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Projeto Reca: safra de 2007 revela diversidade da produção


 Juracy Xangai

A produção de 350 mil quilos de polpa de cupuaçu, 40 mil quilos de manteiga de cupuaçu, 5.300 quilos de óleo de castanha, mais de 15 mil quilos de semente de pupunha, 176 mil hastes de pupunha transformadas em 39 mil quilos de palmito em conserva e 90 mil quilos de polpa de açaí.  Essa é apenas uma pequena mostra da safra colhida neste ano pelos produtores do projeto de Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (Reca), localizado no distrito de Vila Califórnia, em Rondônia.

A diversidade da produção se estende pela fabricação artesanal de doces, licores, farinha de pupunha, de babaçu, de banana, além de sabonetes e xampus de óleos aromatizados com ervas da floresta e artesanato variado.  Tudo isso levou os produtores do projeto a inaugurarem, no último sábado (22/12), o Centro de Exposição e Comercialização de Produtos Alternativos.  Produtos que hoje são consumidos em todo o Brasil, França e agora começa a avançar também para a Alemanha e Estados Unidos.

Mas, nem sempre foi assim.  Nova Califórnia está construída sobre o suor e o sangue de centenas de famílias sulistas que, incentivadas pelo Governo Federal, migraram no início dos anos 80 com a missão de derrubar a floresta e transformá-la em pastagens e lavouras que gerassem mais alimentos e riqueza para o Brasil.

Localizada a 150 quilômetros de Rio Branco e a 370 de Porto Velho pela BR-364, a região era tomada pela lama e intrafegável por oito meses do ano, isolando a comunidade, logo atingida pela malária que matou famílias inteiras.

Arnoldo , 54 anos e pai de quatro filhos, chegou à região em 1989, e é testemunha sobrevivente daqueles tempos difíceis.  "Lá em Santa Catarina eu trabalhava criando frangos de granja em sistema integrado, mas sonhava em ter um pedaço de terra para criar gado, plantar milho, café e cacau, mas nada disso deu certo.  A área era pequena para criar gado, nossas colheitas apodreciam por falta de transporte e de armazéns.  O sol era quente demais, a malária castigava, matou muita gente.  Quem ainda tinha alguma coisa vendeu e foi embora, nós ficamos e começamos a procurar formas alternativas para sobreviver".

Passo a passo
Três anos depois, a produção era grande demais para o mercado local, mas pequena para exportação, sem contar com o fato de que o cupuaçu era pouco conhecido nos grandes centros consumidores como São Paulo.  Com o apoio de entidades acreanas como o Pesacre, CTA e outras organizações ambientalistas e de pesquisa, surgiu o projeto da primeira agro-indústria de polpa de cupuaçu, inaugurada em 1994.  Os produtores também destacam o apoio dos governos de Jorge Viana e Binho Marques ao Reca.

Logo, os produtores descobririam na semente de cupuaçu uma fonte ainda maior de dinheiro com a extração do óleo transformado em manteiga que é base dos produtos da "Natura Ecos" (uma das empresas parceiras do Reca).  Construíram também a fábrica de conserva de palmito e a produção foi se diversificando cada vez mais pela vocação industrial própria do sul do país.

Hoje, das mais de 300 toneladas de polpa de cupuaçu produzidas neste ano, mais de 200 foram vendidas para São Paulo e Rio de Janeiro e 80 estão congeladas na câmara frigorífica.  As sementes de pupunha seguem para São Paulo e Bahia.  O óleo de castanha e a manteiga de cupuaçu vão para as indústrias de produtos de beleza.

O palmito vendido (a maior parte comercializada com São Paulo e Rio) foi exportado pela primeira vez para a França.  Em 2008, o Reca começa a enviar sucos e óleos para Alemanha, mais sucos para os Estados Unidos

Crescendo Sempre
Aos consórcios iniciados com a castanha, cupuaçu e pupunha, somaram-se frutos como o araçá-boi, mangostão, coco, acerola, rambutã, açaí, essências madeireiras como o mogno, cedro, pinho cuiabano, téca, ou plantas medicinais como o milagroso sangue de drago.  Ao todo são cultivadas mais de 40 espécies, sem contar as lavouras tradicionais de arroz, milho, feijão, gergelim, abacaxi, banana e outros produtos vendidos no Acre e Rondônia.  Produzem ainda mel de abelhas, licores e doces variados.

Centro de exposição
A proposta de construção do Centro de Exposição e Comercialização de Produtos Alternativos foi feita pela Associação de Mulheres do Reca com o propósito de consolidar a Escola Familiar Agrícola para fortalecer as lideranças e qualificar tecnicamente os produtores por mediação de seus filhos.

Patrícia Cristina Sordi é a coordenadora do Projeto Caminhar.  Construiu o centro com 60% dos recursos repassados pelo Ministério do Meio Ambiente e PPG-7 através do Programa de Desenvolvimento Alternativo (PDA), sendo o restante (40%) com recursos dos próprios produtores.

"Este centro é um sonho antigo de nossa comunidade porque sempre fizemos vendas no atacado e acreditamos que podemos ganhar mais se vendermos direto ao consumidor.  Dentro do projeto "Caminhar", estimulamos as ações comunitárias, o trabalho em mutirão, além de apoiar a Escola da Família Agrícola e outras ações que realizamos em parceria com o Governo do Acre".

O centro, com 500 metros quadrados de área construída, é composto por uma lanchonete onde são servidos sanduíches e sucos naturais, mais um espaço para exposição onde os visitantes poderão conhecer um pouco da história da comunidade.  Espaço de exposição e venda produtos alternativos, tanto do Reca quanto de outras associações comunitárias desde o Mato Grosso e Rondônia, até Cruzeiro do Sul.

"Florestas de alimentos"
Foi conversando com os seringueiros e índios da região que eles descobriram uma das chaves principais do seu sucesso atual: "Lá no sul a gente sempre foi unido e trabalhou em comunidade, um ajudando o outro, e, com os caboclos da região aprendemos que era melhor trabalhar na sombra da floresta.  Mas, não somos extrativistas.  Somos agricultores.  Daí, tiramos a idéia de consorciar a castanha com a pupunha e cupuaçu, ainda fazendo lavoura nas entre-linhas.  Depois, fomos acrescentando outras espécies e criamos verdadeiras florestas de alimento", esclarece Arnoldo que é hoje o presidente do projeto Reca.

Era 1987, mas isso também não foi fácil.  Sem dinheiro eles viajavam de carona para Rio Branco onde as mulheres carregavam cestas cheias de doces, pães e cucas para vender enquanto os homens reviravam as latas de lixo em lanchonetes, sorveterias e bares em busca de sementes de cupuaçu e outras frutas da região.  Assim, fizeram as primeiras mudas.  Com perseverança e fé, sensibilizaram uma organização católica da Holanda que decidiu ajudá-los.

Em novembro de 1989, chega primeira doação que beneficiou 86 famílias com o repasse de US$ 858 (dólares) por hectare de plantio consorciado em formação.  Cada família cultivava de um a dois hectares e o projeto previa o plantio de 400 hectares de floresta de alimento em três anos.  No segundo, atingiram sua meta somando 200 famílias.

Parada obrigatória
Já é comum, para quem passa pela Califórnia, ver os caminhões e carretas estacionados à beira da pista enquanto seus motoristas iam à sala de vendas, agora a o centro de vendas, do Reca para comprar palmito, doces e licores para presentear familiares ou revender com lucro no estados do sul e sudeste.

O caminhoneiro Celso Gabriel de Souza Santos, morador de Lages no Estado de São Paulo é um dos que parou no local durante a inauguração do Centro.  "Paro aqui toda vez que volto do Acre pra casa.  Só desta vez estou levando quatro caixas de palmito em conserva, mais um monte de outros produtos para presentear minha família nesta época de Natal.  Isto aqui é nossa parada obrigatória".

Reca hoje
Mais de 200 famílias são sócias efetivas e ativas do Reca, estas se distribuem em 12 grupos comunitários distribuídas pelas linhas 04, 05, 06, 12, ramais Mendes Júnior, Baixa Verde, Cascalho, Pioneiros I, II e III, Eletrônico e ao longo da BR-364 até o município de Acrelândia.  Outras 500 famílias são beneficiadas indiretamente pelo projeto.

Têm 31 famílias com a certificação SAN, mais nove com a certificação orgânica, e, outras seis prontas para receber essa mesma certificação.

Fonte: A tribuna - Amazônia.org

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