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Pimenteiras quer ser conhecida além da Amazônia Ocidental




Cidade com turismo ainda incipiente fica no encontro de dois biomas. Índios, seringueiros e bolivianos vivem na região.




JULIO OLIVAR 
Agência Amazônia 


PIMENTEIRAS DO OESTE, RO – Na fronteira do Brasil com a Bolívia, a 177 quilômetros de Vilhena, Pimenteiras do Oeste é uma das localidades mais antigas e a menos populosa de Rondônia. Com cerca de 2,5 mil habitantes e emancipada apenas há 14 anos, ela guarda uma série de curiosidades em sua formação histórica. Índios, bolivianos e seringueiros fazem parte do cenário desse município explorado muito aquém do seu imenso valor arqueológico e cultural.

Pimenteiras promove há dez anos o Festival de Praia, às margens do Rio Guaporé, uma festa que atrai milhares de pessoas e consta de apresentações musicais, área de camping e muita bebedeira. E se resume nisso a “agenda cultural” da cidade. Falta uma programação que valorize o ecoturismo e que seja capaz de seduzir visitantes o ano todo, em busca de gastronomia típica, artesanato, biodiversidade, religiosidade, além dos “causos” e lendas que poderiam incrementar o desenvolvimento econômico. 

Pimenteiras quer ser conhecida além da Amazônia Ocidental  - Gente de Opinião

Barco-hoteel já hospedou turistas estrangeiros / JULIO OLIVAR



Pantanal e Amazônia

A natureza majestosa – que inclui dois biomas, a Floresta Amazônia e o Pantanal – atrai visitantes, mas há outros, subvalorizados. É o exemplo da festa religiosa que marca a recepção dos fiéis católicos que seguem em batelões (tipo de embarcação) a centenária procissão fluvial do Divino Espírito Santo. Trata-se de uma tradição herdada dos afro-descendentes e portugueses, atualmente reunindo brasileiros e bolivianos. No entanto, é pouco divulgada.

A cidade reúne muitos pimentenses que sabem fazer trabalhos manuais e artesanatos com traços herdados das culturas indígena, cabocla e boliviana. Ainda não existe um local para uma exposição dos produtos. Um dos que se ressentem disso é a ex-pescadora Francisca Maria Serrat, uma negra filha de seringueiros que produz colchas de retalho, bonecos de pano e pinturas com traços afros ainda não conhecidos pela própria gente do lugar.

Moradora em Pimenteiras desde os anos 1980, a boliviana Glória Miranda também personifica um pouco da diversidade cultural. Além de pães e bolachas, ela fabrica a bebida mais tradicional do Vale: a chicha original, feita à base de milho fermentado, adquirindo teor alcoólico. Na versão de Glória, é um refresco nutritivo, sem álcool, apreciado até pelas crianças. 


Santo da casa não faz milagre
 

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Seu Renato, o dono do barco, prepara peixe. O pintado assado é um dos pratos mais requisitadis /JULIO OLIVAR

O empresário Renato Pereira é dono do Barco-Hotel Rei, pouco prestigiado dentro do estado, mas conhecido por turistas de diferentes regiões. “Recebo aqui gente vinda de vários lugares do Brasil e do mundo”, conta. Recentemente, um grupo de alemães se hospedou no barco, que fica ancorado em frente à Reserva Noel Kempff, na Bolívia.

O que atraiu o grupo europeu foi a grande diversidade de borboletas que ninguém das redondezas costuma notar. As vitórias-régias, tartarugas, pássaros e plantas, além dos passeios de voadeiras e a comida tradicional da região também chamaram atenção dos "gringos".

Às vezes, seu Renato vai pessoalmente para a cozinha para agradar aos turistas, preparando o delicioso peixe Pintado, assado envolvido em folha de bananeira. Outras especiarias do município são os doces de caju e de ovo de tracajá – este, muito prestigiado pelos ribeirinhos. 


Pesca

Afora o barco-hotel – possui quatro camarotes com ar-condicionado –, Pimenteiras tem outros dois hotéis e um restaurante, todos muito simples. A economia gira em torno da pesca, que aos poucos vem sendo substituída pela agricultura familiar.

O turismo ainda é incipiente e amador. Começou a surgir em meados da década de 1980, depois de uma matéria na TV Globo tratando da vastidão e da beleza do Rio Guaporé, atraindo pescadores de ocasião de todo o Brasil.

A atividade predatória e a falta de repovoação do rio acabaram trazendo danos ambientais e prejudicando os pescadores artesanais. Hoje, o que se busca é um turismo que possa “deixar as coisas em seus lugares”, comenta Renato. 


Cheia de graça e de histórias
 

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Procissão do Divino Espírito Santo: uma festa cristã centenária /JULIO OLIVAR
PIMENTEIRAS DO OESTE – As belezas naturais e o caráter cosmopolita de Pimenteiras somam-se às suas riquezas arqueológicas e históricas. Para se ter idéia da antiguidade dos registros, há um de 1750, dando conta que o capitão Antônio Rolim de Moura armou acampamento às margens do Guaporé durante uma viagem que ele fazia de Vila Bela da Santíssima Trindade, então capital de Mato Grosso ao Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques.

Em frente à Igreja Matriz está afixada uma cruz de bronze com escritos em alemão, datados de 1907. O artefato foi retirado da mata sob a cova de um certo Jasper von Oertzen, que seria um missionário evangélico morto aos 32 anos. Nota-se que o local já era conhecido como “Pimenteira” (assim mesmo, no singular). Ninguém sabe ao certo a origem da denominação.

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No cemitério antigo e abandonado foram sepultados corpos de garimpeiros, mateiros e antigos moradores /JULIO OLIVAR

ambém existem muitos resquícios dos índios Pau Cerne. Moradores encontraram vasos, urnas e outros utensílios inteiros feitos em barro. Nas proximidades do seu barco-hotel, dentro da Área de Preservação Ambiental Tamanduá, existe um cemitério abandonado. No local, foram enterrados os corpos de dezenas de aventureiros e garimpeiros.

Achar pessoas nascidas em Rondônia que tenham mais de 60 anos é uma raridade. Mas em Pimenteiras existem, relativamente, muitos deles, havendo a predominância de três genealogias: Brito, Nery e Leite Ribeiro. (J.O.) 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agência Amazônia  é parceira do Gentedeopinião

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