Bem que Lula tenta subverter os fatos, as revelações e delações comprometedoras que apontam para o mar de lama que o envolve e afoga a presidente Dilma, mas, é um tsunami. As últimas três vieram logo depois da votação do impeachment.
1 Em depoimento na segunda-feira 18, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, vinculou o seu crescimento profissional na estatal à gratidão de Lula por serviços de corrupção prestados. Explicação: Cerveró detalhou uma operação ilícita para quitar um empréstimo de R$ 12 milhões feito por José Carlos Bumlai, compadre do ex-presidente, com o Grupo Schahin. Os recursos foram usados para pagar dívidas do PT. Cerveró selou, em troca do perdão da dívida, um contrato de cerca de US$ 1,6 bilhão entre a Schahin Engenharia e a Petrobras para operar um navio sonda. A ordem, disse, veio do ex-presidente da estatal Sergio Gabrielli. Como reconhecimento pela ajuda, autorizou a sua transferência do cargo de diretor da Petrobras para uma chefia na BR Distribuidora.
Os relatos de Cerveró reforçam as declarações de outro delator, Diogo Ferreira, assessor do senador Delcídio do Amaral, que apontou à Justiça que Lula fez parte da tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras preso pela Lava Jato, inclusive com gravações das tratativas conduzidas pelo senador Delcídio do Amaral. Cerveró e o assessor Diogo Ferreira não são os primeiros a citarem Lula em delações premiadas, pois, o ex-deputado Pedro Corrêa, que presidiu o PP, atribuiu a Lula a paternidade do Petrolão. Disse que testemunhou o nascimento do esquema de corrupção numa reunião no Palácio do Planalto, na presença de Lula, José Dirceu e José Eduardo Dutra, que na época era presidente da Petrobras.
2) Um outro laudo da Polícia Federal coloca sob suspeita a relação de Lula com empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato. Ele indica que, das contas usadas pela construtora Andrade Gutierrez para o pagamento de propina, saíram pagamentos a entidades ligadas ao ex-presidente. Depósitos de 3,6 milhões entre os anos de 2011 e 2014. Parte do dinheiro foi destinada a doações ao Instituto Lula. O restante a Andrade Gutierrez depositou nas contas da LILS Palestras, empresa de Lula. Seriam pagamentos pela realização de conferências.
Sobre as palestras de Lula, o juiz Sergio Moro já chegou a afirmar: “Não se pode concluir pela ilicitude das transferências às empresas do ex-presidente, mas, é forçoso reconhecer que trata-se de valores altos para doações e palestras, o que no contexto do esquema criminoso da Petrobras gera dúvidas sobre a generosidade das empresas.”
3) As apurações mais avançadas sobre Lula reforçam a suspeita da ocultação de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia. Os promotores paulistas e procuradores que investigam o Petrolão possuem depoimentos que reforçam que os imóveis em nome da OAS e de sócios do filho de Lula pertencem, na verdade, à família do ex-presidente.
Chama a atenção o fato de tanto o apartamento como o sítio terem sido reformados por empreiteiras envolvidas no Petrolão. A ex-primeira-dama Marisa Letícia acompanhou as obras de perto. Durante as investigações, o Ministério Público de São Paulo chegou a pedir a prisão de Lula. O pedido foi negado pela Justiça paulista, que encaminhou o processo para o juiz Sergio Moro. Em março, agentes da Polícia Federal ligados à Lava Jato levaram o presidente coercitivamente para prestar depoimento sobre as denúncias. Mas o caso foi tirado do Paraná depois de Lula ser nomeado ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff.
O QUASE MINISTRO
A nomeação de Lula, por sinal, também é motivo de investigação. Interceptações telefônicas indicam que ela ocorreu para livrá-lo da Justiça Federal do Paraná. Como ministro, o ex-presidente passou a ter foro privilegiado. Responde a eventuais denúncias no Supremo Tribunal Federal. Em um dos diálogos, Lula fala com a presidente Dilma Rousseff. Ela diz que está enviado um termo de posse para Lula antes mesmo dele assumir o cargo. Na prática, um salvo-conduto para um eventual pedido de prisão decretado pelo juiz Sergio Moro.
A nomeação de Lula acabou suspensa, preliminarmente, por determinação do STF. A Corte a julgaria na quarta-feira 20. Não é de estranhar que, diante de tantos fatos novos, tenha adiado a sessão. Não ficaria bem dar um salvo conduto para quem acumula tantos indícios de crimes contra o governo. Pelo menos, um deles, amplamente comprovado nas palavras do próprio Lula, o de apropriação indébita, de vez que a apreensão de “presentes” recebidos durante seu mandato, por não terem sido, como estabelece a legislação, incorporados ao patrimônio da União, configura claramente uma irregularidade grave, em especial, partindo de uma pessoa que exerceu o maior cargo na nação.