Segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025 - 13h15
Art.
1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
I
– a soberania;
II – a cidadania; .... in Constituição Federal - 1988
No final do Sec XX, a geopolítica
pós-Guerra Fria fez o Exército dos EUA definir quatro características do
ambiente estratégico global, na previsão de onde os futuros conflitos poderiam
se desenvolver: o chamado mundo VUCA, sigla para volatility/volatilidade,
uncertainty/incerteza, complexity/complexidade e ambiguity/ambiguidade.
Mais recentemente, em 2018, o antropólogo americano Jamais Cascio apresentou o chamado
mundo BANI, brittle, anxious, nonlinear e
incomprehensible, ou seja: frágil, ansioso, não-linear e incompreensível.
Os mundos VUCA e BANI evidenciaram-se na pandemia, nas enchentes do Rio Grande
do Sul, nos incêndios da Califórnia, na eleição de Trump. Eventos globais
inéditos que expuseram nossas vulnerabilidades, geraram intensas cargas de
ansiedade coletiva, agravada por respostas não-lineares e incompreensão
generalizada, consequências da incapacidade de processar a avalanche de (des)informação
que nos chegava por inúmeras fontes, incessantemente.
Quanto ao
ambiente geopolítico, confirmaram-se as previsões do aumento das hostilidades militares.
A Academia de Direito Internacional Humanitário e de Direitos Humanos de
Genebra-Suíça computou 110 conflitos armados em curso no mundo em 2024, alguns
deles em andamento há mais de 50 anos. Dentre estes, a guerra do Hamas com
Israel, e a da Rússia contra Ucrânia são aquelas de maior possibilidade de se expandirem
além das regiões onde são travadas. Neste sentido, as perspectivas de evolução
e as consequências desses conflitos, a provável escassez mundial de recursos
naturais previstos já em 2050, além do avanço do emprego militar da
inteligência artificial (IA), deveriam estar balizando os planejamentos estratégicos
do Brasil, neste primeiro quartil do Século XXI. Entretanto, no Brasil, a missão constitucional
de defesa da Pátria – atribuída às Forças Armadas – tem sido relegada ao
descaso, por querelas políticas paroquianas, incompetência estratégica e
ignorância geopolítica aguda do atual governo. Lula e seus ministros continuam chafurdando no
pântano dos ressentimentos do regime militar, com assombrações universitárias de
golpe e vingancinhas pessoais sendo externadas em decisões leigas desprovidas
de qualquer fundamento operacional, cortes orçamentários espetaculosos, e em
provocações extemporâneas de revisão da Lei de Anistia.
No campo
interno, assistimos a impotência do Estado diante da criminalidade, que
atualmente domina presídios e comunidades urbanas (mais de 900, só no Rio de
Janeiro), e até já se infiltrou na política. O Ministério da Justiça e o STF continuam fingindo
não ver a perda do monopólio da violência institucional do Estado para os
criminosos. O problema deixou de ser de segurança pública, quando passamos a
viver uma guerra assimétrica, com danos à soberania e à cidadania em grande
parte das periferias das metrópoles brasileiras já sendo aceitos até como “naturais”.
No campo
externo a situação se agrava com política diplomática modelo sindicato dos
metalúrgicos, alimentada pela ambição pessoal de Lula e reforçada por
áulicos do seu entorno, o que está levando o País a perder seu histórico
conceito de mediador de divergências internacionais. Em sua megalomaníaca pretensão
de se tornar um “Mandela Tupiniquim”, nosso Presidente tem se manifestado de
forma provinciana nos fóruns internacionais, sugerindo soluções simplórias para
os conflitos entre nações, quase sempre despertando repercussões negativas
junto aos países e líderes mundiais. Lula vem contrariando os valores
ocidentais/cristãos, ao alinhar-se ao Irã, aos terroristas do Hezbollah e do
Hamas, apoiando abertamente os ditadores Maduro, na Venezuela, e Daniel Ortega,
na Nicarágua, e defendendo inclusive o regime cubano. Aí caberia lembrar
Jerônimo de Praga condenado a fogueira "santa", que ao ver uma pobre
senhora trazendo um graveto para depositar sobre seus pés, exclamou: - Santa
simplicitas (santa ignorância).
Não foi à
toa que Israel declarou Lula persona non grata, enquanto o presidente da
Ucrânia afirmou aos jornalistas, durante coletiva em Davos, agora em janeiro, que o brasileiro “[...] não é ator
relevante na solução do conflito com a Rússia e nem será com o retorno de
Donald Trump”. Em uma demonstração de total desrespeito à soberania do
Estado brasileiro, inclusive, o ditador de plantão na Venezuela tem alardeado a
sua intenção de atacar a Guiana, valendo-se do território brasileiro, e já
chegou a anunciar o emprego de tropas brasileiras para “libertar Porto Rico”.
Tudo sem qualquer manifestação ou resposta à altura do Governo brasileiro,
ou de seu governante.
Consequências
já verificadas: inseguranças econômica, jurídica e política, que associadas à
campanha de descrédito das FFAA, ultimamente patrocinada pelo próprio governo,
como “política de prevenção contragolpes militares”, só tem
desqualificado diplomaticamente o país e fragilizado ainda mais suas Forças
Armadas. Resultado prático: perda de soberania e ruína da capacidade operativa
das forças militares de autodefesa.
Nos
próximos dias, assistiremos uma reforma ministerial, na intenção do Presidente
de melhorar sua popularidade. Provavelmente, a escolha do novo Ministro da
Defesa recairá mais uma vez em um nome político, cuja missão deverá ser a mesma
dos seus antecessores, desde a sua criação em 1999: submeter os militares ao
“poder civil”; neutralizar quaisquer intenções geopolíticas das Forças Armadas;
“amansar” seus chefes com migalhas de orçamento; e, lavar as mãos com relação
às injustiças ou crimes cometidos contra a gente das armas.
Seguramente, entre os candidatos não há quem ao menos conheça o atual estágio
da guerra no mundo, as ameaças ao País, ou as carências operacionais das Forças
Armadas.
É temerária a atitude da imprensa, da Academia e de muitos intelectuais que insistem em “passar pano” na insensatez dessas decisões sabidamente contrárias aos interesses e à segurança nacional. A ignorância geopolítica, aliada a essa irresponsável miopia patriótica nos deixa perplexos, e trará consequências nefastas. Quando tanta gente defende incompetências, e tantas instituições atuam contra a “razão de Estado”, contra inclusive a vontade popular, só resta aguardar o desmanche da Nação.
Gen Marco
Aurélio Vieira
Foi
Comandante da Brigada de Operações Especiais e da Brigada de Infantaria
Paraquedista
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