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Política - Nacional

Governo de continuidade, porém mais feminino


 
Por Fabiana Frayssinet, da IPS

Rio de Janeiro, Brasil – Em plena contagem regressiva para assumir a Presidência do Brasil no dia 1º de janeiro, Dilma Roussef terminou de estruturar seu gabinete, que antecipa um governo de continuidade, onde a maior novidade é que seu rosto será mais feminino. Não foi fácil para a presidente eleita escolher os 37 ministros de seu gabinete e, também, agradar os grupos aliados, reafirmar a fidelidade ao PT, esteio do terceiro governo consecutivo de esquerda, e dar continuidade a uma gestão de oito anos, que culmina com 80% de popularidade.

Dilma recorreu às qualidades de boa gestora e técnica, que demonstrou como ministra da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva, e encontrou a fórmula para fortalecer o PT, não entrar em crise com seus aliados e dar continuidade à política e ao gerenciamento dos projetos pendentes. O resultado é um gabinete com nove mulheres, várias em setores determinantes, como Planejamento, Desenvolvimento Social e Meio Ambiente. É um número que pode parecer limitado em outras latitudes e que está longe do um terço que havia proposto inicialmente, mas que triplica os ministérios entregues a mulheres por Lula.

Outros 13 ministros já integraram o gabinete de Lula, como Guido Mantega, no estratégico Ministério da Fazenda, e Antonio Palocci, que dirigiu essa pasta e agora ocupará o cargo que Dilma já ocupou. Uma posição muito influente, na qual são tomadas decisões fundamentais. “Aparentemente, a continuidade será a marca mais importante. Não há nenhuma mudança importante à vista”, disse à IPS Fernando Lattman, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea. “A marca de Dilma está na escolha de mulheres para seu gabinete. Mas do ponto de vista político não há grandes modificações”, acrescentou.

Mauricio Santoro, analista político da Fundação Getulio Vargas, concorda parcialmente com esta análise. Considera que a principal mudança de conteúdo se refere à maior presença feminina no gabinete de Dilma, a primeira mulher a chegar à Presidência no Brasil. E também destacou a importância da mudança de funções dos ministérios, como, por exemplo, o do Planejamento. Mauricio disse à IPS que agora essa pasta terá o controle das grandes obras públicas do Brasil, que antes cabia à Casa Civil. À frente desse Ministério estará uma mulher, Miriam Belchior, que já ocupou outras funções no governo Lula.

Sobre Miriam, como foi antes a respeito de Dilma, pesará a responsabilidade de continuar as obras primordiais para o governo Lula, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao qual diferentes analistas atribuem boa parte da alta popularidade de Lula. Uma pesquisa, divulgada no dia 22 pelo instituto Datafolha, mostra entusiasmo com a nova presidente e seu gabinete. Nada menos que 83% dos entrevistados acreditam que Dilma fará igual ou melhor do que Lula, enquanto 73% acreditam que seu governo será “bom ou ótimo”. Para “que mudar os jogadores quando a partida está ganha?”, disse alguma vez o presidente Lula, apelando às suas habituais metáforas com o futebol.

Sua sucessora parece entendê-lo, como demonstra sua decisão no Ministério das Relações Exteriores, onde mudou a figura que dirigiu a diplomacia de Lula, Celso Amorim, por outro que teve funções na área, Antonio Patriota. Para dirigir a política latino-americana manteve Marco García, o secretário de Relações Internacionais que esteve presente em todas as negociações com os países vizinhos durante o governo que sai.

Mauricio antecipou apenas uma mudança quanto à política externa. “Dilma já falou da necessidade de mudar a política internacional do Brasil em matéria de direitos humanos, para ter posições críticas sobre a questão da mulher no Irã, por exemplo”, disse. As diferenças com a gestão de Lula, segundo analistas e economistas, se darão no contexto. Com uma situação econômica internacional menos favorável do que a dos dois governos de Lula, será mais complicado manter o mesmo crescimento econômico de 7,5% ao ano, em média, continuar a tendência decrescente do desemprego e combater a desigualdade social.

Durante o governo Lula saíram da pobreza 30 dos 198 milhões de brasileiros, e agora se debate se finalmente Dilma deverá recorrer ao antipático corte de gastos em áreas tão importantes para impulsionar o desenvolvimento e as políticas sociais como o PAC. Outros preveem que no Palácio do Planalto, a partir do primeiro dia de 2011, as mudanças serão principalmente questão de estilo. Dilma, reconhecida por sua eficiência e menos por sua personalidade, deverá lidar com o fantasma do “carisma” de Lula, a quem o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chamou de “the man” (o cara).

No conjunto de favelas do Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, a cozinheira Janaína Rosário lamenta o fim do mandato de Lula, enquanto espera paciente sua chegada para inaugurar uma das últimas obras de seu governo. “Para os pobres como nós, é muito bom que venha um presidente, porque isso te valoriza. E o único presidente que fez isso foi Lula”, disse à IPS.

Fernando apelou novamente para as metáforas futebolísticas de Lula para explicar essas diferenças de estilo. “Dilma não jogará para a torcida, mas para a equipe”, disse, ao antecipar um governo “menos visível” e “mais de trabalho interno, acertando a casa”, que é próprio da qualidade de Dilma como “gerente administradora”. Outro desafio será articular no Congresso o emaranhado de frações políticas que determinam a governabilidade brasileira e manter coesas as forças que apoiaram sua candidatura.

Alguns dos nove pequenos partidos dessa aliança ficaram insatisfeitos com a escolha dos ministros. O PT terá 17 ministérios, seguido do PMDB com seis. Dos membros do gabinete, oito não têm filiação política conhecida. E isso com as eleições municipais no horizonte, o que obriga Dilma e o PT a fazer todos os membros da aliança se sentirem confortáveis. 

Fonte: (IPS/Envolverde)

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