Terça-feira, 20 de junho de 2023 - 13h04
Vinício Carrilho Martinez
(Dr.)
Cientista Social
Professor Associado IV da UFSCar
https://youtube.com/c/ACi%C3%AAnciadaCF88
O país convive com uma das mais baixas taxas
inflacionárias do mundo, o FED (Banco Central dos EUA) sinaliza ou rebaixa sua
taxa de juros, a recessão está em nossa porta, com quebradeira de empresas
(centenas) e ameaça real de desempregos. No entanto, o Banco Central (BC)
permanece com taxa Selic a 13.75% – e o que mais isso significa?
Significa, sistemicamente falando, que o “nosso” Banco
Central serve às casas e castas do setor financeiro, especialmente os Bancões
(balcões da miséria social) – que tomam dinheiro barato do povo e devolvem
muito caro ao mesmo povo de; porém, politicamente falando, também implica em
dizer que o Banco Central é o último bastião institucional, a última trincheira
estatal do bolsonarismo. Por sua vez, como representação social e política, o
bolsonarismo é a encarnação pós-moderna do Fascismo Nacional (MARTINEZ, 2022).
Da autocracia de classes à autocracia do BC
Não há exagero em dizermos que “nossa forma de governo” é
uma gororoba composta de autocracias (mais ou menos sutis), com base na
oclocracia[1] e na
plutocracia: sinônimo de aristocracia financeira e sem Ilustração nenhuma[2] que
foi gerindo-se até chegar a esta forma, nossa atualidade, de “parlamentarismo
de resultados”.
Sem esquecer dos lampejos democráticos, a Casa Grande
sempre evolui, manifesta-se, em cortes mais corteses, cortesãs, e não somente
fazendo uso de golpes tradicionais – este seria o movimento político da
autocracia de classe, da fração financeira do capital dominante e dos seus
Grupos de Poder Hegemônico. Daí o papel central jogado atualmente pelo Banco
Central, em desfavor do Brasil e muito favorável aos grupos instalados no
Centrão.
Ocorre, entretanto, que o capital hegemônico reúne tanto
“poder de Estado” que é capaz de, notoriamente, sistematicamente, descumprir a
Constituição Federal, afrontar ou travar as principais ações políticas e,
assim, negar provimento ao desenvolvimento social, como vemos na atualidade com
a “autonomia” do Banco Central se converter em autocracia descontrolada e
abusiva.
Nosso deslize ético e moral (aqui no sentido
privado e público) é tão marcante que textos, artigos, bulas de remédio,
manuais de uso, tutoriais, são lidos na contramão. No passado recente fez-se no
Supremo Tribunal Federal (STF) uma rota escapista sobre a prisão em segunda
instância (art. 5º, LVII)[3] – reformada depois pelo
mesmo tribunal ao praticamente decretar a ilegalidade da Operação Lava Jato –
e, hoje, simplesmente, não se lê e, portanto, não se obriga o Banco Central a
se adequar ao artigo 192 da Constituição Federal de 1988.
Ainda que tenha sido profundamente desmaltado em
emenda de 2003, restou-nos o caput: “Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade,
em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito,
será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a
participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram”
(grifo nosso).
Então, a quem serve a “autonomia” do Banco
Central, com taxa Selic a 13.75% e inflação perto dos 4%? Talvez ao sistema
financeiro ou a um projeto de desindustrialização do país – ou a ambos. Nas
considerações principiológicas do artigo 192, o sentido empunhado na própria
Carta Política (MARTINEZ, 2021) é o que deveria prevalecer, enquanto Objeto
Positivo da Constituição Federal de 1988:
O artigo 192 da CF88 é apenas um exemplo atual,
posto que sempre é bom lembrar de outra máxima, democrática e republicana, que
tanto deveria ser nossa guia hoje em dia, quanto serviria para impedir (ou
anular) o Golpe de Estado de 2016, e que diz assim: “autonomia, sem auditoria,
é autocracia” (MARTINEZ, 2019).
Foi assim que, de 2016 em diante, até fins de
2022, vimos formar-se um verdadeiro Cesarismo de Estado – em alusão ao
cesarismo parlamentar de Gramsci (2000) –, e que se converteria em
Necrofascismo (MARTINEZ, 2022). O Centrão já existia, foi a base do golpe de
2016, porém, em 2023, ganhou poderes extras (na eleição de 2022) a ponto de se
avolumar neste Frankenstein aqui apelidado de “parlamentarismo de resultados”:
nocivos resultados, é claro, ao povo, à dignidade humana, à República e à
democracia.
Apesar do Banco Central ser o bastião do capital
financeiro, desse pacote também decorre a formação de um supergoverno,
passando-se por Estado – inclusive constitucionalmente – subjugado a uma
aberração congressual, pelo viés do Centrão, que se impõe sob uma forma
perniciosa de “parlamentarismo de resultados”: pragmatismo político antirrepublicano,
antidemocrático, antipopular.
Como sabemos, bem acostumado ao chamado “orçamento
secreto” – destinação de recursos públicos sem auditoria alguma –, hoje, o
Centrão vive com pedidos de impeachment embaixo do braço.
Tal qual em 2016, em 2023, o impeachment é a senha do
golpe fascista.
Referências
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. (Org. Carlos Nelson Coutinho). v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
MARTINEZ, Vinício Carrilho. Teorias do Estado – Estado de não-Direito: quando há negação da Justiça Social, da democracia popular, dos direitos humanos. São Paulo : Scortecci, 2014.
MARTINEZ, Vinício Carrilho. Teorias do Estado – Ditadura Inconstitucional: golpe de Estado de 2016, forma-Estado, Tipologias do Estado de Exceção, nomologia da ditadura inconstitucional. Curitiba-PR : Editora CRV, 2019.
MARTINEZ, Vinício Carrilho. O Conceito de Carta Política na Constituição Federal de 1988: freios político-jurídicos ao Estado de não-Direito. Londrina: Thoth, 2021.
MARTINEZ, Vinício Carrilho. Necrofascismo: Fascismo Nacional, necropolítica, licantropia política, genocídio político. Curitiba: Brazil Publishing, 2022.
[1] Aqui, como acrônimo do governo dos piores – como dizia a
piada: “a 5ª série chegou ao poder”. Para uma conceituação mais tradicional de
formas de governo, há um livro/resumo do jurista italiano Norberto Bobbio
(1985).
[2] Sempre teremos de recordar o
período fascista, com lampejos de identificação nazista ou genocida,
especialmente em 2020, no auge da Pandemia. Por isso também falamos de
Necrofascismo ou acasalamento entre Pandemia e Pandemônio Político (MARTINEZ,
2022).
[3] “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória”.
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