Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025 - 08h05

"Se os reatores fossem seguros, as indústrias nucleares não
exigiriam proteção de responsabilidade
contra acidentes garantidos pelo governo, como condição para gerar
eletricidade."
Kristin Shrader-Frechette (filósofa da ciência, professora
e ativista ambiental)
"A energia nuclear é um combustível ruim, um combustível sujo, um
combustível perigoso”
Paul Keating (ex-primeiro-ministro da Austrália).
A história da energia nuclear está intrinsecamente
ligada ao seu potencial bélico, e aos interesses militares e armamentistas de
um país. As principais pesquisas e o desenvolvimento inicial da
tecnologia nuclear foram impulsionados pelo objetivo de criar armas poderosas e
destrutivas. Como consequência os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas
no Japão no final da 2ª Guerra Mundial, a "Little Boy" (de urânio) em
Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e "Fat Man" (de plutônio) em
Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, causando mortes em larga escala, destruição e
inaugurando a Era Nuclear.
Após a guerra, a tecnologia nuclear continuou a ser
desenvolvida principalmente para fins militares durante a Guerra Fria, com o
objetivo de criar armas cada vez mais devastadoras. Milhares de testes
nucleares foram realizados pelas duas grandes potências que surgiram no
pós-guerra, Estados Unidos e União Soviética.
Só a partir da década de 1950, com iniciativas como
o programa "Átomos para a Paz" e o início da operação da primeira
usina nuclear civil em Obninsk, na União Soviética (1954), é que a aplicação
civil para geração de eletricidade começou a se desenvolver e a expandir.
O Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares
(TNP), assinado por quase todos os países em julho de 1968, visava impedir a
disseminação de armas nucleares e promover a cooperação tecnológica entre
países, contribuiu para uma evolução do chamado uso pacífico da energia
nuclear. As principais aplicações foram para a produção da eletricidade,
medicina nuclear, agricultura e indústria.
Mesmo com o TNP alguns países burlaram o tratado e
desenvolveram a bomba atômica. Mais recentemente, para “driblar” este acordo, a
Arábia Saudita (assinou o TNP) e o Paquistão (não assinou o TNP) assinaram um
pacto de defesa mútua. Embora as autoridades paquistanesas neguem oficialmente
um "guarda-chuva nuclear" explícito, a parceria levanta especulações
sobre a possibilidade de cooperação ou a "terceirização" da dissuasão
nuclear. Um exemplo do que pode acontecer diante das crescentes tensões
geopolíticas no mundo atual.
Os riscos da energia nuclear incluem a contaminação
por resíduos radioativos, que duram milênios, e a possibilidade de acidentes
catastróficos, que liberam radiação, contaminando solo, ar e água, exigindo
evacuações de grandes contingentes populacionais, causando doenças graves
(câncer, leucemia). Os impactos sociais, com o descarte inadequado de lixo
nuclear, constituem um perigo constante para o meio ambiente e a saúde
humana/animal. Acidentes importantes ocorreram em usinas nucleoelétricas, o de
Chernobyl (Ucrânia-1986), o de Fukushima (Japão-2011), e o maior acidente
radiológico do mundo em Goiânia (Brasil-1987), mostraram os perigos desastrosos
da liberação de substâncias radioativas.
A segurança e o descarte adequado de resíduos
continuam sendo questões centrais no debate sobre a energia
nuclear. Resíduos de alta radioatividade continuam a irradiar por milhares
de anos, constituindo um grave legado para as gerações futuras, já que não
existe uma solução definitiva e duradoura para o armazenamento de tais substâncias.
Também tem sido demonstrado que em uma guerra como da Ucrânia x Rússia, às
usinas nucleares se tornam alvos prioritários e preferenciais de bombardeios.
Foi o caso da usina de Zaporizhzhia bombardeada pelos russos. Também foi
atacada a usina de Chernobyl, que depois do acidente foi construída uma
cobertura de aço em torno do reator acidentado para confinar e impedir que as
emissões de materiais radioativos fossem liberadas para o meio ambiente. Agora
ambas estão na iminência de liberar radioatividade para o meio ambiente.
No Brasil, em particular, a história do nuclear não
foi diferente. Começou em 1956 com a criação da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN) e um estudo para uma usina em Angra dos Reis. O programa
evoluiu, com a compra de um reator da Westinghouse/EUA na década de 1970, e
Angra 1 que começou a operar em 1985. Posteriormente, em plena ditadura
militar, o Acordo Brasil/Alemanha possibilitou o início da operação de Angra 2,
em 2001. Atualmente, o país possui duas usinas em funcionamento, que já
ultrapassaram suas vidas úteis, e uma terceira, Angra 3, que está paralisada.
Vários acontecimentos ocorreram que devem ser
lembrados com relação ao programa nuclear brasileiro. Episódios lamentáveis,
controversos que atestam a falta de credibilidade do setor nuclear brasileiro (https://www.congressoemfoco.com.br/artigo/108097/programa-nuclear-brasileiro--pau-que-nasce-torto-morre-torto).
Mais recentemente o desgaste da empresa Eletronuclear, responsável pelas
usinas, ficou mais evidenciado, diante de uma crise financeira sem precedentes,
oriunda de má gestão. Com um rombo em suas contas no final de outubro de 2025,
a empresa (grande sumidouro do dinheiro público), solicitou um aporte de R$ 1,4
bilhão ao tesouro federal para cobrir suas contas, diante da iminência de um
colapso financeiro. A informação a respeito foi amplamente divulgada.
Esses e outros episódios aprofundaram o crescente
descrédito sobre o desempenho da indústria nuclear, e de seus gestores,
privilegiados com supersalários. O desgaste da Eletronuclear sobressaiu, diante
da crise financeira e gestão temerária, com uma política de demissões em massa,
que acabou levando à greve trabalhadores das usinas e da parte administrativa.
Nada indica que usinas nucleares sejam necessárias
ao país. As fontes renováveis constituem a espinha dorsal da matriz elétrica, e
podem garantir a segurança energética em um contexto em que a diversidade de
fontes energéticas renováveis participam da matriz e se complementam entre si,
levando em conta a intermitência da energia solar e eólica. Para um grupo cada
vez maior da sociedade brasileira a energia nuclear é vista como uma alternativa
de alto risco, cara e perigosa, em um país com extraordinário potencial de
fontes renováveis.
Neste momento discute a conclusão ou não da usina
de Angra 3. Projetada há mais de 40 anos pelo acordo nuclear Brasil-Alemanha,
teve inúmeros problemas de ordem técnica-econômica e permanece obsoleta e
inacabada. A decisão da continuidade ou não, dessa aventura, será do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), que conta com estudos de viabilidade
realizados pelo BNDES para sua decisão. Tais estudos são mantidos em
inexplicável sigilo, caracterizando a falta de transparência e acesso à
informação do setor.
A decisão sobre Angra 3 refletirá sobre a expansão
de usinas nucleares no país, visto que no planejamento do Plano Nacional de
Energia 2050, prevê a construção de mais 10.000 MW nucleares. A nuclearização
do país terá como reflexo imediato o aumento das tarifas para o consumidor, já
que todos pagarão a conta. O custo da energia nucleoelétrica chega a ser 4
vezes maior do que a de fontes renováveis (solar e eólica).
Também esta decisão incidirá sobre o que fazer com
Angra 1 e Angra 2, que precisam de dinheiro constante, seja via aportes
públicos, dívidas, ou receitas da própria operação para cobrir custos
operacionais, manutenção, combustível e investimentos, enfrentando desafios
financeiros que levaram a pedidos constantes de socorro ao tesouro nacional. Os
custos têm superado em muito o que a Eletronuclear arrecada com a venda da
energia gerada.
Até o momento um “pingo de juízo”, de bom senso e
racionalidade tem prevalecido no Ministério da Fazenda que resiste a aportes
públicos em uma empresa estatal que gera um negócio que nada contribui para
o desenvolvimento nacional, e nem é necessária para a segurança energética
do país. Todavia os lobistas infiltrados no governo federal e no congresso
nacional não desistem.
Assim diante de fatos concretos é fundamental
abandonar a construção de novas usinas, descomissionar as já existentes e
deixar o urânio debaixo da terra. Decisão que só valorizaria o país para os
brasileiros, e nossa posição no tabuleiro internacional das nações pacíficas
que rejeitam a destruição, a morte, e prezam pela vida no planeta Terra.
___________
Físico, graduado na Universidade Estadual de
Campinas-UNICAMP, com mestrado em Ciências e Tecnologia Nuclear na UFPE, e
doutorado na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França. É
integrante da Articulação Antinuclear Brasileira.
Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)
Como encontrar o caimento perfeito da calça para o homem moderno
No universo do vestuário masculino, a calça é o verdadeiro alicerce da silhueta. Enquanto camisas e blazers definem o tom do torso, é a calça que esta

A maioria das pessoas tóxicas ou abusivas traz a inveja na pele – Ligue o seu alerta
Não tem venda de repelente para inveja, por este motivo, se puder, afaste-se imediatamente ou você será sugada energética e materialmente. A maioria

Estratégias de Expansão Geográfica: Caminhos para Crescer e Gerar Valor Competitivo
A expansão geográfica é uma das formas mais eficazes de aumentar escala, diversificar riscos e ampliar o alcance comercial da empresa. Em um cenário d

Um novo produto educacional foi desenvolvido para desmistificar um dos conceitos mais importantes e, por vezes, complexos da ciência: a dualidade on
Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)