,
incapaz de decidir, criou o seu próprio labirinto.
EXCEPCIONALIDADE
Não é comum a coluna
RESENHA POLÍTICA circular nas quintas-feiras, mais a excepcionalidade do
problema nos obriga tecer comentários críticos em razão dos interesses
coletivos. Embora colocar a mão lixo nunca seja uma boa opção. A
excepcionalidade faz a ocasião.
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