Nova Rondônia de Confúcio não tem imagem definida

 

Não há a menor dúvida que o governador Confúcio Moura foi eleito como uma promessa de melhores dias, de esperança e até mesmo de uma forma diferente de governar, na medida em que havia um cansaço com o estilo “deixa que eu chuto” de Ivo Cassol, um pouco amenizado com a assunção de Cahulla ao governo, mas, impeditivo de que as demandas da sociedade fossem atendidas e de que houvesse uma maior amplitude de idéias e projeção de futuro. Para Cassol a administração dos recursos e os investimentos em infraestrutura sempre constituíram a forma certa de governar independente dos reclamos externos tidos como lamentos da oposição na medida em que nas eleições que disputou massacrou seus adversários, embora somente ele, pois, incapaz de eleger, por exemplo, seus candidatos a prefeito da capital. Confúcio acenou com uma nova maneira de governar mais aberta, mais democrática, menos impositiva e, com um discurso tranqüilo, numa campanha que teve que aparar golpes abaixo da cintura chegou lá. Passados pouco mais de quarenta dias de governo o que se pode dizer de sua administração? É o que vamos analisar.
 

Governar democraticamente é mais difícil

Pouco mais de um mês de governo é, de fato, um tempo muito curto para uma avaliação dos rumos de sua gestão. Um padrão utilizado internacionalmente para uma maior avaliação são os primeiros cem dias de um governo, mas, isto não nos impede, na medida do possível, de avaliarmos algumas medidas, gestos e atitudes, que indicam opções, escolhas que já sinalizaram os caminhos do atual governo. Uma das primeiras destas marcas foi dada logo pela forma como Confúcio escolheu seu relacionamento com a imprensa e com o público: seu blog. Um blog, por melhor que seja utilizado, é uma espécie de diário ou de impressões pessoais sobre qualquer assunto. É, sem dúvida, uma ótima forma de expressar opiniões e idéias, mas, convenhamos, ao utilizar seu blog como uma espécie de diário oficial paralelo o governador não somente foge da liturgia do cargo como mistura o público e o privado. Isto, que não deixa de ser criativo e ousado, também é uma fonte de problemas. Como, ao contrário de Cassol, que estabeleceu logo um relacionamento rígido com os meios de comunicação, até agora não existe clareza neste tipo de relacionamento tudo que o governador escreve pode ser comparado (e cobrado) em relação ao que faz. E, convenhamos, escrever é bem mais fácil do que fazer, logo, escrever sobre o que se pensa ou o que se vai fazer é criar problemas para si próprio. Também suas colocações, em certos casos, são inadequadas. Não é o caso de criticá-lo. Todo mundo tem opiniões nem sempre bem balizadas, principalmente, quando precisa abordar temas multifacetados e complexos como os que envolvem um governo. É natural que, ao discorrer sobre os problemas, acabe destilando algumas idéias pouco ortodoxas ou até mesmo erradas ou óbvias. Se fosse um Zé da Silva qualquer não teria a menor importância, mas, um governador de Estado, em especial na cabeça das pessoas, tem que ter noção do que escreve ou o que diz. Também não ajuda nada afirmar que irá demitir pelo blog ou estar disponível para todos. Tudo bem que o governador, ele mesmo admite, não tenha tido uma educação refinada que o instruiu sobre etiqueta, porém, a administração pública, e o nomear e o demitir, tem suas nuances. Assim, está sendo vítima de suas próprias opiniões ao ser cobrado, por exemplo, por não saber que assessores seus tem problemas legais e até morais. Ora, se um governador fosse cuidar de verificar pessoalmente, checar seus auxiliares, não cuidaria das prioridades do Estado. Assim este não é o seu problema. O seu problema é que, como governante, por seu cargo, deveria ser mais comedido em seus posts, aliás, já completou o milésimo e buscar, se preservar de espalhar suas ideias aos quatro ventos. Como tem se revelado um homem aberto, democrático, como governante tem que ter a visão que será muito mais cobrado e tudo que disser sem respaldo de obras ou que os fatos venham se chocar com as palavras lhe será cobrado. A experiência mostra que governar democraticamente é mais proveitoso, mas, também mais difícil. Por que tornar, ainda mais escrevendo ou falando muito? Às vezes, é melhor menos posts e mais ação silenciosa. É bem melhor também se escrever sobre o que se faz.
 

Acertos e erros

Confúcio Moura teve muito acertos no começo de seu governo. No seu discurso de posse acenou com um governo de participação, de inovação e de criatividade estabelecendo as bases do que denominou de “Nova Rondônia”. Também foi feliz em começar afirmando que irá terminar as obras já iniciadas com poucas modificações e plantando mogno em frente as repartições públicas numa mensagem simples, mas, eficaz de que pretende produzir com respeito ao meio ambiente. No discurso e nas suas ações pessoais, inclusive se defendendo de insinuações sobre o aumento de seu patrimônio, foi perfeito. Os erros começaram quando, premido pela necessidade de compor seu quadro de auxiliares, começou a falar muito e ouvir pouco. Para se livrar de algumas indicações naturais e incômodas alegou a questão de que só teria auxiliares “Ficha Limpa”. Bem, não é preciso comentar este aspecto. Por outro lado, poucos foram os que influíram, de fato, na escalação do seu secretariado e auxiliares ainda que ele mesmo tenha avisado que ninguém é permanente, alguns podem estar apenas fazendo “estágio” nos postos. O fato é que sua base política, quem ajudou a eleger, ficou relegado a segundo plano, embora, formalmente, os partidos tenham sido contemplados o foram de acordo com as conveniências do governador (ou de um suposto núcleo duro de governo). Também, via blog, avisou que não entregaria as secretarias a nenhum partido de “porteira fechada” e, assim o fez, nomeou secretario, adjuntos e chefes com partidos e posições diferentes o que não é uma boa receita comprovadamente. O fato é que nem os deputados nem os partidos se sentem representados, com raras exceções, pelos que foram nomeados. A resposta não tardou a vir com a eleição da nova Mesa Diretora da Assembléia quando o deputado Valter Araújo, habilmente, navegou nos erros e na demora em agir do governo. Ainda teve lucro porque alguns deputados da base, como Hermínio Coelho, Epifânia, Saulo e Jean, tiveram a antevisão do que viria e trataram de se garantir na Mesa. Assim, no fundo, o estrago não foi tão grande.
 

Um governo voltado para o amanhã

Ocorre que, por detrás de tais ações, há um esquema mental, um arsenal de conceitos, até mesmo de experiência passada que pode ter até dado certo na gestão municipal de Confúcio, mas, é preocupante no governo estadual. Em especial o que se nota é a falta de um administrador forte no governo. É claro que um governador com o estilo de Confúcio, que é um negociador, um político criativo e até mesmo ousado na sua mansidão, não irá tocar a máquina pública. É preciso que alguém comande, efetivamente, o governo na administração do dia à dia e este não é o estilo do governador. Ele já demonstrou que não teme decidir. Basta ver a coragem que teve de escancarar nacionalmente o problema da saúde e a rapidez com que trata de temas que outros ficariam com um pé atrás. Hoje, decididamente, é o governador dos sonhos do setor privado, das classes produtivas, que somente tem elogios para sua atuação porque entende, e prestigia o setor, como base do desenvolvimento do Estado. Suas ações e promessas de mudanças na área tem sido aplaudidas e elogiadas e demonstra, como o presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de Rondônia-SIMPI/RO, Leonardo Sobral, afirma “Uma visão clara de que fortalecer os micros e pequenos é o caminho real para o desenvolvimento. Até agora tem sido assim: o governo alterna acertos e erros sem fixar uma imagem embora ainda tem uma credibilidade muito grande junto à população. O temor é o de que enverede por um caminho tortuoso como o das administrações de Jerônimo Santana e de Valdir Raupp. E as razões para isto estão no discurso vazio de que a administração passada deixou R$ 170 milhões de restos a pagar. Este é o tipo de desculpa que sempre induz a erros e acomodação. Quem se lança numa campanha a governador e se diz preparado para governar não pode depois ficar alegando uma “herança maldita”. Ora, se a população achasse que tudo estava bem não o teria eleito e o elegeu, justamente, para resolver os problemas e não para ficar se lamentando. O governo Confúcio Moura está apenas começando, e que não torna possível que se possa ter maiores conclusões, uma avaliação do conjunto da obra somente poderá ser feita mesmo no futuro. Porém, hoje, os sinais que emitem são contraditórios ainda que, na soma de erros e acertos, ainda seja um governo que desperta esperanças de que as coisas podem mudar para melhor, principalmente, por ser um governo que tenta planejar e pensar no amanhã.

Fonte: Jornal Alto Madeira