Sexta-feira, 9 de julho de 2010 - 20h24
Há poucos dias, num encontro com os seminaristas, eu lhes dizia que a crise por que passa parte do clero – e que, por bem ou por mal, veio à tona precisamente durante o Ano Sacerdotal –, está a exigir que os candidatos à vida religiosa e presbiteral tenham ficha limpa. Pois só poderão exigir dos fiéis – sejam eles médicos, advogados, políticos, fazendeiros, empresários, etc. – o que eles próprios se esforçam por viver. Caso contrário, incorreriam na crítica que Jesus dirigia às lideranças de seu tempo: «Amarram fardos pesados e os põem nos ombros das pessoas, enquanto eles não estão dispostos a movê-los nem sequer com um dedo» (Mt 23,4).
Pelo que parece, porém, ficha limpa é um privilégio reservado às crianças de peito, pois só elas não foram ainda contaminadas pelo mal. As demais, ao chegarem ao uso da razão – como se dizia antigamente – passam a ser bombardeadas pelos sete vícios capitais. E, em pouco tempo, a ficha limpa se transforma em ficha suja... Ainda bem que a misericórdia de Deus é infinita e realiza milagres que a justiça humana não percebe nem consegue. Desta forma, um criminoso pode readquirir ficha limpa em poucos instantes. É o que a Bíblia garantia muitos séculos antes de Cristo revelar a verdadeira face de Deus, que é amor: «Se o pecador se arrepende de todos os erros que fez e passa a praticar a justiça e o direito, ele viverá, não morrerá. Todo o mal que tiver feito, não será mais lembrado. Pois eu não sinto prazer com a morte do pecador» (Ez 18,21-23).
Isso diante de Deus – o que é sempre o mais importante. Aqui na terra, porém, cada um deve pagar pelos seus erros. Nesse sentido, deve-se reconhecer que a Ficha Limpa é um grande presente que a população honesta do Brasil ofereceu a quantos lutam por uma sociedade alicerçada na justiça, na solidariedade e no bem comum. Talvez nem todos saibam que essa vitória do bem sobre o mal se deve, em grande parte, à ação da Igreja Católica, que colaborou com 1.600.000 assinaturas para a aprovação da lei.
Foi o que lembrou Dom Geraldo Lyrio Rocha, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no dia 25 de junho de 2010: «A ação da Igreja Católica foi indispensável para a aprovação da Lei Ficha Limpa, pois contribuímos desde as comunidades até as paróquias e dioceses, o que, em números, significa 90% da contribuição, dados que nos orgulham muito».
Sobre as eleições políticas programadas para o início de outubro, o prelado afirmou: «A Igreja espera uma corrida eleitoral justa e democrática, com respeito ao diferente e à diversidade de nosso país. Ao eleitor, pedimos que avalie os candidatos e lembre que o processo eleitoral não termina ao confirmar o voto, mas continua ao longo dos mandatos».
No dia seguinte, confirmando a sintonia de intentos entre o episcopado brasileiro, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, afirmou que a Lei Ficha Limpa é «um instrumento de valor incalculável para garantir que as eleições sejam, de fato, uma oportunidade de mudanças e de novo tempo na vida da sociedade brasileira. A conduta “ficha limpa” é indispensável para que uma eleição seja, de verdade, um grande ganho que assegure avanços na sociedade».
E, referindo-se aos candidatos, o arcebispo acrescentou: «Todos sabem que é fácil falar e prometer. O desafio é ser capaz de cumprir. Não cumpre, ainda que tenha competência executiva ou de outra ordem, quem não tem autoridade moral. No processo de discernimento e nas escolhas é preciso considerar a medida da credibilidade de cada candidato. A credibilidade moral precisa ser acolhida como critério determinante de escolhas, colocando-a acima da filiação ou de simpatia partidárias, da sedução das promessas e, particularmente, da troca de favores, pagamentos e outras barganhas. É hora de redobrar a atenção e o interesse, e fazer, pelo voto, escolhas que possam garantir novos rumos nesse momento de eleições e de mudança».
A prática, porém, nem sempre se ajusta à teoria; assim, sobrarão artimanhas a candidatos de ficha suja para continuarem a fazer o que sempre fizeram. Nem faltarão magistrados e eleitores que os compreendam e apoiem...
Dom Redovino Rizzardo
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