Segunda-feira, 8 de setembro de 2025 - 16h55
A produção de energia, seja de fontes renováveis ou
não renováveis, inevitavelmente causa impactos no meio ambiente e na saúde dos
seres vivos. A geração de energia, a partir de combustíveis fósseis, contribui
para a poluição do ar com gases tóxicos e emissões de gases de efeito estufa,
agravando o estado de emergência climática. Já a poluição por minérios
radioativos se dá pela contaminação do meio ambiente, proveniente de atividades
como mineração, usinas nucleares, uso bélico, e acidentes com vazamento de
materiais radioativos. Esta contaminação pode causar sérios danos, com efeitos que
variam, dependendo do tipo de material radioativo, dose e forma de exposição.
Um dos líderes mundiais na produção de energia
elétrica com fontes renováveis, o Brasil tem cerca de 90% da oferta de energia
elétrica constituída por energia hidroelétrica, eólica, solar e biomassa.
Possui duas usinas nucleares, e uma terceira inacabada, cuja construção começou
nos anos 80 do século passado. A contribuição nuclear à matriz elétrica é
inferior a 2% da potência total instalada, e a energia produzida é inferior a 3%
de toda energia gerada no país. Esta insignificante participação na matriz
elétrica não tem impactado a segurança energética, como
afirmam os lobistas da energia nuclear.
Aproveitando os desafios das mudanças do clima,
novos e distorcidos argumentos vêm sendo divulgados a favor da expansão de
usinas nucleares para as próximas décadas, para a descarbonização e para
garantir a segurança energética. Para justificar a necessidade de novas usinas
apelam para a desinformação, a negação da Ciência e a falta de transparência na
divulgação de informações importantes para a opinião pública sobre os reais
riscos e os aspectos econômicos envolvidos.
O setor nuclear brasileiro tem uma trajetória de
passado nebuloso, repleto de episódios controversos. Entre eles, está o
secretismo do Programa Nuclear Paralelo/Clandestino, a corrupção no Acordo
Nuclear Brasil Alemanha que originou uma CPI, o contrabando e exportação de
areias monazíticas do litoral capixaba/baiano/fluminense, paralisação das
atividades do Grupo do Tório da UFMG, a irresponsabilidade e o déficit de
competência técnico-gerencial, as propinas milionárias recebidas por gestores
do setor, a falta de controle social, o legado de morte e contaminação deixado
pela (antiga estatal) na extração de terras raras, a tragédia do Césio-137 em
Goiânia, o enorme passivo ambiental da mineração de urânio, no Planalto de
Poços de Caldas/MG e em Caetité/BA, a insegurança em radioproteção acarretando
roubos e sumiços de radiofármacos e de fontes radioativas, e a omissão de informações
cruciais para a população sobre graves ocorrências, como vazamentos de água
radioativa das usinas nucleares, em Angra dos Reis/RJ. Esses e outros episódios
aprofundaram perante a opinião pública o crescente descrédito sobre o
desempenho da indústria nuclear e de seus gestores, privilegiados com
supersalários. Este ano, o desgaste da Eletronuclear (responsável pelas usinas)
ficou bem evidenciado, perante uma crise financeira sem precedentes que acabou
numa inédita greve dos trabalhadores das usinas e da parte administrativa,
causando prejuízo diário de R$ 5 milhões.
Em resumo, a produção de energia tem um impacto
direto no meio ambiente e na sociedade e é fundamental buscar soluções
sustentáveis para garantir um futuro mais equilibrado. A nuclear está longe de
ser a salvação.
Negacionismo nuclear
Algumas inverdades propagadas são motivadas pelas
consequências políticas e econômicas que representam, merecem esclarecimentos:
Energia nuclear é inesgotável
As usinas nucleares existentes em sua grande maioria,
utilizam como combustível o urânio 235 (isótopo físsil do urânio), encontrado
na natureza na proporção, em média, de 0,7%, dentre os isótopos de urânio.
Todavia é necessária uma concentração entre 3%-4% para ser usado como
combustível. Assim é necessário enriquecê-lo, para aumentar o teor do elemento
físsil. Com a atual tecnologia haverá urânio 235, suficiente para mais 30-50
anos, para atender as usinas nucleares existentes.
Nuclear é barata
É muito mais cara do que nos fazem crer, sem contar
com os custos de armazenagem do lixo radioativo, e do desmantelamento das
instalações no fim da vida útil da usina, que tem custo estimado entre 25-30%
ao de sua construção. Segundo estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) realizado em 2024, no âmbito do projeto de Angra 3,
o custo da energia nucleoelétrica está em torno de R$ 653,31 por MWh, cerca de
2 a 3 vezes mais que o da solar fotovoltaica, eólica e hidroelétrica. A omissão
de informações é prática recorrente. Seguem em sigilo, por exemplo, estudos
comparativos entre alternativas de geração, finalizados pela Empresa de
Pesquisa Energética, desde 2022.
Desastre nuclear causa baixa mortalidade
O contato de seres vivos, em particular de humanos,
com a radiação liberada, tem efeitos biológicos dramáticos, e vai depender de
uma série de fatores, como o tipo de radiação, o tecido vivo atingido, o tempo
de exposição e a intensidade da fonte radioativa. Em casos de acidentes severos
já ocorridos, o número de mortes logo após o contato com material radioativo
não foi grande, mas as mortes posteriores foram expressivas. Nestes casos, a
dificuldade de contabilizar a verdadeira taxa de mortalidade é dificultada pela
mobilidade das vítimas. Pessoas que moravam próximas ao local destas tragédias,
e que foram contaminadas, se mudam, ficando praticamente impossível acompanhar
caso a caso.
A nuclear é segura
Embora o risco de acidente seja pequeno, é preciso
considerá-lo, pois já aconteceu em diferentes momentos da história e possui
consequências devastadoras. Um desastre nuclear torna a área em que ocorreu
inabitável. Rios, lagos, lençóis freáticos e solos são contaminados e ainda
ocasiona alterações genéticas em seres vivos. Não existe risco zero.
O uso da nuclear cresce
Esta é uma falácia recorrente dos que creditam a
esta tecnologia um crescimento mundial. Vários países como Alemanha, Áustria,
Bélgica, Itália e Portugal têm dificultado a expansão de usinas, e mesmo
abandonando a nucleoeletricidade. O movimento antinuclear tem crescido entre a
população em diversos países, como França e Japão.
Nuclear é necessária
No caso do Brasil, duas usinas existentes
participam da matriz elétrica. Embora as projeções governamentais apontem para
mais 10.000 MW até 2050, assim mesmo, a contribuição da nucleoeletricidade será
inferior a 3%. O Brasil, que tem uma biodiversidade extraordinária e fontes
renováveis em abundância, não precisa de energia nuclear.
É limpa
No ciclo do nuclear várias fases e processos industriais
estão envolvidos na fabricação do combustível, utilizado para produzir
eletricidade. Desde a mineração até a produção de energia, ao armazenamento dos
resíduos e a desativação das usinas, há emissões de gases de efeito estufa. No
caso dos resíduos (o chamado de lixo atômico), compostos por tudo o que teve
contato com a radioatividade, parte dele extremamente radioativo, precisa ser
isolado do meio ambiente por milhares de anos. Não existe até o presente uma
solução definitiva de como armazená-lo. Um problema não solucionado que será
herdado pelas gerações futuras.
Aos finalmentes
Não existe uma fonte que só tenha vantagens. Não há
energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidor que tem qualquer
vazamento de radiação, não deve ser usada para produzir eletricidade.
Os registros de câncer, malformações,
infertilidade, doenças cardíacas e síndromes genéticas são as consequências da
radiação que impactam profundamente a saúde física e mental. Os impactos da
radioatividade seguem presentes no solo, na água e na fauna local, e
continuarão afetando gerações por milhares de anos.
Não é segredo para ninguém a nefasta simbiose entre
a energia nuclear e a indústria bélica. A tecnologia atômica está no DNA de
todos os programas nucleares, mesmo os chamados de “pacíficos”. O Brasil domina
a tecnologia do ciclo do combustível nuclear e preocupa porque, segundo a World
Nuclear Association (Associação Nuclear Mundial), é uma das 13 nações capazes
de enriquecer o minério, imprescindível para a fabricação da bomba atômica. Tem
cobiçadas reservas de urânio e planeja construir mais usinas nucleares.
Os conflitos geopolíticos atuais (Ucrânia X Rússia,
Israel X Gaza/Irã e outros) vimos, ao vivo e a cores, instalações nucleares serem
atacadas nessa nova escalada da corrida armamentista, enquanto órgãos como a
Organização das Nações Unidas e a Agência Internacional de Energia Atômica
perderam a credibilidade na mediação e de prevenção, além da capacidade para
controlar sequer o uso de artefatos de urânio empobrecido e as armas nucleares
táticas.
Todavia, o perigo nuclear que nos ronda está não só
na fabricação e uso de armas nucleares, mas também na proliferação dessas
usinas, que usam o urânio 235, enriquecido, produzindo resíduos altamente
radioativos. Um desses resíduos é o plutônio-239, isótopo físsil utilizado na
bomba lançada em Nagasaki (Japão).
A postura agressiva das empresas, que investem
pesado na falsa propaganda de que a energia nuclear é limpa, tentando
neutralizar o natural rechaço da população à esta nefasta tecnologia, encontra
amparo na ONU, que usa erradamente a expressão Energia Limpa no seu 7o Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em que declara “que a energia limpa e
acessível assegura o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível
à energia para todas e todos”. É necessária e urgente a correção deste equívoco
em documentos institucionais, nos debates, produções acadêmicas, entre
militantes socioambientais e as pessoas comprometidas com o desarmamento e a
cultura da paz global.
Texto publicado na revista Diálogos
Socioambientais, v. 8 n. 22 (2025): Existe energia limpa? Da Universidade
Federal do ABC – UFABC (SP)
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