Terça-feira, 30 de setembro de 2025 - 16h08
O
Ministério Público Federal (MPF) expediu recomendação ao Distrito Sanitário
Especial Indígena (DSEI), à Casa de Saúde Indígena (Casai), ao Governo do
Estado de Rondônia e à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau/RO). O objetivo é
que os destinatários do documento adotem medidas urgentes para prevenir e
erradicar a violência obstétrica contra mulheres indígenas, respeitando suas
tradições culturais durante a gestação, parto e pós-parto.
A iniciativa foi motivada por
relatos recorrentes de violência psicológica e física apurados em procedimento
administrativo aberto pelo MPF e em audiência pública, realizada em 2 de julho
de 2025. Entre os elementos que fundamentaram a atuação, está um caso ocorrido
em março de 2024, no qual uma parturiente indígena não recebeu a declaração de
óbito e tampouco pôde levar o corpo do feto para cerimônia fúnebre, em
desacordo com os costumes da etnia – situação que gerou grave sofrimento psicológico
à família.
Relatos
de violência e retirada da autonomia – Na audiência pública, foram relatadas
práticas que configuram violência obstétrica, como a recusa em respeitar o
desejo da gestante pelo parto normal, excesso de cesarianas sem informação
adequada, descarte de natimortos sem consentimento e violação ao direito a
acompanhante. Também foram registrados exemplos de linguagem desrespeitosa por
profissionais de saúde, com frases como: “na hora de virar os olhos não
reclamou” ou “ano que vem você estará aqui de novo”.
A recomendação lembra que a
violência obstétrica é considerada conduta abusiva pela Lei Estadual nº
4.173/2017 de Rondônia, que classifica como tal recriminar a parturiente por
chorar, tratar a mulher de forma inferior ou ignorar suas escolhas. Para o MPF,
essas práticas representam a retirada do protagonismo da mulher no momento do
parto e violam direitos fundamentais, como a dignidade humana e a autonomia
sobre o próprio corpo.
Respeito
cultural e autonomia da gestante – Entre as medidas propostas, o MPF recomenda
a criação de um Plano de Parto Indígena, um protocolo que deve ser elaborado
respeitando a realidade cultural e as preferências da gestante, conforme
determina a legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Convenção nº 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Para viabilizar um parto
culturalmente adequado, os órgãos devem traçar um plano de ação para construir
espaços e salas de parto com mobiliário que considere os costumes tradicionais
de cada etnia. Além disso, é crucial garantir a autonomia da mulher por meio do
consentimento informado para procedimentos invasivos (como cesarianas e
episiotomias) e assegurar o direito a um acompanhante de confiança em todas as consultas
e procedimentos.
Cuidado
humanizado e apoio ao luto – As recomendações também buscam erradicar o mau atendimento e o
uso de linguagem depreciativa por meio do incentivo a boas práticas e
tratamento cortês. Para os casos de perda gestacional, o MPF solicita a
humanização do luto materno e parental, com a adoção de medidas que permitam à
família se despedir, decidir sobre sepultamento ou cremação e realizar rituais
fúnebres conforme as crenças da etnia. Por fim, deve ser instituído um
protocolo para a emissão da declaração de natimorto e sua entrega aos pais para
sepultamento, mesmo que o feto não atinja os parâmetros médicos definidos,
prevenindo traumas psicológicos à família.
Direitos
humanos e respeito à diversidade – A recomendação foi assinada pela
procuradora da República Caroline de Fátima Helpa e pelo procurador da
República Leonardo Trevizani Caberlon. Para eles, a medida visa assegurar que
os serviços de saúde respeitem a realidade cultural dos povos indígenas e
combatam práticas de violência obstétrica que atentam contra a dignidade da
pessoa humana e o direito constitucional à saúde.
Prazos
e encaminhamentos –
Os órgãos destinatários têm 30 dias para informar ao MPF se acatarão a
recomendação e quais medidas serão adotadas. O não cumprimento poderá resultar
em medidas administrativas e judiciais contra gestores e responsáveis.
Cópias da recomendação também
foram encaminhadas à Coordenação dos Cursos de Medicina e Enfermagem da
Universidade Federal de Rondônia (Unir), para análise e inclusão de conteúdos
curriculares relacionados ao contexto cultural indígena.
Recomendação Conjunta nº 5/2025
Procedimento nº 1.31.001.000136/2025-44
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