Quinta-feira, 18 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

O Brasil que nós queremos



Dom Demétrio Valentini
Bispo Emérito de Jales

Os jornalistas estrangeiros estão querendo entender o que aconteceu no Brasil, com a recente condenação da Presidente da República pela Câmara dos Deputados. Não é fácil dar uma explicação cabal e satisfatória.        

É típico episódio que nos deixa perguntando a quantas andamos na construção de nossa nacionalidade. E aí as perguntas aumentam o leque das causas que estão por trás dos acontecimentos.  

É sintomático, por exemplo, que ninguém se deu conta que a data, 17 de abril, recordava o massacre de Eldorado dos Carajás. Certamente porque aquele episódio ainda incomoda, e deveria ser colocado no esquecimento. Em todo o caso, foi nítida a tendência de transformar uma votação carregada de consequências, em simples espetáculo a divertir uma plateia de dimensões nacionais.              

Assim, para muitos, o domingo à tarde teve uma opção diferente de passar o tempo, para retomar na segunda-feira a faina de sempre.           

O difícil é ler os acontecimentos, e perceber o que eles nos revelam sobre a situação do país. Pensar o país, eis o desafio. Superar a dimensão de espetáculo que diverte, para assumirmos a postura de quem se pergunta como viabilizar um projeto de país, que seja abrangente e adequado às circunstâncias que a realidade e a história nos proporcionam.       

Pensar é laborioso. E muitos preferem deixar esta tarefa para outros. Ao passo que a primeira condição para construirmos um país é a participação consciente dos cidadãos, que precisa começar pela definição de um projeto que contemple todas as dimensões da convivência social.         

Foi sintomático o que aconteceu na última assembleia da CNBB. Foi apresentado um subsídio, denso e consistente, com a finalidade de estimular a reflexão sobre o país, com o título: “Pensando o Brasil”.  A reação dos bispos mostrou que a maioria rejeitava o texto, não porque discordasse do conteúdo, mas porque ele exigia um esforço de leitura e de reflexão.  Quando se prefere não pensar, a situação fica perigosa, pois cedemos o espaço para quem pensa, rapidamente, na defesa dos próprios interesses, e não olha o bem comum.        

Anos atrás a CNBB empreendeu um amplo processo de reflexão sobre “O Brasil que nós queremos”, ou “O Brasil que a gente quer”. Em termos de princípios, deu para chegar a uma definição abrangente, de um Brasil “politicamente democrático, economicamente justo, socialmente solidário, culturalmente plural, regionalmente diversificado, ecologicamente sustentável, e religiosamente ecumênico”.         

Nas utopias é fácil ter consenso. O desafio é passar das utopias para a realidade. Aí se exige um trabalho atento, consciente, persistente, incansável, a partir da própria cidadania, para tornar possível algumas mudanças que são urgentes e estratégicas. A começar, finalmente, pela reforma política, onde deve ser proibida a doação de empresas para candidatos. Pois estas doações se tornaram em fonte principal do desvio de recursos públicos para interesses particulares. 

Em todo o caso, cabe agora a cada um de nós, fazer do episódio de domingo um estímulo para continuar “pensando o Brasil”, e agindo de acordo com nossas convicções, que precisam ser partilhadas, em vista de chegarmos a grandes consensos, que são indispensáveis para o enfrentamento democrático dos graves problemas que ameaçam inviabilizar “o Brasil que nós queremos”.

A importância de um candidato não se mede pelo dinheiro que usa para fazer sua campanha. Mas sim pela consistência de suas propostas, e pelo testemunho de vida que ele apresenta.  

Fonte: CNBB
 

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 18 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Um governo sob pressão

Um governo sob pressão

O governo Marcos Rocha tornou-se alvo preferencial de críticas as mais variadas. Algumas, justificáveis, pois carregam na sua essência o bem-estar d

A questão da ética na politica

A questão da ética na politica

Tenho sustentado neste espaço, até com certa insistência, a importância da ética na política, principalmente quando começam a surgir nomes nos mais

O exemplo do rei Canuto dos Vândalos  O exemplo do rei Canuto dos Vândalos

O exemplo do rei Canuto dos Vândalos O exemplo do rei Canuto dos Vândalos

Houve uma época em que ao roubo e ao furto se aplicava a pena de morte. Eram tempos de barbárie, onde a punição, por mais desproporcional e cruel, n

Mutirão de Saúde: a melhor solução

Mutirão de Saúde: a melhor solução

De todas as tentativas feitas por este e outros governos locais para resolver o grave problema de desassistência à saúde em Rondônia, os mutirões re

Gente de Opinião Quinta-feira, 18 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)