Domingo, 7 de dezembro de 2025 - 08h20

“ Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não
espera acontecer”
"Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", música de Geraldo Vandré
Uma das
lendas que ainda persistem em nosso país é a ideia que o setor privado é
naturalmente superior, ou mais eficiente, que o setor público. Para refutar tal
colocação é necessário analisar a complexidade e os fatores que levam a esta
assertiva. A primeira distinção consiste nos objetivos distintos que movem
estes setores.
O setor
privado visa primordialmente o lucro e a geração de valor (criação de riqueza)
para os acionistas, enquanto o setor público o foco principal é o interesse
social, a equidade e o atendimento das necessidades da população.
Comparar
a eficiência de ambos sem considerar esses diferentes fins é, muitas vezes,
incompleto e enganoso, e leva a situações em que setores como saúde, educação,
saneamento, segurança pública, além de bens essenciais à vida, como água,
energia são repassados ao controle privado.
No final
da década de 80 do século passado com o objetivo propagandeado de ajudar países
latino-americanos a retomarem o caminho do crescimento, um conjunto de ideias
econômicas foram propostas para combater a crise da dívida e a hiperinflação na
América Latina, como o controle fiscal, a abertura comercial e financeira, e a
privatização. Tais recomendações de políticas neoliberais foram baseadas nos
ideais do FMI, do Banco Mundial e do Departamento do Tesouro dos EUA.
O que
ficou conhecido como o Consenso de Washington, o liberalismo econômico da
época, defendia a mínima intervenção estatal na economia, com o mercado se
autorregulando pela lei da oferta e da procura. Afirmavam que a liberdade
individual e econômica levaria a mais investimentos e empregos, e a melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
Na
comunidade europeia a política de liberalização do mercado levou a
privatizações das empresas de energia elétrica. No entanto, não houve um modelo
único e uniforme para todos os países do bloco, coexistindo empresas
privatizadas e estatais. Todavia a tendência recente em alguns países tem sido
a reestatização. O caso mais emblemático é o da França, que em 2022 o governo
anunciou a reestatização da sua maior companhia elétrica, Électricité de France
(EDF), justificando a necessidade de garantir a soberania energética do país, e
enfrentar a crise energética
As
reformas neoliberais da década de 1990 no Brasil estão inseridas no contexto
das liberalizações promovidas em virtude do processo de globalização, em que a
dinâmica do capitalismo - vinculada à expansão do capital financeiro - levou à
redução dos estados nacionais. Nesse sentido, o setor elétrico brasileiro
seguiu exemplarmente o processo de privatização, adotado como política de
Estado durante as duas gestões do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), planejado levando em consideração apenas questões
econômico-financeiras, relegando a segundo plano questões de atendimento à
população. O resultado foi problemas para a cidadania e mesmo, dificuldades de
abastecimento, além dos valores abusivos das tarifas cobradas, colocando em
risco a situação financeira das famílias, principalmente aquelas de baixa
renda, a maioria da população.
O
liberalismo da política econômica aplicado ao setor elétrico propôs a
reestruturação do setor, quebrando monopólios e introduzindo o que chamavam de
concorrência, com a separação das atividades de geração, transmissão e
distribuição de energia. O objetivo apregoado era de promover a eficiência
econômica, à inovação, e como afirmavam os neoliberais, oferecer mais opções e
estimular o protagonismo do consumidor. A liberalização, segundo seus
defensores, buscava atingir ganhos de eficiência através da competição e do
investimento de agentes privados, resultando na modicidade tarifária e na
melhoria da qualidade dos serviços prestados.
Passados
30 anos desde o início da privatização, iniciado pelas distribuidoras, o fiasco
e a decepção são evidentes e frustrantes para o consumidor. A eficiência, os
investimentos prometidos, a concorrência e a inovação, resultando na diminuição
de custos, e a redução das tarifas para o consumidor, não aconteceram. Ao
contrário, as tarifas aumentaram e os serviços prestados despencaram. E coube
ao consumidor simplesmente ser um mero observador, ao mesmo tempo arcar com os
aumentos na tarifa bem superior à inflação. Foram enganados, ludibriados.
O
processo de privatização resultou na demissão de pessoal das empresas, na queda
nos investimentos, e na manutenção do sistema, com as despesas sendo superadas
pela busca por lucros a curto prazo. O "desmonte" do setor
estatal ocorreu, com decisões que favoreceram interesses privados em detrimento
da base técnica. A desnacionalização do setor e a perda do protagonismo estatal
provocaram a perda da soberania energética e hídrica do país, especialmente em
um contexto de mudanças climáticas, tecnológicas e de desafios no planejamento
e na segurança do funcionamento do sistema.
A
separação das atividades de geração, transmissão, distribuição e
comercialização com diferentes agentes privados e públicos atuando, introduziu
um desarranjo no sistema, rompendo com a integração vertical tradicional. E
foram verificados problemas de coordenação e governança fragmentada, e pelos
interesses específicos de cada atividade. O que levou a problemas
frequentes que afetaram diretamente o consumidor, quer pelo rebaixamento da
qualidade dos serviços oferecidos, quer pelas escandalosas tarifas cobradas.
Os
mensageiros das soluções de mercado no setor elétrico se locupletaram nestes 30
anos pós-privatização. A partir da lógica liberalizante/mercantil, o setor se
compromete com o pagamento dos acionistas privados e de seus gerentes, as
custas do bem-estar da sociedade brasileira e de nossa soberania. Enquanto a
população contribui significativamente para a transferência de renda para as
grandes corporações transnacionais, provocando o empobrecimento da população.
Ao longo
deste período de mercantilização da energia elétrica, a atuação dos lobbies
pulverizados, atuando na esfera do Ministério de Minas e Energia (MME) e no
Congresso Nacional (CN) na defesa de vários interesses, muito deles
antagônicos, cresceu intensamente, causando um desequilíbrio de poder entre o
Estado, as empresas e o mercado. Particularmente pelos inúmeros lobbies atuando
tanto no MME, como no CN, buscando benefícios pontuais, e contribuindo para a
desorganização do arcabouço regulatório do setor e de sua governança.
A partir de 2025, começa a findar a vigência,
estipulada em 30 anos, dos contratos de concessão dos serviços públicos de
distribuição de energia elétrica. Entre 2025 e 2031, 20 contratos de distintas
concessionárias chegam ao fim. E é prerrogativa do poder concedente, o MME,
decidir se prorroga ou não essas concessões.
A decisão tomada pelo governo federal foi pela
prorrogação por mais 30 anos, podendo mesmo ser solicitada a prorrogação
contratual antecipada. Em 21 de junho de 2024, foi publicado o Decreto no
12.068, que estabeleceu mudanças pontuais, e definiu diretrizes similares às já
existentes nos contratos de concessão inicial, que foram violados
sistematicamente pelas concessionárias. Sem dúvida com a atual decisão
governamental as distribuidoras de energia elétrica continuarão penalizando o
povo brasileiro, seguindo como um dos principais algozes do consumidor, e da
economia nacional.
Neste sentido é urgente e necessário a
reestatização do setor elétrico, iniciando pela distribuição, e assim promover
justiça, bem-estar social e o desenvolvimento sustentável. Nada custaria aos
cofres do tesouro nacional, pois os contratos estariam finalizados, e não
haveria nem prorrogação, nem nova licitação. Os bens reversíveis, envolvendo
ativos como imóveis, equipamentos e a infraestrutura seriam devolvidos ao
patrimônio do Estado, titular do serviço.
Setor elétrico. Reestatização Já!!!!
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