Segunda-feira, 9 de junho de 2025 - 15h52
Portugal brilha em campo, derrotando gigantes como Espanha (1) e Alemanha, com alma, inteligência e união. Fora das quatro linhas do relvado, porém, reina o conformismo e a mediocridade: uma política sem norte, sem paixão e sem povo. No futebol vemos uma nação inspirada, competente e com talento; na política, um país adiado, parado e resignado sempre à espera do comando próprio.
Nas últimas partidas da Liga das Nações, Portugal conquistou duas vitórias memoráveis: primeiro frente à Alemanha, depois frente à Espanha — duas potências históricas do futebol europeu. Em campo, a seleção nacional mostrou ao mundo aquilo que muitos portugueses já sentiram: inteligência táctica, espírito de equipa, resiliência, e uma ambição que não se esgota com a vitória. Mas mais do que esses resultados, Portugal declarou algo raro nos dias de hoje — uma união autêntica entre os jogadores, os adeptos e a identidade nacional.
Cristiano Ronaldo, mais do que capitão, simboliza uma geração de futebolistas que não joga apenas por títulos, mas por um país. E essa ligação emocional — entre os melhores e o povo — é um dos segredos do sucesso. Há um laço visível entre a elite esportiva e a base popular, algo que se constrói com mérito, trabalho e verdade. Em tempos de descrença generalizada, é no futebol que muitos portugueses voltam a sentir o devido orgulho coletivo tão menosprezado por ideologias estranhas ao povo e por uma governança reduzida a administração de agendas e direcionamentos por vezes estranhas à cultura e contra interesses genuínos do país.
Infelizmente, o mesmo não se pode dizer da política. Onde o futebol dá lições de profissionalismo, superação e sentido de missão, a política nacional mostra-se rotineiramente mais conformada, oportunista, estagnada e sem visão. Governantes evitam assumir erros, não se corrigem, não escutam. Em vez de enfrentar os desafios com coragem e espírito de equipa, escore desculpas hipócritas, retórica vazia e o velho hábito de culpar os outros e na incapacidade de canalizar a energia coletiva do povo para algo produtivo. (Na política, reina a arte da desculpa e da fuga à responsabilidade deixando o país entregue a si próprio, como um estaleiro sem engenheiro. O objetivo parece ser contornar o povo, manter o poder e receber culpas aos outros, evitando a todo o custo uma análise séria das causas dos problemas.)
A política portuguesa transformou-se num campeonato sem concorrência significativa, onde os partidos, enfraquecidos, resultados líderes frágeis. Falta formação, falta exigência, falta ambição. Enquanto no futebol a concorrência entre grandes clubes eleva o nível e cria elites qualificadas, na política escolhem-se gestores do status quo, figuras que escolherão sobreviver ao sistema do que o transformará. Bruxelas, que deveria ser parceria estratégica, tornou-se impeditivo e ao mesmo tempo desculpa permanente para a falta de iniciativa nacional. A submissão acrítica a Bruxelas derrota qualquer impulso de iniciativa nacional e transforma uma potencial política de elite em meros gestores conformados.
E assim, enquanto no campo Portugal se bate de igual para igual com os melhores, nos gabinetes do país continua a funcionar como um estaleiro sem plano nem engenheiro. A nação é tratada como um projeto provisório, sem rumo, sem liderança clara. Pior ainda: a pátria parece já não dizer muito a quem a deveria servir com mais comprometimento.
O exemplo da seleção nacional, com a sua entrega, competência e ligação ao povo, deve ser inspiração. Mas para isso, seria preciso coragem política, visão de longo prazo e, acima de tudo, sentido de missão. Até lá, continuaremos a ver em campo aquilo que preferimos de ver no governo — e a torcer para que um dia, também fora das quatro linhas, Portugal esteja à altura de si próprio. Para a política fica o aviso do selecionado de Portugal, Roberto Martínez: “É preciso ter capacidade para sofrer como equipa, ter resiliência”. Doutro modo, Portugal continuará a erguer-se com alma no relvado e a tornar-se à mediocridade sem rumores nos governos.
António da Cunha Duarte Justo
Nota em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10051
PENTECOSTES: A UNIDADE NA DIVERSIDADE SOB O SOPRO DO ESPÍRITO
A festa do Pentecostes (1) ergue-se como um alto espiritual da Igreja, não como mero acontecimento histórico, mas como perene convocação ao divino no humano. É o esplendor do Espírito Santo que, qual vento impetuoso, desfaz as barreiras confusas de Babel e reconstrói, no fogo da caridade, a unidade na diversidade. Aqui, a linguagem já não é maldição, mas vitória; já não separa, mas congrega.
O Impulso do Espírito envolve-nos na engrenagem da vida através do Pensar-Sentir-Agir!
Na quietude do Cenáculo de Jerusalém, os discípulos, temerosos e recolhidos, são arrebatados pela Ruah divino. Não se trata de um mero sopro, mas de um ímpeto que os lança para além de si mesmos. Pensar, na economia da fé, nunca é estagnação; é inquietação, é quesito que clama por resposta. Como os discípulos, também nós somos chamados a guardar-nos, a interrogar-nos, para que, sem silêncio, o Espírito nos concedeu a resposta que não reside em nós, mas para além de nós.
Sentir, por sua vez, é considerar que a existência não se esgota no eu. É no encontro com o outro—seja na fragilidade do próximo, seja na grandeza dos génios da história e da literatura—que o Espírito revela novas possibilidades. O amor, afinal, é sempre diálogo, sempre relação recíproca.
Não agir está incluído o risco de liberdade. Os Apóstolos, outrara encolhidos no medo, saem a proclamar. A ação, porém, não é isenta de culpa – e aqui reside o paradoxo da condição humana: mesmo quando movidos pelo Espírito, carregamos o peso da falibilidade. Mas Pentecostes nos ensina que é melhor errar na ousadia do que definir na inércia. Importante é primeiramente que o que se faz seja feito com boa intenção no sentido do bem.
O Espírito é a graça (amor) de Deus que envelhece e conduz à renovação e à comunhão!
Pentecostes não é gravação, mas presença, que na vivência interior que move o exterior. É o Espírito que, como seiva invisível, faz desabrochar a Igreja em plenitude. O Espírito não se domestica, não acurrala nem se deixa enclausurar em fórmulas. Ele sopra onde quer — nos simples, nos sábios, nos que choram, nos que esperam e transformam o rumo das coisas. É Ele que, qual artista divino, pinta a unidade com os núcleos da diversidade, fazendo de muitas línguas uma só voz: a do Evangelho.
A Bíblia diz: "Como é que cada um de nós os ouve falar na nossa própria língua?" (Aos 2,8). Eis o milagre: a Palavra não se uniformiza, mas traduz-se. O Espírito não anula as culturas; santifica-as. Não apague as diferenças; transfigura-as em comunhão; não se deixa formular em agendas nem em direcionar políticas motivadas por interesses tornados força nem tão-pouco em ofertas pacotes a que falte a diferenciação. Por outro lado, não se deixa reduzir à arbitrariedade do relativismo cultural e moral que reduz tudo ao igualitarismo. Sem a procura da individualidade natural, não teria desenvolvimento na natureza nem na sociedade. O Espírito Santo é o Sopro de Deus, que atravessa as fronteiras políticas e humanas e permanece na natureza e na humanidade como Paráclito, luz divina e Consolador.
O Pentecostes é legado a ser-se sal da terra!
A abertura ao Espírito da Verdade não é mística passiva; é compromisso. No sentir da Igreja Ele concede-nos os sete dons — Sabedoria (espírito do discernimento), Inteligência (entender o mundo na presença de Deus, uma espécie de intuição das verdades naturais e espirituais), Conselho (na entreajuda e no discernimento de atitudes e crenças), Fortaleza (para encarar a vida de frente se desviar das dificuldades), Ciência (ao nível intelectual, da vivência e da ação para ir interpretando e atrair num mundo em transformação), Piedade (o amor divino presente em nós através da misericórdia) e o Temor de Deus (o dom que nos leva a consideração no Outro o centro da nossa ipseidade, ele ensina-nos o respeito às pessoas e à natureza)—não só para nosso deleite espiritual, mas para que sejamos sal da terra, não nos deixando ficar a marcar passo no horizonte do ego. Ou seja: somos chamados a dar sabor a um mundo insosso e por vezes perverso, para preservarmos a humanidade da mentira, da hipocrisia, da corrupção e do egoísmo.
Deus é Emanuel—o Deus-connosco. E se Ele está ciente, então nenhum medo justifica a covardia, nenhuma rotina justifica a estagnação. Pentecostes é, pois, um eterno recomeço que se expressa na igreja peregrina não nos deixando tropeçar na culpa e no erro.
O Espírito da Verdade é um fogo que como parte da sarça ardente não se extingue!
Hoje, como outrara, o Espírito desce. Não em chamas visíveis, mas no fogo silencioso que arde nos corações que O acolhemos. Ele não nos promete facilidade, mas coragem; não ausência de conflito, mas unidade na diversidade.
Que o Pentecostes não seja apenas memória, mas acontecimento—em nós, através de nós, apesar de nós. Para que, no pensar, no sentir e no agir, sejamos, afinal, testemunhas d'Aquele que é, que era e que há de vir.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10048
No último dia 06 de junho, o escândalo do mensalão completou vinte anos. O esquema, denunciado pelo então deputado federal Roberto Jefferson, à époc
Confúcio não está politicamente morto
Quer queira, quer não queira, é impossível fazer política sem a virtude da habilidade. E essa parece ser uma peculiaridade do senador Confúcio Moura
Sou pobre e nasci numa família de pessoas pobres neste país rico, muito rico. Sou ligado à Igreja evangélica e tenho muito conhecimento atual de pol
No momento em que as ambições políticas se assanham no Estado de Rondônia, movidas pela aproximação das eleições quase gerais, é visível o desespero