Sábado, 13 de maio de 2023 - 10h25
Desconfio
que, em março deste ano, recebi uma redação produzida por algum tipo de
inteligência artificial. Minha desconfiança se deve ao fato de apresentar muito
pouca inteligência social. Explico: era perfeita demais, mas sem nenhuma
singularidade, sem nenhum notável erro e acerto, ou seja, era desumana demais
em todos os sentidos, especialmente no sentido primordial, o de errarmos e
acertamos como seres humanos. É nítido, neste caso, que existam apenas “acertos
programados”.
Outro
aspecto que chama a atenção de qualquer leitor/a deriva do fato de ser,
perfeita em demasia, limpa, insípida, incolor. Ou seja, a singularidade é zero,
uma vez que somos sempre uma coleção de erros e de acertos – não importa quem
colecione mais, um ou outro ponto da aritmética humana.
Também me lembrou Benjamin e o
Daguerreótipo, o aparelho que “simulou” embrionariamente a fotografia – com ou
sem aura. No caso do aparelho também desconfio que havia alma, porque retinha
todas as intenções do inventor: até a retina de Dom Pedro II esteve por ali.
Em
síntese apressada, é o que a boa e clássica sociologia chama de subjetividade –
o que nos torna singulares, como seres únicos (independentemente de sermos
clonados) –, porque o que nos torna humanos é tudo o que vem depois da precisão
dos “códigos genéticos” ou robóticos. Isto é, somos uma coleção ambulante de
erros e de acertos: um tipo social composto por uma não-replicável “metamorfose
ambulante”, como queria Raul Seixas.
Outro motivo da minha desconfiança
remete ao ritmo da redação aspirante à perfeição inabalável: o Positivismo
reprodutivista. Esteve impressa o tempo todo sua aspiração, no sentido de
buscar uma fotografia exata, perfeita, imutável, do que se propôs a retratar –
para piorar, a tal redação imutável resumia alguns dos artigos desta pessoa que
lhes escreve. Então, eu sei o que escrevi. Porém, não tenho a menor ideia do
que a inteligência artificial e seu executor/a pensam a respeito do que “eles”
escreveram sobre mim. É uma decepção total para quem lê e para quem se atreve a
escrever com singularidade, como estou tentando fazer agora.
Minha breve conclusão ainda me leva a
pensar outros pontos: inventor e escritor andam lado a lado. Alguns inventam
engenhocas (tecnológicas ou sociais) e outros inventam significados e sentidos
para as palavras, isto é, revelam partes de sua subjetividade.
Desse
modo, nenhuma inteligência artificial ou Positivismo reprodutivista (que também
reputo meio desprovido de sinapse social) conseguirá replicar o que somos de
fato, em nossa essência humana (coleção de erros e de acertos). Exatamente
porque cada um/a de nós experimenta a cada nano segundo a mais profunda Ética:
“cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
A
aparente perfeição da redação é robótica, no pior sentido que podemos aplicar
ao Positivismo – pelo fato de ambos, positivismo e redação, serem ou plasmarem
a essência capitalista: só se percebe a ausência de provisionamento humano
(erros e acertos); reproduzem em massa a “perda da aura social”, com crescente
“perda de significado”, desmagificação (racionalidade abusiva, invasiva), posto
que apenas copiam, republicam sem aviso prévio, a própria essência capitalista
– a reprodução da base técnica que suga toda e qualquer subjetividade.
Para visualizar, por fim, o que a redação robótica pensa de
mim, assista uma única vez essa “dancinha do Tik Tok”, porque já será
suficiente para entender o que podemos chamar de Positivismo reprodutivista da
inteligência antissocial: a despersonalização, a incapacitação do inventor ou
do escritor. Nessa dancinha dos tempos modernos não há roteiro social. E também
por isso o Narrador irá morrer de novo – morre todos os dias, aliás, como a
biblioteca que queima com a morte programada de cada indígena.
Para quem se dá bem com “o fim da autoria”, por escassez
interna e/ou preguiça (copia e cola), temos aqui um ótimo tema de redação – bem
como sua segunda face: “reproduza artificialmente você mesmo”. Como disse, o
resultado é igual: a era da reprodutibilidade técnica sem nenhuma
singularidade, como potenciação positivista do “todo mundo é igual” e que faz
todo mundo desaparecer. Baudrillard, um autor extensivamente pós-moderno,
resumiria assim minha experiência após a redação robótica: “Onde havia o Outro,
adveio o mesmo”. É fato! Porém, é um fato sem a minha singularidade.
Definitivamente, a programação humana é muito mais complexa
do que caberia num algoritmo, nós temos muito mais metafísica do que qualquer
vã física social poderia sublimar. Mesmo em erros e em acertos, não somos seres
sociais binários, ligados ou desligados da condição humana.
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