Terça-feira, 30 de dezembro de 2014 - 07h06
Simon Romero / Jornal Zero Hora
Com as mãos e os pés amarrados, os dois corpos encontrados recentemente pela polícia no porta-malas de um carro compacto da Peugeot a princípio se pareciam com muitas outras vítimas nas ruas de Manaus, a maior cidade do Estado do Amazonas. Mas, como que assinando a obra, os executores marcaram os corpos com requintes de crueldade. Utilizando uma faca, eles riscaram três letras nas costas: FDN, as iniciais de Família do Norte, uma gangue do narcotráfico lutando pela supremacia no comércio de cocaína na Amazônia brasileira.
Com o Brasil emergindo como o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, ao Estado do Amazonas está ganhando importância como um domínio do tráfico. Os traficantes atravessam a droga pelas fronteiras porosas do Peru, da Colômbia e da Bolívia, antes de transportarem a cocaína em barcos para o Oceano Atlântico para o envio à Europa. Somando-se à mistura, o crescimento desenfreado das cidades nas florestas tropicais brasileiras sustenta um próspero mercado próprio de cocaína e de substâncias como o oxi – uma mistura barata da pasta de cocaína, gasolina e querosene – alimentando uma onda de violência relacionada às drogas conforme a população da Amazônia brasileira se aproxima de 25 milhões.
Embora distantes cidades fronteiriças brasileiras como Tabatinga absorvam uma parte do derramamento de sangue, Manaus, o mais importante centro logístico do Amazonas e a maior área metropolitana, está sofrendo com a expansão do comércio de cocaína, prolongadas guerras territoriais entre as gangues, assassinatos seletivos de policiais e assassinatos terríveis envolvendo a decapitação e o desmembramento das vítimas.
— Partes de Manaus agora parecem uma zona de conflito — disse George Gomes, delegado titular de combate ao narcotráfico nessa grande cidade asfixiada pelas drogas, com dois milhões de habitantes.
— Para cada traficante que capturamos, outro toma o seu lugar. Nossos adversários têm mostrado uma capacidade impressionante de evoluir e de prosperar — ele acrescentou.
A transformação de Manaus de uma cidade localizada em um rio sonolento, conhecida pela arquitetura tropical Belle Époque, em um epicentro do tráfico de cocaína da Amazônia reflete alterações mais amplas da cidade ao longo das décadas. Para alguns residentes, ela ficou quase irreconhecível desde a expansão industrial local na década de 70 durante a ditadura militar no Brasil, quando muitos dos edifícios mais antigos da cidade foram demolidos e os imigrantes se concentraram em busca de empregos nas fábricas.
— Manaus era um lugar sossegado na minha infância, uma cidade onde nadávamos em riachos e víamos os animais selvagens da Amazônia de perto nas árvores das praças — disse Milton Hatoum, de 62 anos, escritor que cresceu aqui e retrata a cidade em suas obras de ficção.
Hatoum, que agora mora em São Paulo, disse que ficava chocado toda vez que ele retornava a Manaus.
— Aquela Manaus foi sistematicamente destruída, substituída por uma cidade com favelas tão mortais que tenho medo até mesmo de por os pés nelas — ele declarou.
Uma característica marcante do comércio de drogas em Manaus e em outras cidades no enorme Estado do Amazonas, que é três vezes o tamanho da Califórnia, envolve o crescente domínio das gangues. Quase sempre elas controlam o tráfico de cocaínas de dentro dos presídios, replicando uma estrutura sofisticada do crime organizado com raízes em cidades maiores como São Paulo e Rio de Janeiro.
Em Manaus, a Família do Norte exerce grande domínio nas favelas da cidade embora os principais líderes da quadrilha estejam atrás das grades. Eles ainda exercem influência através de uma rede vagamente organizada de membros de dentro e de fora das penitenciárias devido à fraca fiscalização das prisões, segundo as autoridades de segurança. Abrindo um novo capítulo sangrento do comércio de cocaína na Amazônia, um grupo ainda maior das prisões do sul do Brasil, o Primeiro Comando da Capital, se alastrou para Manaus.
A facção criminosa comandou uma rebelião de quatro dias em São Paulo em 2006, na qual quase 200 pessoas foram mortas. Agora, a facção está brigando com a Família do Norte em várias partes da cidade. Nas ruas, os traficantes aliados de ambas as facções disputam o controle das bocas de fumo, ou os pontos de vendas onde as drogas são negociadas, às vezes, com assassinatos ao estilo de execução nos quais os membros pulverizam uma área com tiros.
As autoridades também lutam com assassinatos de ajuste de contas entre os traficantes de rua e os usuários com dívidas de drogas, com o Amazonas registrando um índice de homicídio de 50,1 a cada 100.000 habitantes em 2012, uma alta de 157 por cento desde o início do século e quase o dobro do índice nacional. As autoridades afirmam que conseguiram reduzir o índice de homicídio em Manaus em 2013, em grande parte com o aumento das patrulhas policiais nas regiões pobres. Porém, a maioria dos assassinatos na cidade ainda é relacionada às drogas conforme as gangues prisionais exercem a sua influência, segundo Débora Mafra, investigadora da Polícia Civil do Estado do Amazonas.
Manaus é cercada de floresta tropical e só tem cerca de um terço da população da região metropolitana de São Paulo, a maior cidade brasileira. No entanto, a segurança fraca contribui para a sensação distópica em algumas regiões, com novas torres residenciais de luxo e um estádio de futebol futurista da Copa do Mundo situados ao lado de canais fedendo a esgoto e assentamentos precários. Refletindo as más condições de vida ao longo de grandes extensões da cidade, Manaus fica em último lugar entre as 16 maiores cidades brasileiras no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, uma medida abrangente das estatísticas econômicas, da expectativa de vida entre outras coisas.
Em muitas esquinas de Manaus, os usuários conseguem oxi ou crack por até dois dólares a pedra, e alguns consomem as suas compras abertamente em plena luz do dia, fumando as drogas em cachimbos feitos com latas de alumínio. Quer pertençam às gangues do tráfico de entorpecentes ou atuem de forma independente, os traficantes operam o tráfico no que equivale a uma desabalada competição para atender à demanda.
— Obter drogas em Manaus é fácil — disse Francisco Edinaldo da Silva Pereira, de 34 anos, taxista desempregado e ex-viciado.
— Ultimamente, você entra em um bar, começa a beber e, quando menos espera, encontra alguém que vende. É assim em todos os bairros — ele explicou.
Embora a violência relacionada às drogas aflija Manaus e outras cidades, o Brasil optou por evitar grandes estratégias de intervenção como as que os Estados Unidos têm aplicado nos países vizinhos produtores de cocaína. Mesmo assim, a Polícia Federal, a principal agência brasileira de combate ao narcotráfico, recentemente acrescentou pelo menos 19 instalações de fronteira para reforçar suas operações.
Os agentes brasileiros apreenderam toneladas de cocaína e prenderam os principais envolvidos no comércio de entorpecentes da Amazônia como Jair Ardela Michue, um chefe peruano que montou uma operação estendida de tráfico de cocaína para dentro de Manaus. Porém, as instituições continuam sofrendo a tensão do comércio de cocaína, como quando os agentes da Polícia Federal de Manaus prenderam Karl Marx de Araújo Gomes, um chefe da polícia civil de um município do Amazonas, após flagrá-lo com 325 quilos de cocaína em sua caminhonete enquanto ele se declarava inocente.
Ele é um dos vários policiais acusados recentemente de tráfico de entorpecentes. As autoridades de segurança daqui insistem que estão tendo grandes avanços contra os traficantes. Em uma demonstração de força numa manhã de novembro, mais de doze policiais do Fera, pelotão de operações especiais de Manaus, iniciaram uma operação no Beco Cruzeiro do Sul, uma favela onde acredita-se que os traficantes de cocaína atuem. Empunhando rifles de assalto e escondendo o rosto com toca ninja por medo de represália das gangues do tráfico, os agentes invadiram os barracos.
No meio da imundície de uma casa fedendo a fezes, os agentes questionaram os moradores sobre o paradeiro de um homem suspeito de ser traficante. Ele havia fugido, e os agentes silenciosamente deixaram a favela.
— Isso não é surpreendente já que os traficantes têm informantes em todos os lugares, mesmo dentro da própria corporação — declarou um agente, solicitando anonimato porque não tinha autorização para discutir a corrupção policial com um repórter.
Ele ainda estava usando uma toca ninja enquanto observava a favela, formada ao redor de um dos igarapés, ou riachos, que de alguma forma ainda atravessam Manaus.
— Olhe para este lugar. Este território não é nosso, é deles — disse o agente do Fera.
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