Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025 - 09h10
Em primeiro lugar, é oportuno explicar que, por alucinação
capitalista entendemos a monetização das barbáries a partir das redes
antissociais: quanto maior a estultice maior a possibilidade de ser visto,
rentabilizado e, logo, de enriquecer.
Dito isso, vemos que os atuais Tempos Modernos
(diferentemente daqueles de Charles Chaplin) trazem o assombro dos “tempos
sombrios” – fundeados no nazifascismo da Segunda Guerra Mundial. O avanço da
extrema direita rumo ao poder, no Ocidente, é prova suficiente dessa combinação
desastrosa neste quartel do século XXI.
O
que há em comum com o lateralizado nazifascismo de meados do século XX,
permanente e vivo hoje em dia, são as forças, crenças, “mitos” e ações
propostas ou encaminhadas: o racismo, o elitismo supremacista, a misoginia, o
descarte da classe trabalhadora, a “eleição de inimigos” a serem destruídos
violentamente, são a força comprobatória dessa tese. O capitalismo de barbárie
se pronunciaria já naqueles idos.
No entanto, exatamente um efeito explosivo,
expansivo – destruidor em massa do meio ambiente –, conheceu seu apogeu. Nunca
o capitalismo conheceu tamanha barbárie contra as mínimas condições de vida
quanto agora. Some-se a isto o genocídio praticado pelo sionista Estado de
Israel, em Gaza. A perda de propósito da vida humana, com dignidade, ganhou
força e lastro.
No
plano econômico, a uberização da vida civil é a tônica (no Brasil é a quintessência
desde 2017 com Temer), e isto segue a esteira de rodagem da destruição da
classe trabalhadora, acarreta um incremento acintoso do rentismo e da miséria
humana e social.
A máquina capitalista de moer carne humana ainda
se rentabiliza pela propagação da “descrença na racionalidade”, como visto na
popularização (viralização) das coisas mais absurdas possíveis: quanto mais
irracional, mais as redes antissociais se encarregam de motivar e bonificar
seus “produtores de conteúdos”. Em que pese o máximo exagero em se atribuir às
bizarrices alguma condição de conteúdo (a exemplo de se associar vermífugo no
combate à COVID-19), esse efeito disruptivo da verdade, da realidade, distorcendo-se
ou eclipsando os fatos, guarda em si (no propósito) muitas semelhanças com o
Ministério da Propaganda Nazista (de Goebbels).
Se no nazifascismo o lema era (é) a “ação pela
ação” – o franquismo espanhol foi lendário nesta modalidade –, hoje, a métrica
poderia ser alternada para “views por views”, ou seja, o que importa (do
ponto de vista do narcisismo capitalista) é a metrificação de visualizações dos
tais “conteúdos” gerados: quanto mais expandir-se a dissolução da
racionalidade, mais as massas consomem. E isso enriquece tanto as “plataformas
de comunicação” (há comunicação?) quanto os indivíduos propagadores de Fake
News e de atrocidades desumanizadoras.
Então, quando crianças e jovens se apresentam
como “influenciadores” (coach mirim) o único propósito é enriquecer com a
monetização. E a primeira ou mais grandiosa pérola que se produziu diz assim:
“Estude para ficar pobre”[1]. Não
seria preciso dizer mais claramente, entretanto, reforce-se que o com coach
mirim almeja o descredenciamento da educação e o mergulho no enriquecimento com
zero perspectivas de emancipação[2].
Neste modelo de Capitalismo de dados[3] (Metafascismo[4]),
quanto mais se é visto maior a chance de enriquecer; lembrando a máxima das
antigas “falem mal, mas falem de mim”, o coach mirim ainda nos lembra que a
racionalidade, o Bom Senso, a prudência e a responsabilidade (pelos atos
presentes) tem um alto custo: muitas vezes custam o sossego, o emprego, a
estabilidade. E nos permite concluir que, sob essa regra do Capitalismo de
dados (que ainda será turbinado pela Inteligência Artificial[5]), a
consciência da emancipação é a vítima mais evidente. E que, sob a lógica
capitalista atual (muito diferente daquela de Chaplin), a falta de consciência,
o zero tirado na avaliação da inteligência social, são recursos inestimáveis –
afinal, quanto mais alienado (retirado da Cosmovisão intuída desde o
Iluminismo), maior a amplitude alcançada para fins de dominação econômica,
opressão política e exploração ilegal e ilegítima da atividade humana.
Não é por acaso que, no Brasil, convivem
placidamente as formas mais evoluídas do capitalismo de barbárie (rentismo e
monetização da alucinação capitalista) e as formas sociais mais aterrorizadoras
que nossa história produziu: racismo e exploração do trabalho análogo à
escravidão (uberização em tempo integral).
Em palavras finais, podemos dizer que a regra
hegemônica é fatal: “Enriquecer a qualquer custo”. Enriquece-se ao custo do
Esclarecimento (do Bom Senso) e da capacidade de humanização: o enriquecimento
individual é obtido às custas do embrutecimento e do enfraquecimento da própria
noção do que é Humanidade.
[1] https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2024/11/23/menores-desdenham-da-educacao-e-dizem-ganhar-mais-do-que-medico-vendendo-curso-para-ser-influencer.ghtml.
Acesso em 17/01/2024.
[2] Lembremos que, para os
mirins, inclusive a conta bancária é administrada pelos pais ou responsáveis.
[3] SHOSHANA, Zuboff. Big Other: capitalismo de vigilância e
perspectivas para uma civilização de informação. In: Tecnopolíticas
da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.
[4] https://www.gentedeopiniao.com.br/politica/vinicio-carrilho/metafascismo.
Acesso em 17/01/2024.
[5] Pode-se ter um uso
equilibrado e criativo: https://www.youtube.com/@MusicalizAI.
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