Domingo, 2 de fevereiro de 2014 - 06h40
Dom Anuar Battisti
arcebispo de Maringá (PR)
Há poucos dias em conversa com um amigo ele me dizia: “Até hoje na minha vida o amor só foi sofrimento”. É um jovem adulto que vive a experiência de não ser amado e compreendido em seus desejos e sentimentos e com isso sente fortemente o desejo de amar, porém não encontra o espaço que dê a segurança de um verdadeiro amor.
Essa situação acaba sendo um drama, que repercute em dores físicas e psicológicas. A capacidade de amar se transforma em sofrimento. Eu tenho a certeza que só abraçando a dor, amando a própria cruz é que se passa da dor ao amor.
A dor, a cruz não é o fim e sim meio, passagem para poder amar de verdade. Na medida em que se assume a perda, a ausência, a incompreensão, a solidão, a traição, o desentendimento, enfim as contrariedades doídas da vida, se passa imediatamente ao amor. Permanecendo na cruz nunca haverá ressurreição.
Essa experiência de abandono, do amor sofrido, recorda a própria experiência de Jesus que, na dor agonizante, suando sangue, grita: “Meu Deus porque me abandonastes. Porém, não se faça a minha e sim a tua vontade” (Mt 27,46). Não dá para fugir e muito menos fazer de conta. O mestre, assume mesmo sem entender. O que lhe espera não é o “Hosana, o Bendito que vem em nome do Senhor”, e sim o “crucifica-o”. Assume a dor doída até a morte. Vence porque foi até o fim. “Só quem passa pelo fogo da dor chega ao incêndio do amor”. Amor sem cruz nunca será amor. Em qualquer momento seremos surpreendidos pela alegria ou pela tristeza, em qualquer desses momentos, o importante é amar.
Nestes dias li que o Papa Francisco reza seguidamente o testamento de sua vó, que realmente é uma oração forte e poderosa. Tenho a certeza que esse é o caminho sem o qual a dor não passa e o amor vira sofrimento. Assim está no testamento: “Que os meus netos, a quem dei o melhor de mim mesma, tenham uma vida longa e feliz. Mas se um dia a dor, a doença ou a perda de um ente querido os encher de aflição, que não se esqueçam jamais que um suspiro diante do Tabernáculo, onde se guarda o maior e mais venerável dos mártires, e um olhar a Maria ao pé da cruz, podem fazer cair uma gota de bálsamo sobre as feridas mais profundas e dolorosas.” (Fragmento do testamento da Vovó do Papa Francisco).
“Nem Deus resiste a um homem de joelhos”. Expressão forte e profundamente verdadeira. Deus não precisa de nossos joelhos e muito menos de nossas lágrimas, porém, a nossa condição fragilizada e mesquinha exige buscar em Deus, a luz e se entregar de corpo e alma para passar da dor ao amor.
Recomeçar sempre sem olhar para trás, com os pés no chão de nossa natureza humana, amada e resgatada para sempre, nos faz dignos de amar e ser amados. O caminho é o amor, mesmo sabendo que ele é fruto da perseverança no caminho da cruz. “Nada nos separará do amor de Cristo...nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura” (Rm 8,38-39). Senhor me ajude a passar da dor ao amor, abraçando a minha cruz de cada dia. Eu sei que o amor dói, mas sem ele a vida não tem sentido. Amém. Abençoada semana pra nós!
Fonte: CNBB
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