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Lek lek Lek


Lek lek Lek - Gente de Opinião
Por: Altair Santos (Tatá)

Pronto, era o que faltava! Entramos pra lista dosarautos do fim do mundo. Antes de ardermos numa fogueira, em praça pública, vamos pedir perdão ao Papa Chico, o argentino da vez, ou então pro seu chefe, Deus todo poderoso, que tem maior patente e poder, além de brasileiro como nós. Mas agora acaba esse mundo doido! Tanto fizeram que dessa ele não escapa. Não é possível, a cada dia o troço piora! Parece mesmo que estamos prá lá da casa de mãe Joana, bem na esquina do musicalmente sem jeito! Em plena semana santa descobrimos que o nosso grande pecado é a música mortal, aquela que não diz nada, não é nada, mas leva à loucura e ao encontro com a morte e sua afiada foice da degola. As tristes notícias do falecimento do Emílio Santiago na semana passada e o coma irreversível do grande sanfoneiro Dominguinhos, o último the best do sertão,  nos trouxe muita tristeza. Como não bastasse, tem ainda as catástrofes de todas as ordens que assolam a música brasileira. A MPB vem sendo violentamente trucidada nos últimos anos. Virou alvo indefeso, verdadeiro tronco de açoite e extermínio, sob os auspícios da famigerada indústria cultural que voa em céu de brigadeiro impondo sua doutrina, derramando sobre nós as suas porcarias, criando a submissa massa de manobra e reinando absoluta, ditando as regras que levam ao consumo exagerado de doses cavalares desse irreversível veneno. De há muito os caras inventaram e botaram pra funcionar uma grande geringonça que liquidifica e joga no lixo o que é bom. As composições e produções qualitativas, quando de suas aparições tem vida curta, nascem na aurora e logo perecem, sucumbem antes do arrebol, vitimadas pela voracidadedo monstrengo avassalador. Pior, essa máquina do apocalipse produz, em irrefreável escala, toneladas de gravações com o rótulo do mau gosto, bugigangas não recicláveis. São cd´s, dvd´s, clips, além de shows e outros vastos conteúdos desconectados da formação e da informação. Apartado da poesia e do melodioso, esse nutriente da deseducação se avoluma por todo o planeta e se propaga pelas ondas (tsunamis) de muitas rádios fm´s e programas de TV, casa de shows, lojas de disco e especializadas bancas de pirataria, os ditos showroom dessas invenções. Seus efeitos são de potentes ogivas catastróficas e vão destruir cérebros, aniquilar cucas boas e ruins. E assim, antes da escuridão total, o paupérrimo da música, feito o éter do alucínio, vai agir no cérebro levando a humanidade à demência cultural. Moribunda e apátrida, será ela transeunte do sem rumo. Vixe! Credo em cruz! Ave Maria! Toc toc toc na madeira com dedos cruzados! Deus nos livre dessa máquina do fim dos tempos! Acordem profetas do fim do mundo, espertai-vos torcedores do Nostradamus e simpatizantes do calendário maia, vinde! xamãs do mundo inteiro, adivinhões e palpiteiros do universo, levantem-se, sublevem-se! Quem vai acabar com o mundo já está entre nós e não vai ser é céu quando cair ou os mares quandosubirem, nem mesmo a besta fera quando pintar na área. Em nosso meio já desfila com seus apelos e poder de arrebatamento a anti-música, vamos explodir, é o juízo final! Agora o volante da MPB é seu, pegue-o, segure firme e saia em desgovernada balada com o lek lek o hit que chama pra uma possível viagem sem volta já que você “vai  girando,  girando, girando prum lado, depois girando, girando, girando pro outro, aaaaaah leklek lek lek lek...”  Aí já viu né? Tonto que o cabra está é só cair e esperar o piripaque final! O ruim desse negócio é que a pessoa com o labirinto em total plano de desordem, por tamanha tontura, não contempla os detalhes de tão arrebatadora poesia, os arranjos, a orquestração, que pena! E não pense que alguém está imune, todo mundo vai ser acometido, a letra joga a praga final dizendo: “nas comunidades esse passinho já estourou, dança até titia, vovó e também vovó”. Este é apenas o saldo do esforço concentrado de uns adolescentes duma comunidade no Rio de Janeiro que, artesanalmente, produziram um vídeo, jogaram na internet e puft, aconteceu! A indústria cultural, esfomeada como ela só, já se apropriou, botou debaixo do braço e empurra a toda hora esse negócio pra gente engolir. Até o Neymar, aquele jogador arrepiado, aderiu, ao invés de procurar jogar bem pela seleção canarinho. Tá vendo torcida brasileira, não tem mesmo como sair à francesa, sua hora é chegada! Essa coisa de volante na MPB é uma realidade que já trouxe até aqui, muita coisa ruim, ninguém veio a pé, todos vieram trazidos de alguma forma e jeito, são os passageiros do avião do forró, bonde forró, trem do forró e caroneiros do camaro amarelo. Até nas asas dos gaviões do forró veio gente proliferando por aqui mais uma praga em forma de música, kkkk! Nos próximos dias descerá em terras karipuna ele, o astro, o incomparável, o bam bam bam, o pegador, o novo rei da música  - pelo menos nos próximos quatro meses - Wesley Safadão e sua banda Garota Safada. Como ele vem aportar aqui não sei; talvez trazido pelos ventos que sopram a nau da safadeza pra tudo que é lado! Kkkkk! Como não tem escapatória, comprarei ingressos pra mim e alguns amigos, dentre eles, o Sílvio Santos, Ernesto Melo, Basinho, Oscar Knightz, Misteira, Pedro Vilson, Bainha e outros mais. E que o bom Deus cuide do que sobrar de nós, se é que vai sobrar!

O autor é músico e produtor cultural

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