Quarta-feira, 15 de outubro de 2025 - 13h23
Na véspera do Dia dos Professores, durante um evento institucional
promovido pela Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), que reuniu diversas
autoridades e representantes públicos, incluindo dois deputados estaduais, o
que poderia ser um momento que valorizasse o papel do professor acabou se
transformando em motivo de indignação.
Um dos parlamentares afirmou que “ser professor é um sacerdócio, que o
professor trabalha por amor”. O outro, em tom semelhante, declarou que “ser
professor não é profissão, é missão” e completou dizendo que “o professor
transmite conhecimento”.
Difícil permanecer indiferente diante de discursos assim. Eu mesma,
confesso, me contorci na cadeira ao ouvir tamanha insensatez. Sacerdócio? Desde
quando exercer a docência é equivalente à autoridade de representar Deus na
Terra? O sacerdócio, até onde sabemos, é uma função religiosa, atribuída a quem
recebe a incumbência espiritual de servir ao divino.
E missão? Missão é a tarefa que alguém executa a pedido de outrem,
geralmente sem caráter profissional, sem vínculo formal ou remuneração.
Mas talvez o ponto mais preocupante dessas falas tenha sido a afirmação
de que o professor “transmite conhecimento”. Ninguém transmite conhecimento. O
ato educativo é, como defende a perspectiva histórico-crítica, um processo
dialógico e mediador, em que professor e estudante constroem o saber de forma
coletiva e crítica, a partir da realidade concreta e das contradições sociais.
Reduzir o ensino à simples “transmissão” é negar o caráter emancipador da
educação.
Essas declarações, proferidas justamente por quem ocupa cargos de
representação política, revelam o quanto o discurso da “vocação” e do “amor à
profissão” ainda serve para mascarar a desvalorização histórica do magistério.
Sob uma perspectiva histórico-crítica e cultural, é possível perceber que essa
visão romântica e distorcida da docência — ora como missão divina, ora como
mera transmissão de conteúdos — é fruto de uma construção social que busca
subordinar o trabalho docente, desconsiderando sua natureza intelectual,
científica e transformadora.
Trabalhamos, sim, por compromisso ético e pela convicção de que a
educação transforma vidas. Mas não — não trabalhamos por amor. Trabalhamos por
direito, por dever profissional, por reconhecimento do saber e do esforço que
nos constitui como educadores.
Em condições, muitas vezes, precárias, com salários baixos e pouco
reconhecimento social, seguimos dedicados à formação de cidadãos críticos. São
anos de estudo e aperfeiçoamento contínuo: quatro de graduação, dois de
especialização, mais dois de mestrado, quatro de doutorado — e a formação não
para aí. Participamos de grupos de pesquisa, eventos, congressos e publicações
acadêmicas. Ainda assim, ouvimos de quem ocupa cargos de representação que
nosso trabalho não é profissão, mas uma “missão”.
Declarações como essas desrespeitam e desvalorizam uma categoria que
carrega sobre os ombros a base de todas as demais profissões. Ser professor é,
sim, uma profissão. E uma das mais complexas e essenciais à sociedade.
Neste Dia dos Professores, é fundamental reconhecer a importância social
e cultural da docência — um trabalho que ultrapassa os muros da escola e
contribui diretamente para a construção de uma sociedade mais crítica, justa e
consciente, com cidadãos capazes de refletir, questionar e transformar a
realidade em que vivem.
O que esperamos, portanto, não são discursos vazios, mas reconhecimento
concreto: políticas públicas de valorização, melhores condições de trabalho,
salários dignos e, sobretudo, o respeito à nossa identidade profissional.
Que discursos romantizados e ultrapassados deem lugar à valorização real
daqueles que ensinam a pensar — inclusive, a pensar criticamente sobre
quem nos representa.
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