Terça-feira, 30 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Política

Porto Velho está em busca de porto novo



Infraestrutura: Governo, empresas e hidrelétricas discutem alternativas até 2012, quando se prevê novo terminal

Josette Goulart (Jornal Valor)
 
Passados três anos desde que o governo federal anunciou que leiloaria as usinas hidrelétricas no Rio Madeira e quase um ano depois de as primeiras retroescavadeiras terem entrado em operação, Porto Velho ainda não está preparada estruturalmente para ter o parque industrial que está seguindo o rastro destas obras grandiosas. O entrave que no momento está em discussão é o porto da cidade que além de não ter capacidade suficiente para a nova realidade da região ainda provoca um forte efeito colateral sobre o trânsito da capital rondonense. Trânsito este que cresce desordenadamente desde que começaram a chegar os primeiros funcionários das construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht na cidade. Clique e veja vídeo no Opinião TV.

Há apenas um mês o problema do porto de Porto Velho chegou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O diretor de planejamento do órgão, Miguel de Souza, diz que é preciso encontrar uma alternativa ao novo porto, que na melhor das hipóteses só ficaria pronto em 2012. Prazo longo demais se levado em consideração que já no segundo semestre deste ano a Votorantim começa a produzir cimento em sua nova fábrica e vai receber 30% de sua matéria-prima pelo Rio Madeira. No próximo ano chegam as primeiras máquinas e equipamentos para a usina de Jirau, que, diferentemente da de Santo Antônio, vai usar o porto como base e depois fazer o transporte pela BR 364 até a Ilha do Padre, 100 quilômetros distante do centro de Porto Velho.

Essa urgência para uma solução, em função principalmente da usina de Jirau, fez com que o grupo de gerenciamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) encarregasse o DNIT de resolver a questão. O departamento realiza hoje uma reunião com representantes das indústrias, das usinas e dos governos estaduais e municipais, e ainda do Ministério dos Transportes, para tentar encontrar soluções possíveis para o atual porto de Porto Velho.

Uma delas, segundo Souza, seria a modernização com a compra de novos guindastes, novas rampas e melhoria dos equipamentos de descarga. O porto é estadual e Rondônia pede recursos ao governo federal para fazer essa obra. Como não há orçamento federal previsto, uma das ideias é realizar essas melhorias com investimento privado.

O diretor institucional da concessionária Energia Sustentável, José Lúcio de Arruda Gomes, diz que toda a logística para a obra de Jirau será feita por uma empresa especializada e que ficará responsável por estruturar um plano que inclui desde a necessidade do uso do porto até o reforço de pontes ao longo do caminho até a Ilha do Padre. O processo de contratação desta empresa de logística ainda está em fase de concorrência, mas Gomes diz que a concessionária teve que se antecipar e iniciar conversas com o governo federal já que no próximo ano terá que fazer uso do porto. Gomes lembra ainda que será preciso que o DNIT viabilize uma avenida de contorno para que os pesados equipamentos não tenham que passar pelo meio da cidade.

Esta é justamente uma das principais preocupações do prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT). Ele conta que o trânsito da capital já foi tão afetado pelo forte crescimento da cidade que está estudando a possibilidade de limitar o horário de circulação dos cerca de 1.100 carretas que todo dia levam a soja da Cargill e do grupo André Maggi, vinda do Mato Grosso, rumo ao porto, passando por duas importantes avenidas da cidade, Jorge Teixeira e Imigrantes. "Contratamos uma agência de trânsito para elaborar um plano viário para a cidade", conta Sobrinho. Mas a população já sofre com o trânsito local e os pedestres são os que mais sofrem, precisando correr para atravessar as ruas da cidade.

Ao número de caminhões das empresas de grãos que ajudam a afogar o trânsito, o diretor do DNIT, Miguel de Souza (Clique e veja vídeo no Opinião TV), estima que já no próximo semestre a Votorantim Cimentos acrescenta outros 200 ao fluxo diário da capital. A Votorantim estima que para transportar a matéria prima que chegará pelo porto serão adicionados dois caminhões por hora, o que considera movimento pouco representativo para o tráfego local. De qualquer forma, Souza diz que o fluxo não só vai aumentar o tráfego como estragar o pavimento. "Mas esse é o chamado colestorol bom", diz Souza.

Esta alusão é feita aos negócios que estão movimentando Porto Velho. A Alstom em parceria com a Bardella constrói uma fábrica de equipamentos para as usinas. A rede de supermercados Makro abriu uma unidade na região e o Carrefour também vai ter uma loja do Atacadão. A Votorantim Cimentos está investindo R$ 115 milhões em sua nova unidade na capital rondonense e que terá capacidade de produzir 750 mil toneladas de cimento por ano.

A empresa se instalou na região não só para atender a demanda das usinas mas também com o objetivo de usar a cidade como ponto de partida para abastecer a região Norte do país. Isso significa que se no curto prazo somente 30% da matéria-prima a ser usada em sua nova unidade chegará pela via fluvial, vinda de Belém, as autoridades locais entendem que no futuro o porto pode ser alternativa para levar cimento para outras cidades nortistas, principalmente Manaus que hoje está ligada à Porto Velho somente por via fluvial.

O próprio grupo André Maggi, que por meio da Hermasa administra o terminal graneleiro do porto, já se deparou com o problema do porto e tem um planejamento de longo prazo para a cidade. O presidente do grupo, Pedro Jacyr Bongiolo, diz que independentemente das obras das usinas hidrelétricas já planejava construir um novo terminal fora da capital, evitando assim as ruas da cidade.

A empresa começou a exportar soja usando o Rio Madeira em 1997 e no primeiro ano escoou 320 mil toneladas do produto. No ano passado, esse volume chegou 2,7 milhões de toneladas. A capacidade de escoamento do porto é de cinco milhões de toneladas. Mas o porto está chegando à sua capacidade máxima já que a Hermasa presta serviço para a Bunge. A capacidade do porto também está limitada pelo fato de hoje não ser possível exportar diferentes tipos de grãos, segundo informa Bongiolo. Mas apesar de o terreno já ter sido adquirido, o projeto está em andamento e em fase de negociação com o governo do estado.

Situação mais confortável vive a construtora Odebrecht, que é a empresa responsável pela engenharia, suprimento e construção da usina de Santo Antônio, pertencente à concessionária Santo Antônio Energia. O diretor responsável pela obra, José Bonifácio Júnior, diz que os equipamentos para a usina podem ser desembarcados diretamente no local da obra. Isso porque Santo Antônio fica a apenas sete quilômetros de Porto Velho, justamente no limite de navegação do Rio Madeira.

Era justamente Santo Antônio do Madeira, província de Mato Grosso, o local escolhido em meados do século XIX para a instalação de um porto fluvial que escoaria a borracha produzida na Bolívia, segundo a versão que está no site oficial da prefeitura de Porto Velho sobre a origem do nome da cidade. A preocupação surgiu justamente na época da construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Mas as dificuldades de se construir e operar um porto em frente aos rochedos da cachoeira de Santo Antônio fizeram com que os construtores mudassem de ideia e utilizassem um pequeno porto amazônico sete quilômetros abaixo, que ficou conhecido como porto velho dos militares. Diz-se que na época da Guerra do Paraguai um batalhão imperial se instalou na região, daí a razão do nome que depois foi agregado à cidade.

Em janeiro de 1873, o Imperador Pedro II assinou o Decreto-Lei nº 5.024, autorizando navios mercantes de todas as nações subirem o Rio Madeira. Em decorrência, foram construídas modernas facilidades de atracação em Santo Antônio, que passou a ser denominado "porto novo". O porto velho dos militares, entretanto, continuou a ser usado por sua maior segurança. Quase um século e meio depois dessa história que deu origem à cidade, Porto Velho vive novamente uma onda de investimentos e mais uma vez está em busca de um porto novo.

A repórter viajou a convite da concessionária Santo Antônio Energia

Gente de OpiniãoTerça-feira, 30 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Obras do Hospital Regional de Guajará-Mirim avançam para 44%

Obras do Hospital Regional de Guajará-Mirim avançam para 44%

As obras do Hospital Regional de Guajará-Mirim seguem avançadas. No último relatório emitido pela Escritório das Nações Unidas para Serviços de Proj

Alero forma comissão para concurso público

Alero forma comissão para concurso público

A Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) instituiu na última segunda-feira (29) a comissão preparatória do II Concurso Público da Casa de Leis.

Cristiane Lopes anuncia 180 milhões para iniciar a pavimentação da BR-319

Cristiane Lopes anuncia 180 milhões para iniciar a pavimentação da BR-319

A deputada federal Cristiane Lopes e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da BR-319 traz ótimas notícias sobre os progressos na reconstrução d

Em sessão solene, Deputado Ribeiro do Sinpol entrega Votos de Louvor a Policiais Civis Aposentados

Em sessão solene, Deputado Ribeiro do Sinpol entrega Votos de Louvor a Policiais Civis Aposentados

Em sessão solene realizada na manhã desta segunda-feira (29), a Assembleia Legislativa de Rondônia, através do 2º vice-presidente e deputado Ribeiro

Gente de Opinião Terça-feira, 30 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)