Domingo, 24 de abril de 2011 - 10h26
Existe uma falsa impressão de que as mulheres chegaram ao poder recentemente. Claro que é só uma falsa impressão. Embora não tenha sido frequente, há casos de mulheres que foram peças decisivas, como Cleópatra. A última rainha do Egito tinha, entre diversas qualidades, uma extrema habilidade política. E foi essa habilidade que colocou em prática quando lidou com Roma. Ela resistiu ao poderoso e devastador exército do Império Romano, que já havia subjugado nações da Europa, Ásia e África. Para isso, contou, sem dúvida nenhuma, com a sua capacidade de sedução pessoal e também com uma sólida formação cultural. A capacidade de falar oito idiomas ajudava nas negociações e lhe dava uma sofisticada visão estratégica.
Reproduzida pelos pintores, biografada por escritores, representada por estrelas de cinema, Cleópatra é um dos grandes mitos da História. Optando por um olhar inovador e contemporâneo, a autora desse livro, publicado pela Editora Contexto, a jornalista Arlete Salvador, capta uma Cleópatra sedutora e fascinante, mas também culta e inteligente, uma mulher do nosso tempo no Egito de 20 séculos atrás, além de ser extremamente hábil em política. Distante da imagem de simples objeto sexual, que certos filmes e livros tentaram passar, Cleópatra era uma estrategista e uma líder respeitável, em um período fundamental para a consolidação do poder de Roma. Ela possuía uma cultura invejável: grande negociante, estrategista militar, falava pelo menos oito línguas e era versada em filosofia, alquimia e matemática.
Ao optar por um olhar desmistificador, a autora nos apresenta um livro fascinante. Ao se decidir por uma narrativa leve, sem erudição desnecessária, nos revela uma rainha mais próxima do leitor, com dúvidas e inquietações que poderiam ser de qualquer um(a) de nós. Daí que o livro, escrito com surpreendente bom humor, é daqueles que se deixa ler com grande prazer.
Cleópatra teria mesmo se deixando picar por uma cobra venenosa? Ela teria sido tão bonita quanto Elizabeth Taylor no filme que a consagrou atriz como Cleópatra em 1963? O livro analisa e responde as indagações sobre os atributos físicos e intelectuais da rainha. Afinal, ela era egípcia, mas nem tanto, já que foi herdeira de uma linhagem (os ptolomeus) que se inicia com Alexandre, o Grande, da Macedônia.
Além do aspecto político, a vida de Cleópatra tem amor, sexo e sedução. A rainha foi amante de dois dos homens mais poderosos do mundo naquele tempo. Teve um filho com Júlio César e três com Marco Antônio. Ela inicia sua derrocada ao se tornar centro da disputa entre Marco Antônio e Otávio pelo comando de Roma. Amante e aliada política de Antônio, Cleópatra era apontada como a responsável pelos desentendimentos entre os dois. Em uma das batalhas navais mais impressionantes da história, a esquadra de Cleópatra e Marco Antônio enfrentou a de Otávio nas águas do mar Jônico, na costa da Grécia. A contenda terminou com a vitória de Otávio e a debandada de Marco Antônio e Cleópatra, numa manobra controversa até hoje. Teria Marco Antônio traído seus soldados, abandonando-os no meio da guerra?
Analisando o mito em torno de toda a história de Cleópatra, é possível verificar como a imagem da última rainha do Egito modificou-se ao longo do tempo. Cada época a viu de um jeito. Ela já foi tratada como cortesã, feiticeira e até como prostituta, embora tenha se envolvido com apenas dois homens em toda a sua vida. Vários estudos surgiram sobre os anos de seu reinado e sua participação no destino político de Roma e do Egito. Dessa escavação surgiu uma mulher corajosa e avançada para o seu tempo, embora ambiciosa e pragmática ao lutar para manter o poder e o reino. Cleópatra reúne todos os ingredientes de uma personagem de ficção, mas é real. Daí sua presença como mito até hoje.
Arlete Salvadoré jornalista especializada em política e mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Trabalhou em alguns dos mais prestigiosos órgãos de imprensa do país, como a revista Veja e os jornais O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense. Atualmente, é assessora para Assuntos Políticos do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo.
PALAVRA DA AUTORA
“Quando pensei em pesquisar a vida da Cleópatra foi porque ela é uma mulher muito atual - foi à luta para manter o reino e o poder, namorou quem quis e foi execrada por isso. Não é o que as mulheres vivem ainda hoje? As que vão à luta ainda são vistas como meninas más, feiticeiras e sedutoras do mal. Fosse homem, Cleópatra seria considerada heroína.”
“A primeira coisa que eu fiz, quando pensei em escrever sobre Cleópatra, foi ir a uma dessas novas e grandes livrarias. Acredite - eu encontrei apenas um livro sobre ela e era uma tradução do inglês para o Português. Era sinal de que, no Brasil, só conhecemos a rainha do Egito por meio do cinema e da televisão. Comecei a ir atrás de livros sobre ela em inglês. Aí, a lista é enorme. Uma infinidade de autores, entre historiadores, jornalistas e egiptologistas, já escreveu sobre ela.”
“Nessa garimpagem, eu descobri que a fonte de consulta de todos eles são dois escritores clássicos: Plutarco e Cássio Dio. Eu me dediquei a eles com afinco, porque também não encontrei traduções dos livros deles para o Português. Encontrei alguns volumes de Vidas Paralelas, de Plutarco, em sebos, mas não era o que me interessava. Eu estava atrás das vidas de Julio César e Marco Antônio, que contam o romance deles com Cleópatra. Então, recorri a traduções do grego para o inglês.”
“Outra parte importante da minha pesquisa envolveu a guerra do Ácio. Pesquisei vários textos militares para entender o que aconteceu na batalha final de Otávio contra Marco Antônio. Também vi todos os filmes dedicados a Cleópatra e, claro, li a versão de Shakespeare para o teatro. Aliás, a fonte de Shakespeare também é Plutarco.”
Serviço
Livro: Cleópatra
Autora: Arlete Salvador
Formato: 16x23 cm; 160 páginas
Preço: R$ 29,90 Informações
Fonte: Fábio Diegues
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