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Crônica

Janela da esperança


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

A janela da esperança é a primeira que se abre, entremeada aos sonhos e a fé, protagonista dos desejos, se apresenta com muitas faces, pode ser uma bruxa ou uma fada, a janela da esperança se fecha quando menos esperamos e mesmo fechada ainda tenta nos enganar, abrindo uma fresta em outra dimensão.

A materialidade da esperança viaja fora do tempo, mais afeita a intemporalidade, permeia universos paralelos, mexendo com os sentidos e as emoções, de tal forma que o objeto da espera vira um espectro consciencial de difícil alcance, embora exista entre o desejo e a meta uma atração vibracional, dita espiritual.

         O processo de espera, às vezes, é tão absurdo, dolorido e incerto que filósofos como Schopenhauer e Nietsche classificam a esperança como uma maldade ao ser humano, algo que escapou da Caixa de Pandora. A pergunta que nunca se calou, durante todos esses séculos, nos remete à janela da reflexão filosófica: se a esperança é um bem, o que estava fazendo na Caixa de Pandora?

Paulo Freire, na contramão dos filósofos e na expectativa de melhorar o conceito, interferiu na etimologia – esperança de esperançar – querendo assim driblar os efeitos nocivos da espera, na expectativa de futuro do ser humano.

         Ainda que a esperança de esperançar implique em se levantar, em correr atrás, construir novas alternativas, juntar-se com outros em busca de novas formas de fazer, a palavra não passa de uma janela fechada, formatada inescrupulosamente no púlpito das igrejas ou nos livros de autoajuda, enriquecendo meia dúzia de espertos visionários, verdadeiros porteiros da dita esperança. Neste novo contexto é muito fácil dizer “não espere que as coisas aconteçam, corra atrás”, “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.  

A vida nos ensina, diuturnamente, que janelas não se abrem se não forçarmos o ferrolho. Mesmo abertas não nos garantem a vista! A certeza da vista depende de instrução, de boas escolhas, comungadas a esforço próprio, boa genética, um pouco de sorte, paciência, persistência e renovação interior em momentos de muita dor, que não são poucos. Depois de aberta, se uma boa vista se descortina, confira tudo meticulosamente, recue alguns passos e corra o suficiente para pular o batente da janela que lhe enquadra a vista, assuma sua nova vida, após uma vistoria de 360º.

Não moldamos o mundo conforme nossos desejos, a forma de agir depende muito da cultura do local onde nascemos. As crenças e a filosofia de vida interferem, e muito, nas faces da esperança. Isto não significa desistir de correr atrás, conformar-se com o mundo, mas racionalizar a esperança. Na visão de um oriental a fé em si mesmo é melhor do que a fé cega no sobrenatural.

          Melhor não esperar nem esperançar o que se promete pelo viés dos livros de autoajuda e de religião.

A esperança nunca deveria ter sido libertada da Caixa de Pandora, principalmente em países pobres, religiosos, terceiro mundistas e corruptos, mas já que a soltaram, melhor aprender a lidar com ela.

Quando a esperança tarda e a ideologia rivaliza com a religião, instala-se na mente a janela fechada da depressão, localizada na rua do desespero, à beira de um precipício. Infelizmente tem gente que apressa a esperança, saltando a janela sem visualizar o abismo, esperando encontrar belas vistas, além da janela da vida. A sensatez evolutiva da ciência diz que encontrarão o nada. 

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