Quarta-feira, 15 de abril de 2009 - 13h35
Em entrevista a redação e ao jornalista Eduardo Rocco o diretor geral do Alto Madeira fala um pouco de sua historia e do jornal. Euro Tourinho, com 87 anos, o jornalista mais antigo de Rondônia e do Norte do país, nascido 17 de janeiro de 1922, em Corumbá, Mato Grosso. Com seis anos veio com a família para Santa Fé, no Vale do Guaporé, quando era território ainda do Mato Grosso. O pai Homero Castro Tourinho era agente fiscal. A mãe de Euro; Eulália Malheiros Tourinho tinha ainda três filhos: Neuza Malheiros Tourinho, Luis Malheiros Tourinho e Manuel Malheiros Tourinho. É casado com Maria Kang Tourinho, e tiveram nove filhos.
A História de Euro Tourinho se confunde com a do Jornal Alto Madeira. Antes de ser dono do Jornal mais antigo de Rondônia, começou como um colaborador. Escreveu crônicas, no inicio, mas, a vida cotidiana do matutino acabou se tornando um vício, que mantém até hoje com dignidade e muita paixão.
Como começou a História do Jornal Alto Madeira, seu Euro?
Euro Tourinho: Bom, vamos falar da História oficial: O Jornal Alto Madeira, foi fundado pelo médico Joaquim Augusto Tanajura, em 1917, que foi o primeiro prefeito de Porto Velho, era o intendente, na verdade. Era um manauara, que tinha interesse político, mas não sei até onde tinha veia jornalística.
E como foi isto?
Euro Tourinho: Tanajura foi a Manaus e comprou as primeiras máquinas e as primeiras caixas de Tipo. - Não era nem Lino Tipo, coisa moderna na época. Naquele tempo era complicado, a pessoa tinha que ser bom mesmo para mexer naquela parafernália. Eles tinham que ser melhor do que os que escrevem a máquina datilográfica ou no computador. Para se ter uma idéia as páginas do jornal eram montadas no componedor. Cada página do jornal era feita linha por linha, letra a letra, vírgula a vírgula. Tudo era colocado sistemática e manualmente.
E até quando durou a era de Tanajura à frente do AM?
Euro Tourinho: Quando o Médico Tanajura morreu, a mulher não quis tocar o jornal. Deste jeito foi vendido para Inácio Castro que era um funcionário de alto escalão da Ferrovia Madeira Mamoré. Ele era ferroviário e pertencia na época a uma casta importante na cidade. Depois quando foi criado o Território ficou duas castas, a dos ferroviários e a dos funcionários do Ex-território. Porto Velho nessa época não tinha mais que 10 mil habitantes.
E qual era a situação do Jornal em seu começo?
Euro Tourinho: O Jornal Alto Madeira circulava com 500 exemplares. Quem supervisionava o jornal na área era um cidadão chamado Epaminondas Correia Baraúna. Ele tinha escritório em Manaus, e bases em Porto Velho e Rio Branco no Acre.
E como o senhor entrou na vida jornalística?
Euro Tourinho: Era dono de um salão de sinuca e bilhar, na Rua Barão do Rio Branco, e era muito bem freqüentado. Quando tinha folga do salão ia para a redação do Jornal Alto Madeira onde se reuniam vários intelectuais da nossa região. Depois fui convidado a escrever como colaborador. Mas não achava que tinha veia de jornalista. Mas houve tanta insistência que comecei a fazer isso, e depois, não consegui parar. Acabei gostando da coisa.
Nessa época o AM passaria a ser dos Diários Associados do empresário Assis Chateaubriand?
Euro Tourinho: Inácio Castro recebeu então a Caravana Beirões do Mato Grosso criada por Assis Chateaubriand. Composta com 18 empresários do sul, com criadores e industriais. Nessa viagem acho que ele ficou entusiasmado com a região. E ele tinha a idéia de ter um Jornal em cada capital do país. Apesar, de Porto Velho ainda não ser o que é hoje, era uma cidade pólo naquela época.
Mas a história foi mais ou menos assim: Aluízio Ferreira que era o manda chuva da região, pleiteou com Getúlio Vargas para que se criasse o Território do Guaporé. Ele também foi quem teve a idéia de ter um jornal aqui. Em cada capital do país, e logo um aqui. Chamou o Inácio Castro dono do jornal, mas subordinado a Aluízio Ferreira, cedeu o jornal, e aos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
O senhor era contra o regime de Aluízio Ferreira um dos poderosos que comandavam a região?
Euro Tourinho: Eu não simpatizava com ele. Ele sempre tentou estender seus tentáculos para dominar o Jornal. Ele chegou a negociar na época as costas do superintendente do AM, o Baraúna com escritório em Manaus. Quando soube do esquema, denunciei ao superintendente, porque me preocupava com a perda de identidade do jornal que tinha perfil completamente independente. Era ainda somente um colaborador, mas achava que era parte do Jornal.
E como convenceu Baraúna?
Euro Tourinho: Resolvi falar... Disse que estavam negociando pelas costas dele. Contei que Arnaldo estava negociando o Jornal para um grupo político. Disse que o AM se tornaria um órgão político, não independente como era a linha editorial do jornal.
Fiquei estarrecido quando soube que eles queriam o controle do Alto Madeira. Tentei evitar, e no final conseguimos. Se deixássemos iriam transformar o Jornal numa arma política, contra a finalidade da linha editorial do matutino, que era, exclusivamente, independente. Quando o Baraúna soube disse; "mas como se sou eu o superintendente. Vamos resolver, isso quando for ai".Era a resposta que queria ouvir. Fiquei mais tranqüilo.
E como foi a conversa com Baraúna aqui em Porto Velho?
Euro Tourinho: Olha foi boa, porque a partir dessa conversa foi que assumi o Jornal como diretor. Baraúna chegou e falou comigo: Porque fez essa denuncia? Me perguntou, e eu disse: não fui nem comunicado, já que vivo aqui dentro e colaboro sempre com o jornal das mudanças que eles queriam patrocinar, achei que não era justo.
Depois ele me perguntou em seguida se poderia ser diretor do Jornal, e então eu disse que topava contanto que o diário não passasse para as mãos dos aluisistas, meus desafetos da época. "Eu topo só para não passar para os aluisistas", disse, e ficou fechado.
Como se deram as negociacoes para que o Jornal Alto Madeira viesse parar nas mãos da Família Tourinho?
Euro Tourinho: Passou um tempo, e já estávamos nos preparando para a compra. Eu e Luis, meu irmão, sempre comentávamos que tínhamos que estar preparados para o momento de comprar o jornal. Isso se deu, logo após a morte de Chateaubriand, quando o Grupo resolveu se desfazer de alguns bens, sobretudo os jornais e algumas rádios.
Antes disso, eu e o Luis Tourinho já tínhamos acertado antes com eles. Luis viajou ao Rio de Janeiro, e falou com os representantes donos do AM, e disse que queria caso eles, aceitassem a preferência na hora de vender, para obter o meio de comunicação. Foi uma forma de provocar a venda do matutino, muito acertada. Eu e o mano provocamos que eles vendessem o jornal para a gente.
Nessa época os negócios da Família Tourinho iam muito bem?
Euro Tourinho: O negocio forte de Luis Tourinho era a venda de seguros. Era representante exclusivo dos seguros da Atlântida aqui no Norte. Éramos a potencia maior na região. Logos compramos os jornais daqui em Porto Velho e Rio Branco no Acre de uma vez só.
Como o senhor explica o momento de dificuldade que passa os empreendimentos da Família Tourinho?
Euro Tourinho: Tudo tem seu auge e sua decadência. Quantas empresas bilionárias, mais de duzentas, tiveram seu auge e logo decaíram e fecharam. Nós estamos com 92 anos. Estamos bem demais. O pessoal se escandaliza porque dizem que o Jornal Alto Madeira está mal financeiramente.
Mas isso é assim mesmo. Quantas empresas hoje em dia podem dizer que estão sobrevivendo por mais de 90 anos? É muito difícil, a média agora de vida das empresas é 40 anos. As empresas pequenas nem se fala, elas duram em média até dois anos e logo declaram falência.
Estamos entre os 15 Jornais mais antigos do Brasil. Estamos bem demais. No nosso auge nos chegamos a circular em Brasília com mais de duzentos exemplares. Circulávamos no interior. Mas logo teve a queda. A queda financeira do Grupo. Não deveria ter acontecido, mas ocorreu, infelizmente. É uma pena. Não era para ter acontecido isso.
Mudando de assunto, seu Euro, o que o senhor tem a dizer sobre os jornalistas que viveram parte de suas carreiras na redação do Jornal Alto Madeira?
Euro Tourinho: Se você fechar o olho, e pensar nos jornalistas; a maioria passou pelo Jornal Alto Madeira. Muitos devem imensos favores, inclusive, da intelectualidade, do aprendizado. Tem gente aqui que estudou em faculdade patrocinada pelo Jornal Alto Madeira.
Desses, quem o senhor lembra com mais carinho?
Euro Tourinho: Queria destacar quem me substituía, era o Petrônio de Almeida Gonçalves. Era muito entrosado com ele. Nunca acontecia nenhum problema quando trabalhávamos juntos. Não é como hoje, que você vira as costas e acontecem os erros, ou as coisas não saem como a gente deseja.
E como era a linha editorial do AM?
Euro Tourinho: na Linha editorial a base é a verdade nos comentários dos fatos. A independência, sobretudo. Trabalhar em beneficio do Estado, não barganhar em questões políticas. Mas até algumas vezes nos vemos obrigados a ceder. E desviar um pouco dessa diretriz. As coisas ficam tão difíceis que você acaba tolerando e até omitindo algumas verdades. Mas sempre quero acreditar que a verdade tem que ser exposta doa a quem doer.
E como deveria ser o jornalismo?
Euro Tourinho: desejo um jornalismo que se fundamente sempre na prova documental, coisa difícil onde hoje prima muito a especulação o implante das matérias.
O jornalismo tem que ter limites?
Euro Tourinho: Sim há limites. Devemos saber do poder que se tem quando se é jornalista e souber mensurar as palavras. Acho que as instituições são sagradas, por exemplo.
Como assim?
Euro Tourinho: É o seguinte tem instituições que são sagradas. Recomendo não criticar as instituições porque elas foram feitas com bons propósitos. - Eu sempre busco preservar as instituições. Porque se há falhas, elas estão nos que a compõe, e não na entidade propriamente dita. A gente não deve ser covarde, mas as instituições estão acima dos homens e temos que pensar duas vezes antes de criticar, ou de escrever alguma matéria contra elas.
O senhor poderia mencionar algumas instituições que deveriam ser preservadas sempre que possível?
Euro Tourinho: Bom, a Igreja, por exemplo, nem se fala. Outra recomendação velada e para aqueles que criticam muito a Policia Militar. Vou contar um caso: certa vez vinha de uma festa de madrugada, e parei meu carro para verificar uma cena. Estava acompanhado de minha esposa e ela não queria que eu descesse, mas insisti. Eram uns policiais da Civil que haviam capturado um cara estuprando uma moça, e estavam dando um corretivo naquele bandido.
Os policiais me viram e ficaram assustados, porque me reconheceram como jornalista. Tentaram se explicar. Mas depois que soube do acontecido, voltei atrás e disse para os agentes: Podem continuar com o samba. Façam de conta que nem me viram... e fui embora.
Cinco dias depois fui intimado como testemunha e compareci para falar com o delegado sobre esse incidente. O senhor assistiu a policia bater no meliante. Ai disse que só falaria sobre o caso se meu depoimento não fosse escrito. Mas disse que contaria tudo, mas o escrivão parasse de anotar meu depoimento. E contei o que aconteceu. E disse que vi os policias batendo num bandidão e que falei para eles continuarem o samba.
Mudando de assunto de novo. Podemos dizer que o senhor se considera conservador?
Euro Tourinho: Conservador acho que não sou. Acho que até sou elemento moderno. Essa minha atitude de sempre proteger a ação da Polícia acho que é bem moderna, já que muitos sempre a criticam. Estou em muitas coisas à frente de meu tempo. Ninguém quer apoiar a Polícia em nada. Todo mundo tem ódio da policia, ninguém apóia. Eu faço diferente.
Já tentaram silenciar o Jornal em alguma situação?
Euro Tourinho: Já tentaram. Quiseram impor a saída de funcionários. Sofremos pressões e algumas situações vexatórias, mas nunca nos vendemos. Na história mais recente um governador na época pediu a cabeça do Lúcio Albuquerque. Mas sempre dizíamos que ninguém mandava nesta casa.
Como o jornalismo de Rondônia deveria ser?
Euro Tourinho: O jornalismo tem que ser disciplinado. Tem que haver responsabilidade absoluta sobre que se escreve e sobre quem se escreve. Jornalismo sem responsabilidade é a pior coisa que pode ocorrer. Dizer o que quer e escrever sem medir conseqüências é uma falta de respeito ao público leitor.
Seu Euro o que tem a dizer para os leitores ?
Euro Tourinho: Que estou lutando... Digo a todos que vou vencer essa parada. Está terrível a situação, mas vou vencer esta parada de qualquer jeito! Quero apoio. Mas nada de graça, que, simplesmente, a recompensa pelo trabalho do Jornal Alto Madeira. Sinceramente não consigo entender a falta de visão dos governantes que viraram as costas para o jornal.
Não vêem que este diário é um patrimônio na região. Não tem visão para entender que este poderia ser o maior laboratório para estudantes de jornalismo. Para as universidades a grande saída para melhorar a sua forma e maneira de capacitar. Este jornal não é mais meu! E da população de Rondônia. De cada pessoa que ama e vive nesta terra...
Jornal Alto Madeira. 92 anos de história
Vivenciando o presente, recordando o passado e construindo o futuro
Ser o ALTO MADEIRA foi, é e continuará a ser uma conquista. São 92 anos de história, um feito que é para poucos. Foi preciso participar dos acontecimentos que mudaram o mundo, a região e a cidade. Rir do que era preciso rir, chorar do que era digno de choro, fazer o que precisava ser feito, enfrentar, muitas vezes, a raiva ou o ódio por não se omitir, por ter coragem e responsabilidade. Honrar nossos leitores com notícias de qualidade tem sido até o dia de hoje é uma benção e uma tarefa divina. Cheia de caminhos, de satisfação. Levar a informação para gerar opinião pública é mais do que um fim em si mesmo; é um processo de aprendizado e educação. Registrar o esforço de nossa linha editorial e de cada individuo que trabalha na família AM. Possibilitar a interação entre os vários setores da sociedade é um objetivo comum, mas para o jornal, é por seus anos de existência é o labor sagrado que consagramos no altar da comunicação.
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Jorge Teixeira de Oliveira tinha o hábito da leitura diária de todos os jornais. Nesta foto Teixeirão fazia a leitura atenta do AM. (Fonte:SECEL/Arquivo) |
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