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Gente de Opinião

Crônica

A janela alucinógena


William Haverly Martins - Gente de Opinião
William Haverly Martins

Antigamente dizia-se que a televisão acabou com a janela, hoje, os mais radicais dizem que a internet acabou com as vistas, tais afirmativas dependem do ângulo de visão e da cultura de cada um. A janela da Internet nos proporciona prazeres/vistas outrora impensáveis, lembro de como gostava, ainda na juventude, de música clássica. Comprava aqueles bolachões de vinil e passava horas, trancado no meu quarto sem janelas, ouvindo, no volume máximo, grandes expoentes da música erudita. Vem desta época minha paixão pelo russo Sergei Vassilievitch Rachmaninoff, compositor, pianista e maestro, falecido em Beverly Hills, Califórnia-EUA, em 28 de março de 1943.

Perscrutando as janelas da música clássica no Youtube, me apaixonei por uma vista em que aparece a ucraniana Anna Borysivna Fedorova, ou simplesmente Anna Fedorova, interpretando ao piano, os concertos nº 2 (op. 18) e 3 de Rachmaninoff, só então me dei conta da minha pequenez estética e de como a beleza feminina interfere no meu humour: cada gesto dela com o corpo, acompanhando as vibrações da música, cada nota musical arrancada com os dedos longos e competentes, cada movimento da face, até mesmo o balançar de um único fio de cabelo, interferem em mim, elevam-me aos píncaros da alma, descontrolam o meu sistema nervoso, convocam-me as lágrimas, o corpo todo me treme, e já nem sei quem é mais importante, se o compositor ou a intérprete...

No mundo da música, haverá sempre um pedestal para os intérpretes. Muitas canções, não fosse a interpretação, a performance do cantor ou cantora, jamais alcançariam sucesso.

Por instantes, é como se a parte intangível do meu cérebro saísse do material para vibrar à parte, como se estivesse sob efeito de um alucinógeno. Beleza e competência, em momentos raros da existência, resolveram se aliar. Ela é tão espetacular que consegue banalizar o resto da orquestra, parece que seu corpo escultural e os traços de sua face clássica se integram ao instrumento, proporcionando um som mágico, único e atrativo. A batuta do maestro torna-se invisível, sequer é levada a sério pela plateia, mero bastão na mão de um professor, dirigindo bandas escolares. Só ela importa, só ela atrai todos os olhares, como se os espectadores fossem mariposas em estado de fototaxia.

Às vezes me ponho a pensar se o escritor conseguiria ser tão eficiente com as palavras, como o compositor é com as notas musicais. Teriam as palavras encantadas pelo escritor tanto vigor impactante? Com certeza, depende da genialidade do autor e de seu respectivo intérprete!

Certa vez escrevi que a palavra oriunda da pena de um poeta é o espírito na sua condição carnal. No princípio era o verbo, a música veio depois, como um ponto de convergência e de sublimação da evolução do homem sobre a terra. Diz a lenda historiográfica, que padre Vieira conseguiu, com sua oratória fantástica, insuflar a massa, militares e civis, pela vitória do Brasil, na guerra contra os holandeses, na Bahia.

O encontro racional do homem com as artes, autor, intérprete ou espectador, o excepciona! A arte é a vista mais clarividente da janela da inteligência humana. Pena que são poucos os escolhidos, a maioria, por despreparo ou ignorância, não enxerga além da janela.

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