Fernando Melo lamenta perda de pesquisadores da Embrapa
MONTEZUMA CRUZ
O deputado Fernando Melo (PT-AC) lamentou nesta quinta-feira, em discurso na Câmara, a perda de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em conseqüência do Plano de Demissão Incentivada. Desde a criação do plano, a estatal dispensou 534 funcionários, e destes, 243 são pesquisadores.
Comentando reportagem de Mauro Zanatta e Cibelle Bouças, na edição de quarta-feira do Valor Econômico, o parlamentar indagou: “Quantas vezes ouvimos ou lemos a manchete: Embrapa perde técnicos? Ou, Embrapa perde mais um cientista? Quantas vezes deparamos com notícias sobre a fuga de cérebros nas principais instituições de pesquisa do País?”
Melo destacou o papel da Embrapa na criação e difusão de tecnologia em diversos setores e queixou-se de que estaria havendo uma “desvalorização das memórias”. Com 34 anos de atuação, a estatal vai desligar 700 pessoas até 2009. Do total de 8,6 mil servidores da empresa, 2,2 mil são pesquisadores e destes, 70% com título de doutorado. “Quantos perderemos no Acre, quantos perderemos na Amazônia?”, indagou.
O deputado disse que Benami Bacaltchuk, especialista na área de trigo, deixará a estatal até março de 2008. O fitopatologista José Tadashi Yorinori, considerado o “pai da Embrapa Soja”, já saiu, depois de 33 anos de casa. Ele é autor de cerca de mil publicações e fez centenas de palestras no Brasil e no exterior. “Esse cientista lutou incessantemente pela redução ou eliminação de doenças de diversas origens, cujo controle exige volumosas somas em dinheiro”.
“Economia de risco”
A estatal alega que vem obtendo uma economia mensal de R$ 1 milhão na folha de pagamentos. O salário dos novos doutores contratados para passou de R$ 12,2 mil mensais para R$ 5,9 mil, incluindo-se os 30% de adicional pelo diploma de PhD.
Melo vê risco nessa economia: “O barato pode sair caro”. Disse que o decano pesquisador da área de trigo, Sérgio Roberto Dotto, opinou ao Valor Econômico que a Embrapa perderia menos se mantivesse pesquisadores seniores para as áreas estratégicas, a exemplo da prática de institutos americanos.
Melo acredita que o plano de demissão ocorre no momento em que a Embrapa Agroenergia, com sede em Brasília, ingressa na pesquisa em biodiesel, etanol, florestas energéticas e resíduos.
Segundo o deputado, a manutenção da memória na estatal estaria prejudicada, porque os novos doutores deverão passar por um período probatório sob a orientação de um tutor, até concluir a apresentação de um programa de trabalho ou um projeto de pesquisa dentro das prioridades estratégicas da Embrapa. “Depois de quanto tempo os novos aprenderão tudo?”, questionou.

Sábado, 15 de março de 2025 | Porto Velho (RO)