Vencedor do Empreendedor Social 2008, fez experiência inovadora em Rondônia

 
Vencedor do Empreendedor Social 2008 ganha de Lula tarefa de resolver ocupação ilegal da Amazônia

 
CÁSSIO AOQUI
PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
da Folha de S.Paulo

 
"O momento nunca foi tão propício para a Terra Nova", disse à Folha o advogado André Cavalcanti de Albuquerque, 42, logo após ser homenageado pela Fundação Schwab na cerimônia de abertura da versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial.

Momentos depois de receber o certificado de Empreendedor Social 2008 das mãos de Klaus Schwab, mentor do fórum, e diante de uma plateia de 500 acadêmicos, empresários e políticos de 37 países, André, fundador da primeira empresa social que faz regularização sustentável de propriedades ocupadas ilegalmente, foi convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a resolver o problema da ocupação ilegal da Amazônia.

Com uma audiência pré-agendada com o presidente Lula, André, eleito pela Fundação Schwab e pela Folha de S.Paulo Empreendedor Social 2008, após concorrer com 345 candidatos de 24 Estados e do Distrito Federal, tem amanhã mais um desafio: agendar uma entrevista com Marcelo Bahia Odebrecht, executivo-chefe da Odebrecht e um dos copresidentes do Fórum Econômico da América Latina.

Apesar de inovar ao colocar, pela primeira vez no país, uma empresa social no planejamento e na negociação para remanejar famílias atingidas pela construção de uma hidrelétrica em Rondônia, de modo a preservar sua história, costumes e cultura, André se diz "decepcionado e frustrado" com a interrupção dos trabalhos de realocações e reassentamentos no entorno do rio Madeira.

"A mediação por um terceiro [no caso, a Terra Nova] se mostrou o melhor caminho para atender as duas partes de uma forma neutra. Criamos um modelo que funcionou, mas não conseguimos seguir com ele."

Na experiência piloto, de desapropriação para a construção do canteiro de obras da usina de Santo Antônio, seu trabalho se deu sobre cerca de 60 famílias moradoras de quatro comunidades ribeirinhas. Na segunda fase da obra, outras 400 famílias serão impactadas.

Colegas de empreendedorismo

O advogado paranaense recebeu a homenagem juntamente com outros três empreendedores sociais eleitos na América Latina: a colombiana Marta Arango, fundadora do Cinde (Centro Educacional para o Desenvolvimento Humano e a Educação), que desenvolveu metodologia adaptada em 27 países com foco em crianças, de forma a atrair famílias, comunidades e instituições ao oferecer um ambiente para um desenvolvimento físico e psicológico saudável; a chilena Veronica Abud, da Fundación La Fuente, que estruturou um programa para criar bibliotecas escolares, públicas e móveis voltadas às crianças e à comunidade, além de sua instalação em shopping centers; e Martín von Hildebrand, criador da Fundação Gaia Amazonas, da Colômbia, que vem assegurando a proteção de 40 milhões de hectares da floresta amazônica em seu país com a criação de áreas protegidas, autogeridas por seus habitante nativos --os que melhor conseguem garantir a preservação da floresta.

"É um trabalho de décadas que agora estará ao lado de empreendedores sociais colombianos de altíssimo nível na rede da Fundação Schwab", comemorou Marta. "Desde que fui nomeada [Empreendedora Social de Destaque], muitas pessoas têm me procurado para conhecer o trabalho. Mas o grande prêmio é ver o prazer que as bibliotecas proporcionam a quem descobre a leitura como opção de lazer", ressalta Veronica.

Marta e Martín também receberam cumprimentos do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, que participou da cerimônia de abertura do Fórum ao lado de Lula.

Criador da Fundação Schwab juntamente com sua mulher, Hilde, o engenheiro e economista Klaus Schwab destacou, ao apresentar os homenageados, a importância de suas iniciativas no contexto atual: "Neste momento de crise, eles tornam-se ainda mais importantes, uma vez que fornecem soluções para desafios sociais ante as restrições de recursos".

Em consonância, o presidente Lula falou sobre a importância de "desenvolver um modelo de vida mais inclusivo e sustentável", "uma globalização com ética e respeito ao indivíduo" e reafirmou que as economias emergentes foram "golpeadas" pelo mundo desenvolvido.

"Passei metade da vida dizendo que era possível construir uma nova ordem mundial. Agora 'vi com meus olhos' e 'ouvi com meus ouvidos' pessoas de que nunca pensei que chegaria perto dizerem que é preciso uma nova ordem mundial", salientou o presidente, que não poupou críticas à atuação do FMI em países não desenvolvidos.