Terça-feira, 16 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Crônica

Cadê as fogueiras?


Cadê as fogueiras? - Gente de Opinião

13 de junho. Por volta das oito horas da noite saí de casa e atravessei o bairro onde moro, rodando por vias intermediárias. De repente me deparei com algo que pensava não mais encontrar numa capital: Uma fogueira! E não era uma fogueirinha murcha, um apanhado de gravetos não. Era uma fogueira formada por toras de madeira que, cruzadas umas sobre as outras, deixavam ver labaredas que iam bem acima do seu cume. Há muitos anos eu não via uma daquelas num dia de Santo Antônio.

Na minha infância era comum a participação de todos – principalmente das crianças – na montagem e queima das fogueiras. Cada família fazia questão de montar uma na frente de casa,  nas vésperas e nos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro, os famosos festejos ¨juninos¨.

Saíamos desde cedo em busca de troncos secos de árvores. Depois montávamos cada fogueira, uma em cada casa, com todos os vizinhos se ajudando. A noite havia sempre grande confraternização com todos se divertindo e dividindo os pratos típicos da época. Em volta da fogueira fazíamos adivinhações e previsões, virávamos compadres, comadres, noivos e noivas. Corríamos, brincávamos, e, conforme a madeira ia virando brasa, pulávamos por sobre ela. E havia uma verdadeira disputa entre a vizinhança para se fazer a fogueira mais bonita.

Era um período de música junina, quadrilhas e bois-bumbás. As comidas de época, os doces, o milho, o mingau, o aluá de milho ou abacaxi, tanta coisa! Durante dias juntávamos uns trocados para comprar bombinhas e soltar naquelas noites.

E a festa continuava na manhã seguinte, quando acordávamos e víamos que a madeira ainda estava em brasa. Então, voltávamos a atiçar o fogo e a colocar mais madeira para que mantivesse queimando a fogueira o dia todo. Era muita festa!

Creio que, ao contar essas lembranças a uma criança de hoje, ela, certamente, não vai entender a manifestação nem sentir graça. Não dá nem para fazer uma fogueira para mostrar como eram as brincadeiras, pois, se a fizermos certamente o sistema de monitoramento de queimadas vai detectar a fumaça, ativar os agentes e seremos presos e processados por poluição de ambiente, por causar o efeito estufa, por destruir a floresta amazônica, por derreter o gelo nos Polos da Terra, etc....etc...etc., ainda que milhares de hectares sejam queimados anualmente para que, onde era floresta, passe a ser campo de criação de gado ou de plantação de soja. Isso sem contar que milhões de carros e grandes indústrias continuem poluindo cada vez mais o ambiente do nosso planeta. Eles podem. Já as fogueiras e os festejos, não sobreviveram.

Gente de OpiniãoTerça-feira, 16 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A escola do tempo

A escola do tempo

Fala-se de paciência como se fosse um adorno moral, uma virtude de vitrine. Mas, no íntimo da vida real, ela é mais do que palavra repetida em sermõ

Conhecem os políticos as dificuldades do povo?

Conhecem os políticos as dificuldades do povo?

Durante o tempo que fui redator de publicação local, e realizei várias entrevistas a figuras notáveis.Certa ocasião, entrevistei conhecida deputada.

Crônica do futuro nuclear brasileiro

Crônica do futuro nuclear brasileiro

"A nova era nuclear: uma etnografia da retomada do programa nuclear brasileiro — ou uma crônica do futuro". Este sugestivo título da tese de doutora

"Isso é em Portugal e na Europa!..."

"Isso é em Portugal e na Europa!..."

Estando na companhia amiga de meu cunhado, a almoçar suculenta feijoada brasileira, onde não faltava boa farofa, couve guisada e abundante carne, tu

Gente de Opinião Terça-feira, 16 de setembro de 2025 | Porto Velho (RO)