Cena 01 – Interior/Dia
A quinta edição do Cine Amazônia acontece em um ano em que a pirataria audiovisual, cada vez mais fortalecida, consegue o feito desastroso de fechar as portas de dois dos nossos cinemas: O Cine Brasil, que exibiu o último rolo quarta-feira, 31 de outubro. Citei dois cinemas. O outro infelizmente é o Cine Veneza, fechado para reforma e cuja extinção ainda não foi confirmada. Mas isso é apenas uma questão de tempo. Que se cuide o Cine Rio.
Voltando ao Cine Amazônia. Uma pergunta que não quer calar – O fechamento desses dois cinemas poderia abalar as estruturas do nosso querido festival de cinema e vídeo da Amazônia? Eu mesmo respondo. Claro que não caros leitores (partindo do principio de que mais de uma pessoa leia este artigo). A resposta é simples e óbvia. O Festival, apesar de jovem, já faz parte da história do cinema em Porto Velho. Como bem diz a letra do Hino de Rondônia onde os pioneiros são exaltados, assim podem ser chamados àqueles que nestes cinco anos estão à sua frente do festival, e tendo como nome principal Jurandir Costa. Claro que uma andorinha só não faz verão. Daí destacar também todos de sua equipe e cujos nomes não caberiam neste espaço.
Corta para: Cena 02 – Interior/Noite
O Festival de Cinema e Vídeo da Amazônia iniciou suas aventuras em 2003. Para os “idiotas da objetividade”, como dizia Nelson Rodrigues, isso pode parecer pouco, mas não é. Principalmente em Rondônia onde a arte é relegada a planos inferiores, o festival continua firme e forte a cada ano com o aumento de filmes e vídeos inscritos, aumento de prestígio e consequentemente de exposição na mídia local e nacional. Se existe alguém que quer negar a importância do evento no calendário cultural da cidade certamente este espírito de porco em forma de pessoa deve guardar sua opinião para si sob pena de fazer papel de ridículo e mal informada. Porém a má vontade existe e faz coro e eco. Problemas deles.
Adiante. O Cine Amazônia tem recebido produções em todas as bitolas, e o melhor é que vem batendo recorde de inscritos a cada ano que passa. Por exemplo, este ano foram inscritos mais de duzentos de setenta produções vindas de vários rincões do país. Prova de prestígio. No primeiro ano foram exibidos centro e trinta e oito filmes na mostra competidora e mostra paralela. Isso pode ser chamado de sucesso. Bravo!
Escurecimento. Volta imagem para Cena 03 – Externa/Dia
Aceitando ao convite do curador e coordenador geral do Cine Amazônia, o citado Jurandir Costa, uma das primeiras pessoas que conheci quando cheguei a Porto Velho há dez anos, participei duas vezes do festival. A primeira vez foi em 2005, como presidente do júri, sendo a segunda vez este ano quando eu juntamente com a historiadora Nilza Menezes e a jornalista Sara Xavier participamos do árduo e espartano processo de seleção dos filmes e vídeos inscritos.
Este trabalho é uma verdadeira maratona que exige de nós muita atenção, critério, paciência e discernimento para que no final do processo tenhamos escolhido os melhores para participarem do festival. Foi assim durante uma semana. Mas no fim, apesar do cansaço, o público irá gostar quando assistir de 13 a 17 de novembro as produções que entrarão para a história do Festival de Cinema e vídeo da Amazônia. Assim como eu, Nilza Menezes e Sara Xavier.
Nestes cinco dias Porto Velho estará de olhos voltados para o Cine Amazônia. O Mapinguari gigante que nos habituamos a ver quando chegamos ao local de exibição, estará mais uma vez nos esperando. Deus salve o Mapinguari. Deus abençoe o Cine Amazônia.
Corta para: Cena 04 – Interior/Noite
No principio a minha proposta era contar a história do festival e de seus realizadores, filmes e homenageados, mas a minha pretensão durou pouco, pois logo percebi que não se trata de contar a história, mas as histórias que fazem este evento. Deixo o encargo para alguém mais competente. O que não me impede de registrar aqui minhas impressões sobre o tema.
Quando o festival começou a germinar, na verdade bem antes daqueles três dias intensos de outubro de 2003 com o tema “A universidade pensando o meio ambiente”, o Cine Amazônia começou muito bem, obrigado. O público ávido por cultura respondeu ao chamado da floresta e do cinema. O cenário de estréia foi Cine Veneza com direito a tapete vermelho, como mando o figurino, muitas câmeras, luzes, microfones, entrevistas, convidados e o mais importante, o público. O começo foi assim. O resto são histórias e lendas com sutis reviravoltas na trama e troca de personagens. Mas a vida é assim mesmo.
O Cine Amazônia tem recebido inúmeros convidados e homenageado nomes consagrados do cinema nacional como os atores Marcos Palmeira, Lucélia Santos, Dira Paes, Antonio Pompeu, Othon Bastos, e diretores como Ruy Guerra, Zelito Viana, Maurice Capovilla, Jorge Bodanzky, Hermano Penna, isso sem esquecer de mencionar o poeta Thiago de Mello, a jornalista Paula Saldanha entre tantos outros que com sua presença legitimaram ainda mais o nosso festival.
Para mim a lembrança mais viva e emocionante do Cine Amazônia aconteceu na edição de 2005 quando tive a oportunidade única de conhecer e conversar com um dos maiores cineastas brasileiros – Nelson Pereira dos Santos. Para mim um gênio que reflete em sua humildade toda a grandeza de um cineasta impar na história do cinema brasileiro em todos os tempos. Guardo até hoje a foto onde estou ao seu lado. Melhor impossível.
A história do Cine Amazônia continua. Mas isso é outra história que tem sua continuidade a partir do dia 13 de novembro. E outra pessoa terá de contá-la.
Corta. Escurecimento
Humberto Oliveira, cinéfilo e jornalista
Porto Velho, 02 de novembro de 2007.
Quarta-feira, 4 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)