Sábado, 25 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

O ANO NA BALANÇA E O BALANÇO DO ANO QUE VEM


  
* Por: Altair Santos (Tatá)

O cara começou 2008 no maior pique. Prometeu ir pra academia, cuidar da saúde, voltar-se mais pra Deus, ser mais generoso, ajudar os pobres, trabalhar muito e ganhar muito mais, fez votos disso e daquilo. Nascia ali, um projeto de nova pessoa. Tanto planejou que, o curso de 2008 seria pouco para as transformações. O ano, como partícula móvel do tempo, foi, ao sopro do vento, transcorrendo célere, implacável no dia após dia, hora após hora, segundo após segundo, embalando o sujeito na passarela do viver. Lá no início do ano, animado pelos clarins da folia de momo, o estratégico folião entre goles e marchinhas, confetes e serpentinas dizia em pensamento pro seu próprio eu: tudo bem, agora é carnaval, depois a coisa vai mudar! Sucediam-se os meses e o novo homem não saia do papel, ou melhor, do pensamento. Chegou a Semana Santa. Àquela altura, já inseguro quanto às suas atitudes inovadoras, danou-se a pedir a Deus. Foi na Missa e na procissão, acendeu velas, rezou de joelhos e saiu dali, movido pela fé, ao encontro daquele tão sonhado homem novo que ele não fez nascer. Foi ao cinema e assistiu a um filme de superação. Se viu nas cenas, mas não conseguiu, consigo mesmo, entrar em cartaz e protagonizar o enredo da sua própria volta por cima. Já era quase meio do ano e, avistando em cores vivas um projeto em naufrágio revoltou-se, ficou injuriado, se viu em desgraça, bebeu todas, consultou os búzios e os baralhos, jogou culpa em tudo e todos, reclamou do governo, achou que o infortúnio da sua fracassada nova identidade fosse coisa do satanás e tentou sabrecá-lo numa dessas ardentes fogueiras santas e exortá-lo numa sessão de descarrego. Não conseguindo, chamou poderosas correntes com mais mil pastores, foi-se o dízimo e ficaram de plantão os intrépidos capetinhas. Nem precisou muitas contas pra fazer desfolhar por sobre a sua cabeça a árvore das duplicatas, promissórias e cartões vencidos. Sem bússola que lhe apontasse um norte, sentiu-se um “José”, tipo aquele do poema do Drummond e se fez um incerto chutador de latas a vagar numa alameda mal iluminada chamada Final de 2008. Mas a vida parar ali, seria injustiça das maiores. No dia 2 de novembro (finados), foi ao cemitério, acendeu velas no Santo Cruzeiro e simbolicamente – no imaginário – enterrou o seu “eu” inoperante do ano passado e foi pra casa. Lá, enquanto descansa da árdua jornada e se delicia previamente com os quitutes do cardápio natalino, o reflexivo cidadão viaja no pouco de paciência e lucidez ainda em estoque: respira fundo, faz uma pausa... olha para trás e para frente, franze a testa em semblante compenetrado, saculeja os ombros (como quem sacode a poeira) e, sorridente, abre a folhinha de 2009 garimpando nos meses do ano vindouro os feriados, dias santos e datas comemorativas pra juntá-las aos sábados e domingos, replanejando  mais um ano de notáveis transformações. Tim! Tim!

*O autor é músico e Vice-Presidente da Fundação Iaripuna
 tata.anjos@bol.com.br  

Gente de OpiniãoSábado, 25 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O choro do ministro

O choro do ministro

Até assistir ao vídeo do advogado Davi Aragão em seu canal do YouTube eu não tinha a menor ideia do potencial destruidor da Magnitsky. Para mim, era

O perigoso caminho que o Brasil resolveu trilhar

O perigoso caminho que o Brasil resolveu trilhar

O clima político que vem tomando conta do Brasil não reflete, ao contrário do que seria licito esperar, a discussão sadia e construtiva dos graves e

O fim da desigualdade de gênero no Judiciário brasileiro: por mais mulheres no STF

O fim da desigualdade de gênero no Judiciário brasileiro: por mais mulheres no STF

A composição do Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas uma questão de escolhas técnicas ou de mérito jurídico. É, também, um reflexo dos valores

Para além da matriz masculina

Para além da matriz masculina

Uma análise crítica da dominância masculina nas estruturas sociopolíticas e a necessidade de reequilibrar os princípios feminino e masculino Intro

Gente de Opinião Sábado, 25 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)