Carlos Alberto Quiroga - Agência O Globo
LA PAZ (Reuters) - A Bolívia assinou na sexta-feira novos contratos de operação com duas petrolíferas estrangeiras por um total equivalente a 2,1 bilhões de dólares, foram os primeiros compromissos de investimento desde a nacionalização energética, decretada em maio pelo presidente Evo Morales.
A francesa Total e a norte-americana Vintage assinaram acordos com a petrolífera estatal boliviana YPFB, enquanto a Petrobras, a espanhola Repsol-YPF e outras empresas pareciam continuar tendo divergências com aspectos do novo regime, na véspera do fim do prazo fixado pelo governo.
No Brasil, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que acompanhou o debate dos presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, e Geraldo Alckmin (PSDB), na TV Globo, disse que a expectativa é que a Petrobras feche um acordo com o governo boliviano.
``A tendência é de acordo, mas vai ser negociado até o último minuto'', disse a ministra, acrescentando que um acordo temporário é uma das possíveis soluções para o impasse.
Morales, por sua vez, defendeu o processo de nacionalização. ``Embora sejamos um país pequeno, subdesenvolvido, as empresas têm que respeitar nossas normas, nossas leis, vamos fazê-las respeitar'', disse Morales numa alusão às empresas que ainda não assinaram novos contratos.
``Qualquer empresa merece respeito, mas as empresas também têm que respeitar o nosso povo, as nossas normas'', acrescentou, antes de lembrar que as petrolíferas ``têm, todavia, umas horas (o sábado) para seguir negociando e consolidar a nacionalização''.
O ministro boliviano de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, disse que a Total se comprometeu a investir 1,882 bilhões de dólares na exploração e desenvolvimento de três grandes campos de gás natural, sob contratos que lhe garantem direito de exploração por 30 anos e de produção por 20 anos.
Já a Vintage comprometeu-se em investir 220 milhões de dólares na exploração de hidrocarbonetos em campos residuais.
``Com esses primeiros contratos, a Bolívia garantiu seu futuro, comprometendo-se com investimentos que se desenvolverão nos próximos anos (...) não só vamos produzir, mas fundamentalmente explorar'', disse Villegas.
O ministro acrescentou que a Total aceitou submeter-se ao novo regime, que declara propriedade do Estado todo o petróleo e gás natural extraídos, em troca de uma compensação equivalente a 18 por cento da produção.
Fontes governamentais disseram que as negociações com a Petrobras são as mais complexas, pois envolvem também uma possível transferência de duas refinarias, controladas há cinco anos pela estatal brasileira, que é a maior investidora do setor na Bolívia.
A nacionalização, que não incluiu confiscos, determinou a propriedade estatal sobre toda a produção de petróleo e gás e ordenou que as petrolíferas estrangeiras convertam-se em operadoras a serviço da YPFB.
A indústria boliviana de gás natural gerará neste ano, com exportações para Brasil e Argentina, cerca de 2 bilhões de dólares, o que corresponde a metade das vendas totais da Bolívia para o exterior.Sexta-feira, 4 de outubro de 2024 | Porto Velho (RO)