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MANIFESTO DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL RIO MADEIRA


 
“A paciência do povo é o alimento do tirano” (Marchi).

A Associação Cultural Rio Madeira – Pesquisa e Documentação, com o propósito de denunciar o que considera agressão ao patrimônio histórico-cultural de nossa Cidade, vem a público manifestar-se contra ato do Prefeito da Capital, pelo fato de ter autorizado a derrubar o que havia sobrado do antigo prédio do Mercado Central de Porto Velho, o que faz nos termos a seguir:

Toda e qualquer ação praticada contra a história construída pelo povo será sempre uma ação covarde e desmiolada, mormente quando desrespeita valores que estão associados à sua identidade.

Neste sentido, a ação praticada pelo Prefeito do Município contra o que ainda restava do prédio do antigo Mercado Central de Porto Velho, constitui-se em ato de desrespeito à História do povo de Rondônia, que tinha e tem o prédio que abrigava o referido mercado com um dos elos de ligação à sua história mais remota.

Ao agir da maneira como agiu, o Prefeito revela insensibilidade, projeta a faceta do colonizador ingênuo e descompromissado com os valores culturais do município que governa, sobremaneira no aspecto histórico-paisagístico.

O patrimônio que o Prefeito ajudou a derrubar teve sua construção iniciada no ano de 1915, na gestão do Major Guapindaia Brejense, e veio a ser inaugurado no ano de 1950, pelo doutor Ruy Brasil Catanhede, sendo, portanto, um prédio histórico.

Durante edificado, o mencionado prédio realmente marcou a parte central da cidade de Porto Velho, estando, devido a tais componentes, intimamente ligado à dignidade cultural do povo de Rondônia, motivo para não merecer que sobre ele viesse a recair ato tão bárbaro, sobretudo às soturnas horas da noite, como veio a acontecer, quando a própria cidade ainda dormia. 

Diante da atitude tomada pelo Prefeito da Capital, atentatória a essa dignidade, fica claro com o sol que a atual Administração Pública Municipal não tem uma política sensata, ética e compromissada com os valores culturais da cidade de Porto Velho, devendo por isso merecer de todos severa e contundente crítica.

O fato de construir novo prédio, mesmo que ele venha a se apresentar com as características do antigo, tal como assim tem sido alardeado pela Administração do Município, jamais será bastante para aplacar a dor dos filhos desta terra, diante do desleal e traiçoeiro ato ali praticado, como se já não bastasse o sofrimento que eles têm experimentado desde o nebuloso incêndio de 1966.

Aliás, o prédio em andamento tem tudo para não guardar rigorosamente os mesmos detalhes estéticos daquele que foi ao chão, eis que idealizado, pelo que se tem notícia, apenas à base de fotografias, isso porque a nova proposta prescindiu tanto da planta baixa quanto do projeto arquitetônico relativos ao prédio antigo, cuidado que não foi levado em conta quando sem dúvida necessário, tudo para no mínimo haver fidelidade entre um e outro projeto.

Os meios e os recursos disponíveis no campo da engenharia também desmentem categoricamente os que acham e continuam achando não ser possível conciliar a construção antiga que ali existia com o projeto concebido pelos técnicos da prefeitura de Porto Velho, constatação bastante que só vem reforçar a compreensão de que o atual prefeito fez pouco caso à conservação do referido patrimônio, tanto que em nenhum momento demonstrou qualquer preocupação no sentido de preservar o que ainda dele restava, preferindo, em vez disso, o ruído dos escombros.

Essa pequena particularidade, a de preservar aquilo que ainda dele restava, embora possa parecer ingênua, para os filhos da terra (caboclos do Madeira), tinha e tem importância em função do que isso para eles representava a representa.

Nessa linha, necessário dar um basta à descompromissada e sistemática conduta do Prefeito em relação ao patrimônio paisagístico, histórico e cultural da cidade de Porto Velho, pelo fato de tal conduta representar verdadeira ameaça aos valores da terra.

Não é por outro motivo que o abandonado prédio que abrigou a Câmara de Vereadores, aquele da ladeira da Prefeitura, o Cemitério da Candelária, o parque da EFMM; o Obelisco, a Igrejinha e o Casarão de Santo Antônio passam a reclamar da Administração do Prefeito Roberto Sobrinho outro tratamento, exigindo dele ética e responsabilidade, sem esquecer de que deve fixar os olhos na História, doravante, sempre que se voltar aos prédios e monumentos citados.

Nesse contexto, a população de Porto Velho precisa ficar em permanente estado de alerta para as futuras decisões do alcaide da Capital, especialmente às que venham a se relacionar aos últimos imóveis citados, isso porque restou patente a possibilidade de também serem atingidos pelo espírito atentatório aqui denunciado, postura que precisa ser imediatamente rebatida, eficaz e mais contundentemente.

Não tem este manifesto o intuito de fazer campanha eleitoral contra os anseios políticos do senhor prefeito de Porto Velho e de seu partido. Nossa manifestação é apenas cidadânica, não tem fins eleitorais. 

As opiniões contrárias às posições centrais do presente manifesto, em que pese o inevitável desconforto, merecem por amor à prática democrática todo respeito, mas a livre manifestação do pensamento, sempre que se voltar à história de Rondônia, também não pode prescindir do mesmo acatamento às raízes e ao passado que os filhos desta terra a ela tributam.

Pela relevância da questão, conclamam-se o Ministério Público (estadual e federal), o IPHAN, o CREA, a OAB, os Senadores, os Deputados (estaduais e federais), os Vereadores e o povo em geral, para que comunguem da mesma preocupação da ACRM, até para evitar que outros danos de igual proporção venham a acontecer, preocupação necessária e sem qual o patrimônio histórico, paisagístico e cultural da sofrida Porto Velho ver-se-á sempre a mercê de atos insensíveis, a exemplo do denunciado, ato esse infelizmente protagonizado, no mês de fevereiro próximo passado, por ordem e graça do Prefeito da Capital. 

Porto Velho, 16 de março de 2008.

José Maria Ortiz de Carvalho
Presidente da ACRM


Antônio Serpa do Amaral Filho
Diretor de Comunicação 

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