Terça-feira, 28 de outubro de 2025 - 12h06

CARAVANA
Os partidos de esquerda voltam a percorrer as estradas de Rondônia, repetindo
um ritual que o tempo parece não ter ensinado a renovar. Há trinta anos, essas
caravanas levavam esperança e debate político às pequenas cidades, quando a
utopia ainda encontrava ouvidos atentos. Hoje, o cenário é outro: o
conservadorismo fincou raízes no eleitorado, e a travessia tornou-se mais
árdua. O discurso progressista, antes movido por ideais de transformação
social, soa anacrônico em palanques onde a fé, o agronegócio e o pragmatismo se
tornaram os novos dogmas. A esquerda rondoniense, embora tente reacender a
chama do passado, parece falar a uma plateia que já se dispersou — ou que,
simplesmente, não a escuta mais.
EMPOLGAÇÃO
Nos anos 90, MDB, PT, PDT, PSDB e PSB exibiam musculatura e renovação. Havia
figuras com densidade eleitoral real: Valdir Raupp, Ildemar Kussler, Confúcio
Moura, José Guedes, Aguimar Piau, Ernandes Amorim, Jorge Streit — nomes que
enfrentaram um adversário mitológico, Chiquilito Erse, e fizeram história.
Hoje, com exceção do sempre cerebral Confúcio, o resto da caravana não empolga
nem a militância contratada para bater palma. Falta brilho, sobra nostalgia.
GUETO
A fórmula de se lançar às estradas é antiga, quase ritualística, mas revela
mais resignação do que ousadia. Os partidos que outrora proclamavam mudança
agora se debatem dentro do próprio espelho. Faltam lideranças com vigor
intelectual e carisma popular — e sobram slogans repetidos, como velhas canções
em vinil riscado. O que antes foi movimento político transformador hoje soa
como eco de uma era perdida. A esquerda rondoniense, confinada ao seu gueto,
parece envelhecer antes do tempo, presa ao saudosismo de uma glória que já não
existe e a um discurso que o presente não compreende.
ESMERANDO
Hildon Chaves, ex-prefeito da capital, esmera-se em parecer candidato a
governador, embora saiba que a empreitada é mais difícil que fazer gelo no
inferno. O isolamento político que construiu tijolo por tijolo agora o cerca.
Em reservado, admite o óbvio: talvez seja mais sensato disputar vaga de
deputado federal. É o caminho natural para quem cansou de ser protagonista sem
plateia.
OPORTUNIDADE
No PSDB, Hildon pode não ter legenda suficiente, mas tem capilaridade e nome
limpo — duas raridades no zoológico político local. Sozinho, pode até
surpreender com votação próxima à de Fernando Máximo. E para os oportunistas de
plantão, fica a dica: filiar-se ao ninho tucano pode render uma suplência de
luxo. O voo solo do ex-prefeito talvez inspire outros passarinhos sem gaiola.
AMBIENTALISMO
Às vésperas da COP em Belém, o governo federal intensifica as ações de combate
aos crimes ambientais — repressão de ocasião, com muito drone e pouca
prevenção. As operações chegam sempre depois do estrago feito, mais
performáticas que eficazes. Ainda assim, é melhor do que nada: se continuar
nesse ritmo, o único verde que sobrará será o dos dólares contrabandeados.
GARIMPO
O Fantástico escancarou domingo passado o desastre no Rio
Madeira — uma ferida aberta no coração da Amazônia. E a reação da bancada
rondoniense? Um silêncio de cemitério. Nem um piado. Nossos parlamentares,
sempre tão loquazes para defender garimpeiro ilegal, agora se fingem de mortos.
O garimpo destrói o rio, intoxica comunidades, corrompe o Estado e ainda sonega
impostos. Ouro amaldiçoado — brilha no bolso de poucos e apodrece o futuro de
todos.
DÍVIDAS
A Energisa, sempre “preocupada” com o consumidor, lança mais uma campanha de
renegociação de débitos — descontos generosos e parcelamentos camaradas. Uma
mão lava a outra, desde que o cliente não esqueça quem segura a mangueira.
INADIMPLÊNCIA
Boa oportunidade para regularizar as contas e, quem sabe, evitar aquele corte
inconveniente na sexta-feira à noite. A inadimplência, claro, serve de
justificativa para os reajustes nas tarifas dos pontuais — o capitalismo da
conta de luz não perdoa. Na última campanha, 81 mil contratos foram
renegociados, amparados pelo programa “Desenrola Brasil”. Tudo muito patriótico
— desde que se pague o boleto.
OPÇÃO
A modernidade chegou: Pix, cartão, parcelamento e toda a mágica digital. O
cliente pode negociar sem sair do sofá — e sem o risco de enfrentar o olhar
impassível do atendente. No fim, todos saem satisfeitos: a empresa, por
receber; o cliente, por continuar endividado, mas de forma elegante.
PODCAST
O Resenha Política segue em expansão — mais entrevistas, mais
repercussão, mais dor de cabeça para os poderosos de plantão. O engajamento nas
plataformas digitais cresce a cada episódio, e em novembro o programa estreia
na TV e Rádio Jovem Pan. Rondônia terá, enfim, um espaço para discutir política
sem anestesia.
AGENDA
As próximas entrevistas prometem. Na quinta, o petista Ramon Cujuí abre a
temporada; depois, Fátima Cleide, Nestor Ângelo, vereador Santana, Samuel Bera
e o professor Vinícius Assis. Um painel plural — do comício à academia, da
tribuna à ribalta.
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