A base aliada ampliou seus domínios sobre a oposição quando se consideram as principais 79 cidades do país – grupo das 26 capitais e 53 municípios com mais de 200 mil eleitores.
Nesse universo de 46 milhões de eleitores – 46% do eleitorado brasileiro – os partidos que compõem a base de sustentação do governo Lula conquistaram 61 prefeituras, sete a mais que as 54 que mantêm hoje. É um crescimento de 13%.
Já PSDB, DEM e PPS reduziram o alcance de poder. Passaram a comandar 18 em vez das atuais 21 cidades – redução de 14%.
A diminuição é ainda mais grave se for considerado o fato de que o número de municípios com mais de 200 mil eleitores aumentou 5% entre as eleições de 2004 e de 2008. Passou de 75 para 79 municípios.
Partido
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Prefeitos atuais
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Prefeitos em 2009
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Diferença
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%
|
PT
|
17
|
21
|
4
|
23,53%
|
PMDB
|
14
|
17
|
3
|
21,43%
|
PSDB
|
15
|
13
|
-2
|
-13,33%
|
DEM
|
4
|
5
|
1
|
25,00%
|
PDT
|
6
|
5
|
-1
|
-16,67%
|
PSB
|
9
|
5
|
-4
|
-44,44%
|
PP
|
4
|
5
|
1
|
25,00%
|
PTB
|
0
|
3
|
3
|
---
|
PR
|
2
|
2
|
0
|
0,00%
|
PCdoB
|
2
|
2
|
0
|
0,00%
|
PV
|
0
|
1
|
1
|
---
|
PPS
|
2
|
0
|
-2
|
-100,00%
|
Total
|
75
|
79
|
4
|
5%
|
Base
|
54
|
61
|
7
|
13%
|
Oposição
|
21
|
18
|
-3
|
-14%
|
Fonte: Congresso em Foco, com base em dados do TSE
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PMDB e PT
Os principais partidos da base lideram a conquista das principais prefeituras. O PT vai dirigir 21, em vez das atuais 17 cidades médias e grandes. O PMDB aumentou de 14 para 17 seu domínio entre os municípios com mais eleitores.
No lado da oposição, o PSDB se destaca. Apesar de reduzir de 15 para 13 o número de prefeitos, a legenda dos governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), principais nomes dos opositores para tentarem suceder Lula, se mantém na terceira posição partidária.
Atrás, vem o DEM. Embora tenha mantido o poder sobre a principal prefeitura do país, com a vitória de Gilberto Kassab em São Paulo, o ex-PFL comandará apenas cinco cidades importantes, uma mais do que as quatro que dirige hoje.
Trabalho da máquina
Para o cientista político David Fleischer, a base "esmagou" os adversários graças à força da máquina administrativa dos governos. “O Sérgio Guerra [senador e presidente do PSDB] já tinha falado: ‘A oposição acabou’. A máquina pesou bem.” Para ele, o fato de dois terços dos prefeitos serem reeleitos confirma isso.
Fleischer crê que o desempenho da economia ajudou bastante. “Se a bolha econômica tivesse estourado em junho ou julho, isso poderia ter complicado.”
Apesar disso, ele não acha que o presidente Lula tenha ajudado a transferir votos. “Isso tem que ser relativizado.”
PMDB à frente
Já o professor da Universidade de Brasília (UnB) Octaciano Nogueira entende que os méritos são mais do PMDB do que do PT. Isso porque, quando se considera o total de municípios, os peemedebistas estão muito à frente dos petistas, como o partido com mais prefeitos e vereadores do Brasil. Fleischer concorda com o colega quando avalia que o PMDB é o grande vencedor das eleições,
não só do segundo turno.
“Quando você fala em base, você fala em PMDB, de onde o PT está tirando uma casquinha”, arrisca Octaciano.
Essa supremacia se deve à falta de ideologias do maior partido do país. “Não tem ideologia. É o único que, no estatuto, permite dissidências. Não expulsa ninguém. Mas tem fisiologia, que vale muito mais na política brasileira”, criticou Octaciano.
Para ele, isso explica por que o índice de reeleição é muito maior nas capitais. Nas 20 cidades onde os prefeitos tentaram manter o poder,
só em uma isso não aconteceu. “Lá, o índice de corrupção é maior ainda, porque tem mais poder. São prefeituras poderosas”, avaliou o cientista político.
Razoável
Octaciano destaca que o mais importante não são só as prefeituras, mas os votos. “No geral, o PSDB e o DEM devem ter perdido entre 9 e 10 milhões de votos de 2004 para cá, o que não significa que o PSDB não tenha tido um desempenho razoável.”
Ele destaca que a maior vitória do DEM, em São Paulo, com Gilberto Kassab, deve ser creditada a José Serra. Já David Fleischer enxerga o governador de São Paulo como o grande vitorioso nas urnas, como pré-candidato em 2010.
Ao mesmo tempo, Aécio obteve alguns pontos na disputa interna do PSDB ao eleger Márcio Lacerda (PSB) prefeito de Belo Horizonte, com a ajuda do PT, mas destaca a perda de prefeituras tucanas em Minas Gerais.
“O PSDB pode usar uma chapa puro sangue em 2010, com o Serra e o Aécio de vice. Seria imbatível, uma espécie de café-com-leite. Mas não sei se o Aécio aceitaria”, avaliou Fleischer.
Como a transferência de votos do presidente Lula não foi preponderande, Octaciano acha que o petista tem que rever os planos para as próximas eleições. “O FHC não transferiu votos para o Serra [em 2002] e o Lula não deve conseguir transferir para a Dilma [Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil]”, opinou o especialista.
Fonte: Eduardo Militão/Congresso em Foco
Sexta-feira, 26 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)