Terça-feira, 4 de novembro de 2025 - 10h14

DESINTRUSÃO
O debate em torno da
extensão da Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, tem origem em uma
série de atos administrativos editados pelo Governo Federal ao longo das
últimas décadas. A questão central é a alegação de ilicitude na ampliação da
área originalmente destinada à comunidade indígena, que, segundo colonos, teria
avançado sobre assentamentos rurais legalizados.
ÁREA
O Parque Nacional de
Pacaás Novos foi criado pelo Decreto nº 84.019, de 21 de setembro de 1979,
ainda durante o período em que Rondônia era território federal. O parque
abrangia uma área de 764.801 hectares, delimitada pelas coordenadas 10º10’ a
11º50’ de latitude sul e 62º30’ a 64º10’ de longitude oeste.
REDEFINIÇÃO
Posteriormente, o
Decreto nº 91.416, de 9 de julho de 1985, declarou a mesma região como área de
ocupação indígena Uru-Eu-Wau-Wau e determinou à Funai a realização da
demarcação. Entretanto, o Decreto nº 98.894, de 1990, revogou o anterior e
determinou a realização de um novo estudo técnico para redefinir os limites da
terra indígena.
SOBREPOSIÇÃO
Com base nesses
estudos, foi editado o Decreto nº 275, de 29 de outubro de 1991, que homologou
a TI Uru-Eu-Wau-Wau com uma área total de 1.867.117,80 hectares — mais do que o
dobro da extensão do antigo parque. A demarcação acabou sobrepondo parte de um
projeto de colonização denominado Gleba Novo Destino, no setor Novo Oriente,
município de Alta Floresta D’Oeste. Moradores locais alegam possuir títulos
expedidos pelo Incra na década de 1980, o que, segundo eles, comprovaria a
legalidade da posse. Contudo, documentos anexados ao processo indicam que o título
mais antigo data de 17 de maio de 1991, contemporâneo à criação oficial da
terra indígena.
MARCO
Laudos periciais
anexados aos autos apontam que os marcos físicos instalados na área coincidem
com as coordenadas descritas no Decreto nº 275/1991. A controvérsia gira em
torno do chamado “marco 26”, cuja localização, de acordo com os
assentados, não corresponderia à descrição física constante do decreto —
situada na margem direita do Igarapé Norte-Sul. Segundo os peritos, o marco
atual estaria deslocado cerca de 3,6 quilômetros em relação à referência
natural indicada originalmente, embora permaneça dentro da delimitação
geográfica oficial da TI.
MÉRITO
A definição final da
área, conforme entendimento técnico, decorre de estudos antropológicos
realizados pela Funai, órgão competente para conduzir o processo de demarcação.
Assim, a discussão sobre os limites da terra indígena permanece restrita ao
campo administrativo, cabendo ao Poder Judiciário apenas a análise da
legalidade dos atos, e não o mérito da delimitação territorial.
DESCASO
Ao longo de
sucessivos governos federais, a questão fundiária da região foi tratada com
descontinuidade administrativa e descaso técnico. Nenhuma gestão estabeleceu um
plano definitivo de regularização das áreas sobrepostas, permitindo que a
indefinição jurídica se prolongasse por décadas.
VÁCUO
A ausência de
coordenação entre Funai, Incra e Ibama contribuiu para um cenário de
insegurança fundiária tanto para os povos indígenas quanto para os assentados.
Enquanto um órgão emitia autorizações, outro as contestava, criando um vácuo
institucional que alimentou conflitos locais e judicializações infindáveis.
OMISSÃO
Além disso, a falta
de fiscalização efetiva abriu espaço para ocupações irregulares, exploração
ilegal de madeira e garimpo, práticas que fragilizam o meio ambiente e colocam
em risco comunidades tradicionais. A omissão do poder público, portanto, não
foi neutra — ela teve efeitos concretos sobre a floresta e sobre a vida das
pessoas que dela dependem.
EXPLORAÇÃO
A recente retomada do
debate sobre os limites da TI Uru-Eu-Wau-Wau ocorre em um ambiente politizado e
polarizado, onde a questão fundiária serve mais como palanque do que como pauta
de Estado. Parlamentares locais e lideranças partidárias têm explorado o tema
sob um viés ideológico, ora demonizando a Funai e os povos indígenas, ora
convertendo a pauta em bandeira de defesa ambiental, sem compromisso com a
solução prática dos impasses.
GUERRA
No lugar de uma
política pública consistente, o que se vê são discursos inflamados e
convenientes — pronunciamentos feitos sob medida para vídeos de redes sociais,
enquanto o problema real segue sem resposta. Essa apropriação política da
questão indígena transforma uma disputa técnica e histórica em instrumento de
propaganda eleitoral, perpetuando o impasse que o Estado, há mais de quarenta
anos, se recusa a resolver. Enquanto a solução não chega, índios e brancos
estão em pé de guerra. As instituições, responsáveis em resolver o imbróglio,
idem.
PIX
O Ministro Flávio Dino, do STF, intensifica o cerco contra os supostos desvios
na aplicação das emendas PIX – esse mecanismo criado pelo Congresso para
acelerar a liberação de recursos, mas que, convenhamos, é um verdadeiro
labirinto sem saída quando se trata de transferência e rastreabilidade. Ontem,
ordenou que os órgãos de controle realizassem um pente-fino em noventa e três
emendas sob suspeita de desvio. Curiosamente, muitas delas se localizam em
municípios da Região Norte. A pergunta que não quer calar: será que alguém vai
conseguir realmente rastrear esse dinheiro?
INCONSTITUCIONALIDADE
Não é surpresa para esta coluna a decretação de inconstitucionalidade da norma
absurdamente inventada pela Assembleia Legislativa de Rondônia, que concede ao
governador de plantão o direito de administrar fora do estado de forma remota.
Para refrescar a memória dos leitores, já havíamos antecipado que essa nova
invenção jurídica dos nossos parlamentares estaduais carecia de qualquer
respaldo constitucional. Aliás, o atual mandato do legislativo rondoniense se
especializou em editar leis, em sua maioria, flagrantemente inconstitucionais,
principalmente na esfera ambiental. É uma tragédia!
DEFINIÇÃO
Embora ainda não confirme publicamente, o senador Marcos Rogério deve ser o
candidato a governador pelo PL. A decisão não criará uma crise com o deputado
federal Fernando Máximo, que, aspirante à mesma vaga, deverá ser o candidato na
chapa ao Senado Federal. É uma configuração eleitoral competitiva, repleta de
nuances, que pode garantir uma das vagas para governador em um eventual segundo
turno.
LAVAJATISMO
O ex-senador Valdir Raupp, especulado como candidato à Câmara Federal, decidiu
se retirar das eleições de 2026. Em uma conversa regada a capuccino com este
cabeça chata em Brasília, confirmou sua desistência de concorrer a uma
promissora eleição a deputado federal por razões familiares. Quem perde com
isso é Rondônia, que deixa escapar um político de resultados e, ironicamente,
mais uma vítima do lavajatismo, tendo disputado a reeleição senatorial sob o
fogo cruzado de uma investigação que, seis anos depois, o declarou inocente.
Vítima da pirotecnia judicial, Raupp amargou em 2018 sua mais dura derrota. Uma
verdadeira tragédia grega!
MIGRAÇÃO
Quem ganha com a desistência de Valdir Raupp é o ex-senador Expedito Junior
(PSD), provável candidato a deputado federal. Ambos emergiram na política
através do eleitor da Região da Mata – que abrange os municípios de Rolim de
Moura, Alta Floresta, Parecis, Santa Luzia, São Filipe e Novo Horizonte. A
saída do ex-senador Raupp faz com que parte de seu eleitorado migre para o
ex-senador Junior. É a dança das cadeiras da política rondoniense, uma vez que
parte da atual bancada federal é de uma mediocridade abissal.
INVESTIMENTOS
Na semana passada
fizemos algumas observações críticas a empresa de energia, eis que nos chega ao
conhecimento um volume de investimentos em Rondônia, destinados a modernização
do sistema e a universalização do acesso que merecem um registro elogioso.
Desde que se instalou aqui, a Energisa vem realizando uma verdadeira
transformação no setor elétrico do estado. Ao longo deste tempo, investiu quase
cinco bilhões em obras, na expansão e na modernização da rede elétrica. Isto
por si só, por dever ofício, desfaz os comentários que a coluna teceu na semana
passada.
DESAFIO
André Theobald,
diretor-presidente da Energisa em Rondônia, lembra que a companhia está
estabelecida nos 52 municípios, atendendo de forma estável e correta milhares
de clientes. “A empresa reforça o compromisso com o estado e a confiança
no potencial de crescimento regional. Hoje, Rondônia tem uma rede mais moderna,
segura e pronta para o futuro”, comemora.
QUALIDADE
Os resultados já são
perceptíveis no dia a dia dos consumidores. Até setembro de 2025, a duração
média das interrupções (DEC) caiu 59%, e a frequência média (FEC) reduziu 71%
no mesmo período. Na prática, isso significa que os rondonienses ficaram mais
tempo com energia disponível e enfrentam menos quedas no serviço em comparação
a 2019, primeiro ano de atuação da empresa no estado. “Os números comprovam que
hoje temos um serviço muito mais estável. Esse é o resultado de investimentos
pesados em tecnologia, manutenção preventiva e treinamento das nossas equipes”,
assinalou Theobald.
DESAFIOS
Rondônia apresenta
características únicas e desafiadoras para a distribuição de energia. Cerca de
80% da rede elétrica está localizada em áreas rurais, muitas delas de difícil
acesso. São regiões onde as estradas são precárias, há áreas de mata fechada e
terrenos alagadiços, o que exige planejamento logístico rigoroso e
infraestrutura diferenciada.
FROTA
Para garantir a
agilidade no atendimento e enfrentar os desafios da geografia rondoniense, a
Energisa ampliou e modernizou sua frota operacional, que hoje conta com mais de
800 veículos. O conjunto inclui caminhões munck com cesto aéreo, tratores,
subestações móveis, barcos, UTVs (Defenders) e veículos de apoio equipados com
tecnologia embarcada. Esses equipamentos são essenciais para o trabalho em
áreas rurais e de difícil acesso, garantindo resposta rápida em situações
emergenciais e agilidade no estabelecimento da energia após eventos climáticos
severos. São ações destas que justificam o registro numa coluna que possui um
perfil critico e que merecem aplausos.
Terça-feira, 4 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)
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