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‘Muitos chineses nem sabem o que é democracia’, dizem escritores do país



 

Paulo Cabral
De Paraty para a BBC Brasil



Grande parte dos chineses ainda nem entende do que tratam os conceitos de democracia e liberdade, o que dificulta qualquer movimento de abertura política, na opinião de autores chineses que participam da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no litoral sul fluminense.

Para ilustrar a questão, a jornalista e escritora chinesa Xinran contou uma conversa que teve com uma camponesa no interior de seu país. "Dei a ela três opções: se ela preferiria terra e dinheiro; um marido e filhos saudáveis; ou democracia e liberdade", contou.

O problema é que em chinês a palavra liberdade (ziyou) é pronunciada quase como 'óleo de cozinha' (you) enquanto o termo democracia e a expressão 'dois porcos' têm exatamente a mesma pronúncia (min zhu).

"Ela respondeu que queria terra, marido, filhos e dinheiro, mas que porcos e óleo iriam depender da quantidade e do preço. Isso me mostrou como para aquela mulher esses conceitos políticos eram extremamente distantes, irreais e nem passavam pela cabeça dela."

Xinran diz que o grosso do povo chinês precisa primeiro atingir níveis básicos de educação, saúde e qualidade de vida para que possa ser apresentado a esses novos conceitos. Embora o discurso não seja distante daquele utilizado pelo Partido Comunista da China, a jornalista diz que, na prática, seu governo não está fazendo um bom trabalho.

"Antiquados"

"Os dirigentes chineses seguem muito antiquados e ainda isolados do resto do mundo. Há conceitos de desenvolvimento social e humano que eles não entendem e não valorizam", critica.

Durante oito anos, Xinran apresentou na China um programa de rádio – que ela mesma criou – para dar voz às mulheres do país vitimas de violência. Mas ao tentar publicar esses relatos em livro, se sentiu censurada e acabou indo viver em Londres, em 2002, onde lançou a obra As Boas Mulheres da China.

Na Flip, a chinesa apresentou a edição em português de seu mais recente livro, Testemunhas da China, em que idosos contam suas experiências durante os anos de Mao Tse Tung.

Ela dividiu a mesa de debates com outro escritor chinês, Ma Jian, cujo mais recente livro – Pequim em Coma – conta a história dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial, sob a ótica de uma vítima fictícia do massacre.

"Eu mesmo participei do início do protesto, mas tive que sair de Pequim, por problemas pessoais, antes do dia do massacre", conta.

Desconhecimento

Ma Jian diz que não vê a juventude chinesa de hoje com a mesma ânsia por mudanças daquela que, 20 anos atrás, desafiou os tanques na Praça da Paz Celestial.

"Hoje em dia o jovens só sabem o que faz e o que quer o governo. Muita gente nem sabe que a China é signatária da Declaração Universal dos Direitos Humanos e que tem a obrigação de cumpri-la".

Mas Ma Jian observa que mesmo em 1989 não dava para dizer que os jovens manifestantes estivessem contestando o sistema ou a essência ideológica do Partido Comunista Chinês.

"Era um protesto contra o governo, feito por jovens comunistas que achavam que as coisas tinham que ser diferentes", explica.

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