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Senadora revela ter recebido várias ameaças em pouco mais de três anos de mandato


Desafio será governar Rondônia em meio a crise institucional

A senadora Fátima Cleide se apresenta ao eleitorado de Rondônia como candidata ao governo do jovem Estado (24 anos), que tem sido sacudido por escândalos de corrupção que atingem todas as instituições e poderes de Rondônia. A Operação Dominó da Polícia Federal levou à prisão os presidentes da Assembléia Legislativa e do Tribunal de Justiça, além de colocar sob suspeição o governador e 23 dos 24 deputados estaduais envolvidos em desvio de recursos públicos da ordem de R$ 70 milhões. Governar sob tais condições será um desafio que não assusta a petista.

Em entrevista ao Portal do PT, a senadora revela ter recebido várias ameaças em pouco mais de três anos de mandato, todas de conhecimento da Polícia Federal. Ela afirma não temer as ameaças a sua vida, embora haja precedentes de assassinatos de políticos no Estado, em pleno período eleitoral. Fátima tem se manifestado judicialmente e na tribuna contra a corrupção na política rondoniense.

Filha de mestre-de-obras e de uma vendedora de cosméticos, Fátima Cleide atribui sua eleição ao Senado ao carisma pessoal, à militância sindical e ao destaque obtido na direção do PT de Rondônia, por ela presidido duas vezes. Em 2002, ela obteve a maior votação para o Senado entre os 15 concorrentes de seu Estado, em razão do cansaço do eleitorado com os mesmos nomes e velhas práticas políticas.

Segundo ela, o desenvolvimento econômico e social do Estado tem sido tratado "no mínimo, com negligência" pelos sucessivos governos estaduais. A atenção ao desenvolvimento sustentável será a prioridade da petista, caso se torne a primeira mulher governadora de Rondônia.

Leia a íntegra da entrevista: 

A sra tem ainda quatro anos de mandato no Senado, está numa confortável posição política, mas se lançou à disputa pelo governo de um Estado sacudido por escândalos de corrupção. Por que a sra. deseja ser governadora? 

Este sem dúvida é um desejo pessoal, uma aspiração legítima, porque entendo que no Executivo posso fazer muito mais pela população do Estado onde nasci. Mas é, sobretudo, uma decisão política do partido. O PT de Rondônia decidiu lá atrás, na avaliação das eleições de 2004, que iria marcar presença na disputa deste ano. Meu nome foi lembrado, naturalmente, em função do exercício do mandato de senadora. Posteriormente tive a indicação aprovada por mais de cem delegados durante encontro estadual. Acredito que minha formação sindical, partidária e minha presença no Senado contribuíram para esta escolha.  

Como pretende, caso seja eleita, governar um Estado onde os poderes constituídos estão sob investigação da Polícia Federal? Como enfrentar a cultura predatória dos recursos naturais que predomina na região?

São desafios imensos, a responsabilidade é enorme, até porque não queremos fazer mais do mesmo. Queremos imprimir numa eventual gestão o desenvolvimento responsável nas diversas áreas porque nosso foco principal é melhorar a qualidade de vida das pessoas, é melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. Este desenvolvimento responsável significa, de imediato, planejamento. Rondônia tem uma economia diversificada, mas carente de organização, boa parte centrada na entrada de produtos industrializados. O Estado precisa de planejamento. Na economia, a agropecuária é uma atividade de peso, mas pode ter participação muito maior no PIB rondoniense, se organizarmos o setor para que melhore a sua produção e agregue valor aos produtos. Da mesma forma, é preciso fortalecer a  agricultura familiar,  que no nosso Estado tem destaque, uma vez que mais de 80% das propriedades são de pequenos e médios agricultores. E precisamos dar um basta à condição de meros fornecedores de matéria-prima. Precisamos dar um basta ao desperdício que vemos em nossas madeireiras e serrarias, por exemplo. O desenvolvimento tem sido tratado com negligência pelos sucessivos governos estaduais.  E o processo de industrialização não tem sido tratado de maneira a gerar emprego e renda de qualidade.  

A sra teme pelo futuro das relações institucionais entre os poderes? Sendo eleita, o que poderá fazer?  

Estamos cansados de saber que a corrupção é fator que inibe, corrói o progresso, o desenvolvimento humano, a qualidade de vida das pessoas. Rondônia está numa encruzilhada, em que, ou nós seguimos o caminho de depurar as instituições, punindo exemplarmente os que há muito tempo desviam dinheiro público, ou seguimos em frente sem que isso ocorra, hipótese inaceitável. Temos um governador com processo no STJ, acusado de grilar terra no Amazonas, de envolvimento no contrabando de diamantes, acusado por improbidade administrativa e a totalidade de deputados estaduais envolvidos no esquema desvendado pela Operação Dominó. Muitos com antecedentes criminais, com processo na Justiça, que simplesmente não vão pra frente. Existe investigação na área de livre comércio, sonegação forte de impostos. Então, a minha expectativa, e também a da população de Rondônia, é que as investigações prossigam, sejam concluídas. Confio no trabalho da Polícia Federal, que, no governo Lula, tem atuado como nunca antes se viu em todas as regiões do país. Se eu tiver a honra de governar Rondônia, vou certamente precisar muito do apoio das instituições federais para atuar no combate à corrupção. De minha parte, tudo farei para que os poderes tenham relações respeitosas, harmônicas, mas  independentes, como ordena nossa Constituição.  

Qual a prioridade do programa de governo de sua candidatura? 

O programa de governo tem merecido avaliações em plenárias, mas é uma obra aberta ainda, posta para discussão por parte da sociedade. Esta semana, vamos apresentá-lo na Universidade Federal de Rondônia. Ele foi construído em cinco eixos: Aspectos Institucionais; Desenvolvimento Socioeconômico; Infra-Estrutura; Políticas Públicas de Inclusão Social e Promoção e Reconhecimento da Diversidade e Respeito às Diferenças. Temos o objetivo central de melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado de Rondônia, que não é dos piores da região Norte, mas está aquém do que pode ser oferecido à população em função da potencialidade de nosso Estado. Os indicadores de longevidade, conhecimento e renda, critérios de avaliação para medir o IDH são básicos para a vida humana. Muitas outros são importantes, mas avaliamos que estes indicadores, ampliados e elevados, abrem caminho para muitas outras condições essenciais para o ser humano, como a liberdade individual.

Em 1990, em pleno processo eleitoral, o senador Olavo Pires foi assassinado em Rondônia. A sra. teme por sua integridade física, considerando suas manifestações contra a corrupção e os escândalos no Estado?

Cumpro um papel na vida pública. Tenho me manifestado judicialmente e no plenário sobre situações e ações inconcebíveis, praticadas por pessoas que ocupam cargos públicos. A omissão é pecado mortal na política. Fui ameaçada algumas vezes no período de pouco mais de três anos de mandato. A Polícia Federal tem conhecimento. Não é o tipo de coisa que você sai, por aí, falando. Tomo alguns cuidados, e sigo em frente. Estou na vida pública traçando um caminho que sempre percorri na vida pessoal, o da retidão de caráter, de defesa da ética, de valorização do ser humano, da educação e do meio ambiente. Quero contribuir para tornar Rondônia um lugar melhor. Isso na atual conjuntura é tarefa difícil, mas com o apoio já manifestado de setores da sociedade local é plenamente possível. Precisamos dar um basta na política truculenta praticada por pessoas que se acham acima do bem e do mal, que desrespeitam a legislação vigente e que afrontam inclusive entidades religiosas, como o ato praticado contra o bispo de Ji-Paraná, Dom Antonio Possamai, esta semana. 

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