Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Política - Nacional

Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira: ONG alerta para possibilidade conflitos sócio-ambientais


Obras do PAC afetarão metade da área de unidades de conservação ambiental do país, estima ONG

Brasília - A execução de grandes projetos nacionais e intercontinentais de infra-estrutura previstos simultaneamente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Plano Plurianual (PPA) e na Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana (IIRSA) ameaça metade da área das unidades de conservação do país. Segundo a organização não-governamental Conservação Internacional (CI-Brasil), 2,5 milhões de quilômetros quadrados serão afetados pelas obras.

Após avaliar o impacto ambiental de 13 projetos em cuja área de influência se encontram ecossistemas fundamentais para a proteção da diversidade biológica brasileira, a CI-Brasil concluiu que as obras irão causar impactos em 137 unidades de conservação, 107 terras indígenas e 484 áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira. O bioma mais afetado será a Amazônia, onde 322 áreas entre as mais ricas em espécies amazônicas serão expostas à pressão humana sem que medidas eficazes para conter os impactos tenham sido discutidas.

"Basicamente, apresentamos uma análise para alertar o governo, os gestores das unidade e a sociedade em geral de que estes projetos irão influir no contexto geográfico. Nossa intenção é provocar planejamentos mais abrangentes, onde a sociedade participe ativamente na construção de um plano de desenvolvimento regional", explicou o diretor de Política Ambiental da CI-Brasil, Paulo Gustavo Prado.

A ONG também alerta para a possibilidade de surgirem conflitos sócio-ambientais na região sob influência do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, na região de Santarém, no Escudo das Guianas e no Pantanal Boliviano. "Essas áreas deverão sofrer um impacto potencial maior porque ali a sociedade civil se encontra em um estágio incipiente de organização e os recursos naturais ainda estão bem conservados, já que ainda não há muita presença humana", disse Prado, destacando ainda a precariedade da presença do Estado nesses locais e a pouca participação das comunidades nos processos decisórios.

A CI-Brasil teme que sejam feitos investimentos em infra-estrutura sem considerar fatores como a intensa migração de populações sujeitas a ficarem sem atendimento e apoio por parte do Estado, o despreparo de infra-estrutura rural e urbana de saúde, educação e saneamento, a perda de qualidade da água e o desequilíbrio de serviços ambientais.

A CI-Brasil também acrescenta à lista de problemas decorrentes destas obras a redução de recursos pesqueiros, aumento indiscriminado de esforço de coleta e caça para a sobrevivência, incremento de áreas desmatadas, prática da grilagem, violência, desemprego, prostituição e incidência de doenças contagiosas Além de apontar que falta aos responsáveis pelas ações considerar o possível impacto ambiental à região, e não apenas localmente, a CI-Brasil diz que faltam estudos e medidas mitigadoras mais amplas.

"Os projetos de infra-estrutura são a primeira entrada para uma ação humana que começa a descaracterizar a sociedade e o meio ambiente", falou Pereira. "A partir da construção de uma estrada, por exemplo, ocorre a movimentação da população, que tem de se estabelecer e passa a pressionar a região por mais infra-estrutura urbana, como saúde, educação. Começa todo um sistema de agricultura e pecuária que acaba transformando a paisagem".

Pereira destaca que nem a CI-Brasil, nem o estudo são contrários ao desenvolvimento ou aos projetos. "O que o trabalho recomenda é que isso seja feito de uma maneira responsável e com qualidade para trazer desenvolvimento real e não apenas um crescimento que exponha essas áreas e, mais uma vez, aumente o contingente de populações desprivilegiadas".

O estudo traz uma série de recomendações a fim de evitar os impactos ao meio ambiente, como a adoção de medidas de regularização fundiária, o fortalecimento das estruturas e dos serviços urbanos nas áreas sob influência dos empreendimentos, o incentivo à atividades não predatórias e o cálculo das emissões de gases do efeito estufa causados pelas obras.

Apesar disso, segundo Pereira, o objetivo maior do trabalho é servir de alerta. "Que os governos federal, estadual e municipais saibam que isso vai acontecer e, a partir daí, comecem a negociar. Que as populações, uma vez cientes do fato, reivindiquem o desenvolvimento que desejam e que os gestores das unidades de conservação estejam conscientes e tentem incluir a sustentabilidade dessas áreas dentro dos projetos".

A Conservação Internacional atua em 40 países e tem suas ações voltadas para a conservação do patrimônio natural do planeta. A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente assim que o relatório foi publicado, na semana passada, mas a assessoria informou que o órgão ainda não havia recebido o documento. Na última sexta-feira (11), a reportagem tentou ouvir o ministério novamente sobre o assunto, mas não recebeu retorno. 
 
Fonte:
Alex Rodrigues e João Porto
Da Rádio Nacional da Amazônia

Gente de OpiniãoSábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta sexta-feira (25) maioria de votos para determinar que a Câmara dos Deputados faça a redistribuição do

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (SInagências) conseguiu uma solução direta do governo após intensa articulaç

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Reservas foi instaurada em Rondônia para investigar possíveis irregularidades nos processos de criação

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Na tarde dessa segunda-feira (06), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), Paulo Pimenta, esteve r

Gente de Opinião Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)