Domingo, 19 de outubro de 2025 - 08h15
O Ministro
do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, renunciou ao cargo, apesar
de ter ainda alguns anos pela frente. Nós participamos daquela Comissão de
Notáveis, nomeada pelo então Presidente do Senado, José Sarney, em 2012, para
repensar o Pacto Federativo. Éramos 13 integrantes, sob a presidência do
ex-ministro Nelson Jobim, e sempre tivemos uma relação muito boa no campo do
direito constitucional, inclusive amizade pessoal, e escrevemos livros juntos.
O Ministro Luís Barroso participou dos Comentários à
Constituição Federal, editado pela Fecomercio/SP, e do nosso Tratado de Direito
Constitucional, que coordenei com o Ministro Gilmar Mendes e Carlos Valder do
Nascimento em 2010. Nessa obra, três Ministros do Supremo também escreveram:
ele, Alexandre de Moraes e o próprio Gilmar Mendes.
As minhas discordâncias com o Ministro Luís Barroso foram por
seguirmos escolas de pensamento distintas. Sou um originalista: acho que quem
pode mudar a Constituição é sempre o Poder Legislativo, como constituinte
derivado.
Por essa razão, sempre divergi da linha adotada pelo jurista
alemão Peter Häberle, que faleceu recentemente, cuja corrente doutrinária
influenciou muito o pensamento do Ministro Gilmar Mendes, na medida em que
admite uma atuação até criativa na interpretação do direito, permitindo que o
Poder Judiciário adapte a Constituição às novas realidades e não apenas o Poder
Legislativo.
Embora Häberle seja conhecido internacionalmente, o que o fez
respeitado no mundo inteiro, a minha corrente é diferente. Reafirmo: sou
originalista e, como Antonin Scalia nos Estados Unidos, defendo que a função da
Suprema Corte deve sempre respeitar o que o constituinte pretendeu, cabendo as
modificações e as adaptações da Constituição àqueles que foram eleitos pelo
povo, ou seja, ao Congresso Nacional.
Ora, com a renúncia do Ministro Luís Barroso, cabe ao
Presidente Lula indicar um novo Ministro, e eu gostaria muito que fosse alguém
que respeitasse aquilo que o Constituinte pretendeu.
Diz o artigo 101: “O Supremo Tribunal Federal
compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e
cinco e menos de setenta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação
ilibada”.
Vale ressaltar que o “notável saber jurídico” é um saber
jurídico superior ao daqueles que são simplesmente conhecedores do Direito. O
Ministro do Supremo deve ter alto nível de conhecimento, a ponto de ser
notável, não apenas notório por ser conhecido, mas, repito, notável pelos
conhecimentos que tem. Em outras palavras, ele deve ser uma figura, do ponto de
vista de conhecimento, semelhante às que tínhamos no século passado, a exemplo
de professores titulares, como era o caso do Ministro Moreira Alves, o qual
levou, portanto, o seu saber superior de Direito à Corte para decidir.
O “notável” saber jurídico deveria sempre nortear os
Presidentes da República na escolha do Ministro para a Suprema Corte.
O apelo que faço ao Presidente Lula é de que indique ao
Supremo Tribunal Federal alguém de notável saber jurídico, o que se revela por
meio de titulações acadêmicas e influência no direito brasileiro de alguma
forma, através dos seus escritos e teses doutrinárias. Tal postura
representaria um serviço extraordinário ao Brasil, garantindo assim o respeito
ao requisito constitucional.
Indicar uma pessoa de notável saber jurídico, de conhecimento
acima do normal do Direito, para julgar e definir, como guardião da
Constituição, como a nossa Carta Magna deve ser aplicada, é altamente benéfico
para o povo e o País.
Enfim, este é o meu desejo e a minha esperança: que o
Presidente Lula tenha a percepção desse adjetivo fantástico que está na
Constituição Federal, ou seja, a de que o indicado tenha um notável saber
jurídico.
Ives Gandra da Silva Martins é professor
emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de
São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior
de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região,
professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres
(Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das
Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da
Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da
Fecomercio -SP, ex-presidente da Acade mia Paulista de Letras (APL) e do
Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
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