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Índia xavante morre após estupro


 
Adolescente de 16 anos sofreu um grave abuso sexual quando estava na Casa de Apoio à Saúde Indígena do DF, localizada no Gama.  O ataque causou o rompimento de órgãos internos e custou a vida da jovem

Guilherme Goulart

Onze anos após o assassinato do pataxó Galdino Jesus dos Santos, o Distrito Federal volta a chocar o país com um caso de violência contra o povo indígena.  O ataque desta vez ocorreu contra uma adolescente de 16 anos.  A menina Jaiya Pewewiio Tfiruipi Xavante não resistiu aos ferimentos provocados pelos abusos sexuais sofridos na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) do Distrito Federal, localizada próximo ao Gama e às margens da BR-060.  A Polícia Civil do DF abriu inquérito, mas até o fim da noite de ontem não havia informações sobre o responsável pela barbárie.  A Polícia Federal também deve assumir hoje parte da investigação (leia matéria na página 25).

A vítima morreu em decorrência de infecção generalizada por volta das 12h de quarta-feira, durante cirurgia no Hospital Universitário de Brasília (HUB).  Exame feito pelo médico legista do Instituto de Medicina Legal (IML) Manuel Modeli detalhou a violência à qual a índia foi submetida.  Ela teve os órgãos genitais perfurados por objeto contundente de cerca de 40cm, o que provocou rompimento no estômago, baço e diafragma.  “O laudo também revelou sinais de estupro.  Foi uma violência sexual atípica”, disse o delegado-chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), Antônio Romeiro.

Além da agressividade, o crime chamou a atenção dos investigadores pela covardia.  Jaiya media 1,35m e pesava 33kg.  Também tinha problemas neurológicos e motores — dependia de cadeira de rodas para se locomover e de ajuda para, inclusive, ir ao banheiro.  O quadro clínico é decorrente de uma meningite contraída na infância.

A adolescente, xavante da aldeia São Pedro, no município matogrossense de Campinápolis (veja mapa), estava no DF acompanhada da mãe, Carmelita, da tia Maria Imaculada Xavante e de uma irmã mais velha para tratar da grave lesão neurológica no Hospital Sarah Kubitschek.  As índias faziam o trajeto Gama-Plano Piloto desde 28 de maio, quando se hospedaram na Casai.  A estrutura, mantida pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), serve como abrigo aos indígenas em tratamento hospitalar no DF pelo Sistema Único de Saúde (SUS).  Ou seja, estavam sob a responsabilidade do governo federal no momento em que Jaiya sofreu o ataque sexual.

Paradas cardíacas
Informações levantadas pela polícia e confirmadas pela Funasa revelam que a menina reclamou de dores abdominais na noite de terça-feira.  Recebeu um analgésico da equipe médica de plantão da Casai, adormeceu, mas acordou pela manhã com a mesma queixa.  Acabou, então, encaminhada para o HUB pela própria Funasa, por sugestão de uma enfermeira que presta serviço no abrigo há cerca de 40 dias.  A menina entrou para o centro cirúrgico por volta das 10h.  Mas morreu duas horas depois, ao sofrer duas paradas cardiorrespiratórias.

Uma médica do HUB denunciou o caso à delegacia da Asa Norte e à Funasa logo após a morte da índia.  O delegado Romeiro tentou conversar com a mãe, a tia e a irmã da adolescente xavante horas depois, mas elas mal falam português.  Devido à dificuldade de comunicação, a família pouco acrescentou ao início da investigação da Polícia Civil do DF.  “O que os familiares conseguiram dizer foi apenas que o abrigo tem segurança 24 horas e que não acreditam que tudo aconteceu lá.  Mas já temos certeza de que o crime aconteceu na Casai”, acrescentou Romeiro.

As parentes de Jaiya não foram encontradas pela reportagem.  A coordenadora da Casai, Elenir Coroaia, disse que elas não estavam no abrigo pelo menos desde as 17h30 de ontem.  A mulher não soube confirmar o destino delas.  Apenas revelou que as três iriam até o IML buscar o corpo da adolescente.  Acreditava ainda que tivessem voltado à aldeia no Mato Grosso para organizar o velório.  Segundo Elenir, o corpo viajaria à noite.  A assessoria de imprensa da Funasa nega a informação.

O órgão do governo federal confirmou que a família xavante deixou Brasília ainda ontem.  Mas a retirada do corpo, liberado à tarde para sepultamento, dependeria da presença de um parente mais próximo da vítima.  A assessoria de imprensa da Funasa informou que, se a mãe realmente tivesse voltado ao Mato Grosso, a fundação bancaria os custos da viagem até o Distrito Federal.  O órgão não tem autonomia para retirar o corpo da indígena do IML de Brasília, mesmo a adolescente tendo ficado sob custódia da instituição desde o fim de maio.

Investigação
O delegado Antônio Romeiro assumiu pessoalmente o início da investigação.  Esteve na Casai no fim da tarde de ontem para fazer uma avaliação do local do crime.  Mas encontrou outra família no galpão anteriormente ocupado pelas índias xavantes.  Os objetos de Jaiya, por exemplo, haviam sido retirados da divisória de cerca de 20 metros quadrados.  Para Romeiro, a falta de preservação do lugar pode atrapalhar a descoberta do responsável pela tragédia.  “O caso não é tão fácil quanto se imagina, pois os índios estão muito reservados.  Se fosse provavelmente uma agressão vinda de fora (da Casai), haveria guerra”, disse.

Os investigadores da 2ª DP se concentrarão agora nos depoimentos de pessoas que acompanharam os últimos momentos de vida da vítima.  A primeira testemunha foi ouvida durante duas horas no fim da noite.  A mesma enfermeira que sugeriu o atendimento da garota no HUB iniciou os esclarecimentos por volta das 21h.  A mulher cuida de índios doentes na Ciasa, mas tem vínculo com o Instituto de Pesquisa Étnica do Alto Xingu (Ipex).  Ela acompanhou de perto o sofrimento de Jaiya entre terça e quarta-feira.

Povo aguerrido
Existem cerca de 15 mil xavantes no Brasil.  As aldeias do povo dessa etnia estão dentro de terras indígenas não contínuas, que pertencem à União e são cedidas para usufruto exclusivo dos índios.  As terras estão localizadas em nove municípios do Mato Grosso.  Cada aldeia é chefiada por um cacique.  As crianças aprendem desde cedo a língua natural, o awe (com til no e).

Os xavantes plantam mandioca, milho e arroz, pescam e caçam.  Trata-se de um povo aguerrido, que costuma se empenhar para que suas solicitações sejam atendidas, vindo a Brasília e pressionando as autoridades.  O xavante mais famoso foi Mário Juruna.  Deputado federal entre 1983 e 1987 pelo Rio de Janeiro, ele morreu em Brasília em 2002.

Fonte: Correio Braziliense/Amazonia.org.br

 

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