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Crônica

O Ministério dos invisíveis


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Mesmo sem ter consciência disso, o invisível deseja, com as forças do seu coração, se tornar visível, mas ele faz parte de minorias que precisam ser lideradas, orientadas, jamais manipuladas. Quando você nasce preto, indígena, mulher, trans etc., para conquistar um centímetro de visibilidade, precisa focar na educação, mediante um esforço sobre-humano. Para galgar os degraus da pirâmide social, além da educação, precisa contar com a ajuda imprevisível da sorte. A voz dos excluídos não tem eco, nem significado para a elite que manda. São poucos, mas não podem ser ignorados.

A janela dos invisíveis, nem é janela, é um buraco numa parede de taipa, num pedaço de papelão de um morador de rua, no madeirite dos favelados, logo não gera vistas razoavelmente racionais: são dependentes, volúveis, comprometidas com o fracasso, com o abandono, com a sujeição ao tráfico, ou estão no escopo de políticos corruptos, acostumados à manipulação das estatísticas. As vistas da janela de um invisível só existem no invisível Castelo do Reino da Esperança, cuja entrada é comandada pela morte.

Os invisíveis, aqueles abaixo da linha da pobreza, são cerca de 27 milhões de infelizes, 12,7% da população brasileira, são os “sem noção”, os que não possuem uma consciência crítica da própria existência. A educação, o emprego, a instrução, as políticas públicas, são meras visagens, perambulam feito zumbis na boca dos gestores, que veem a educação como uma ameaça aos seus cargos, conquistados a base de demagogia e populismo.

Mais de três milhões de brasileiros, a maioria analfabeta, sequer possuem uma certidão de nascimento. Existem de fato, mas não de direito. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em uma sociedade rasgada pela desigualdade social, que se materializa na fome e na miséria das ruas, a ausência de papéis, que atestem um mínimo de dignidade, até aparece com frequência no debate político, mas sempre como promessa, nunca como solução. Os indígenas, com uma população de menos de 800 mil pessoas, estarão representados no pomposo Ministério do Povos Originários, como se existissem, para os problemas sociais brasileiros, dois pesos e duas medidas.

Sem um RG e um CPF, um brasileiro não consegue se matricular numa escola, não tem acesso a benefícios sociais do Governo, não pode ir ao sistema público de saúde fazer consultas, é um mero indocumentado, nem é cidadão, nem pode aspirar a evoluir na vida. Que tal criarmos o Ministério dos Invisíveis, mesmo correndo o risco de termos mais um cabide de empregos para petistas e de vermos verbas desaparecerem, no gabinete dos mágicos gestores públicos da esquerda.

A gente sabe que, diariamente, dezenas de pessoas adultas vão em busca de documentos que comprovem suas existências, ainda assim, por razões absurdas, advindas da burocracia, do racismo e do machismo, o número dos miseráveis indocumentados só cresce, aumentando a culpa dos que não têm um documento: chegam a se considerarem seres humanos de quinta categoria, excluídos do mundo dos direitos. “Conheci uma mulher que não foi registrada porque o pai disse que não tinha filha ‘muito preta’ e outra cujo progenitor só registrava os filhos homens, porque ‘mulher não precisa disso’”.

Quem vive no aconchego de seu lar, alheio aos problemas sociais do país, não acredita que essas pessoas existam, mas elas existem aos milhões, infelizmente são invisíveis, mais invisíveis do que 15 mil indígenas, escondidos na imensidão das terras Raposa Serra do Sol − 1.743.089 hectares e 1.000 quilômetros de perímetro − agora comandados pelo Ministério dos Povos Originários. Se fossem administradas com mais rigor, as imensas áreas de terras destinadas aos indígenas, ao longo do Brasil, gerariam recursos suficientes, para uma vida muito mais digna. A experiência de outros países já demonstrou que isolar os indígenas não é uma boa solução.

Aos mais de 20 milhões de pseudo cidadãos, resta a fome, a invisibilidade, a prisão ou a morte, administradas pelos demagógicos marxistas do poder, teóricos utópicos do fim das distâncias sociais, da inexistência da fome e da pobreza do proletariado. Infelizmente o comodismo dos poderosos, a inexistência de consciência, do senso de justiça, dos que podem mudar o status quo dos miseráveis é uma doença contagiosa, nem Jesus conseguiu popularizar o amor ao próximo, foi mais fácil ao cristianismo/islamismo imaginar um céu, onde ricos não entram e os miseráveis são tratados com mesa farta e dignidade. Quem vai se preocupar com os necessitados, se eles serão agraciados pelo criador, com vida eterna, no Reino da Esperança, com toda a sua legião de anjos???  Minhas espadas, forjadas no universo materialista das palavras, jamais alcançarão os objetivos, mas é a parte que me cabe nesse mundo desigual. 

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