Mesmo maltratado, Santo Antônio não desaponta devotos

Ele tem milhões de seguidores em todo o país, é reconhecido como um dos oradores mais cultos e inspirados da história e mantém há séculos uma popularidade de fazer inveja a celebridades e políticos. Altruísta e generoso, sempre atende prontamente aos pedidos de ajuda. Mesmo com tantas virtudes, Antônio é um dos santos mais maltratados do país, sobretudo por quem acredita que tais métodos garantam um par ideal.

Neste domingo, dia de Santo Antônio, os castigos à imagem do santo se intensificam. Tanto que, este ano, foi deflagrada uma campanha em prol do que ele pregava em vida: amor, altruísmo e caridade. “Não maltratem Santo An­­tônio”, é a bandeira levantada por um dos maiores especialistas na história deste santo no país, o esotérico Daniel Atalla. “Precisamos tratar o santo com mais carinho, amor e dedicação; se possível, dedicar-lhe um relicário (casa).”

Atalla, que é fundador da Es­­cola Esotérica Luz da Lua, a maior da América Latina, explica que os milagres de Santo Antônio não se restringem à área sentimental: “Ele também é um santo guerreiro, da prosperidade, da proteção, recupera objetos perdidos, é ativador da riqueza, senhor da magia, da força e da coragem”. O bispo au­­xiliar de São Paulo dom Joa­­quim Justino Car­reira, da Região Episcopal Santana, concorda que ele vai muito além de conceder o matrimônio aos mais afoitos. “Ele é um exemplo de fé, de esperança e de caridade para as pessoas de todos os tempos”, reitera.

Palco

Até mesmo na música popular brasileira, Santo Antônio é cantado em verso e prosa e reúne devotos como os cantores Carlinhos Brown, Maria Bethânia e Vânia Abreu. “Minha relação com ele não é de casamento, apesar de meu marido ter nascido no dia dele, 13 de junho, mas sim de força, luta e de proteção”, afirma Vânia Abreu, revelando que em seus shows sempre leva a imagem de Santo Antônio para o palco e para o camarim. “Assim me sinto mais protegida”, diz ela, que dedica a ele a música Meu querido Santo Antônio, de autoria de Carlos Careca.

A face guerreira de An­­tônio pode ser encontrada na um­­banda e no candomblé. No sincretismo, ele representa Ogum, o orixá da guerra e o que abre os caminhos. Ogum pode ser representado também por São Jorge. “Muitos o procuram para se proteger, para ativar a fartura e ele atende a todos, pois circula em todas as tribos”, diz Armando Vallado, babalorixá e sociólogo da Universidade de São Paulo (USP). Ele também concorda que o santo deve receber um tratamento mais carinhoso.

Nascido em uma rica família portuguesa, Santo Antônio abandonou tudo aos 15 anos, inclusive o nome de batismo, Fernando Bulhões, para se dedicar à vida religiosa e deixar a sua marca entre os pobres e necessitados, a ponto de obter a canonização 11 meses após a sua morte, no dia 13 de junho de 1231, aos 40 anos de idade. Conviveu com Francisco de Assis, que também se tornaria um santo popular, e desde aquele período carrega a fama de milagreiro. Apesar dos maus-tratos que ainda recebe, Santo An­­tônio é generoso. “Ele nunca decepciona seus devotos”, garante dom Joaquim.

Fonte: Gazeta do Povo