Quinta-feira, 23 de outubro de 2025 - 16h44

Oito organizações de movimentos ambientalista, indígena, quilombola e de
pescadores artesanais entraram na quarta-feira (22) com ação na Justiça Federal
do Pará contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), a Petrobras e a União. O grupo pede a anulação do
licenciamento ambiental do Bloco FZA-M-59, que autorizou a Petrobras a iniciar
a perfuração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas.
A licença foi concedida pelo Ibama no último dia 20. A Petrobras
informou que iniciou as atividades de perfuração imediatamente após a
liberação. As entidades pedem liminar para suspender as perfurações, porque
entendem que há riscos de danos ambientais irreversíveis.
A ação, protocolada na 9ª Vara Federal de Belém, foi movida pela
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das das
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Comissão
Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas
(Confrem), Greenpeace Brasil, Instituto Arayara, Observatório do Clima e
WWF-Brasil.
O Ibama diz que a decisão ocorreu depois de "rigoroso processo de
licenciamento ambiental, que contou com elaboração de Estudo de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA), com a realização de três audiências públicas, 65 reuniões técnicas
setoriais em mais de 20 municípios dos estados do Pará e do Amapá".
A Petrobras diz que a licença foi "uma conquista da sociedade
brasileira" e atendeu a todos os requisitos estabelecidos pelo Ibama.
Consulta
aos povos
Na avaliação das entidades, o licenciamento “atropelou povos indígenas e
comunidades tradicionais”. Segundo as organizações, não foram realizados os
Estudos de Componente Indígena e Quilombola, nem houve consulta livre, prévia e
informada, como prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT). As entidades destacam que a região do empreendimento abriga terras
indígenas e quilombolas, colônias de pescadores, reservas extrativistas e
unidades de conservação, além de áreas de pesca artesanal e rotas de navegação.
“Este projeto é predatório, ignora a voz dos povos indígenas,
verdadeiros guardiões da floresta, e escancara as contradições do governo ao
investir em combustíveis fósseis, principal causa da crise climática, há poucos
dias da COP30. Exigimos a revisão urgente desta autorização, pois a Amazônia e
seus povos não podem pagar a conta de uma destruição que não é nossa”, disse
Kleber Karipuna, coordenador-executivo da Apib.
“Nenhuma decisão que impacte a vida e os territórios indígenas pode ser
tomada sem ouvir quem há milênios cuida da Amazônia. Autorizar a exploração de
petróleo na Foz do Amazonas sem esse diálogo é mais um ato de violação e
desrespeito aos povos indígenas, que pagam a conta pelas ações do Estado e da
iniciativa privada, que só estão preocupados com o lucro acima da vida",
disse Toya Manchineri, coordenador-geral da Coiab.
“Nós estamos há três anos ajuizando essas ações, pedindo para ser
ouvidos pela Petrobras para saber sobre a questão da liberação. E agora a gente
vai buscar parceiros na defesa da Amazônia, defesa dos territórios quilombolas,
da nossa costa amapaense que nos ajude para que não aconteça mais atrocidade e
violência”, disse Núbia Cristina, quilombola do Amapá e coordenadora-executiva
da Conaq.
Impacto
climático
Na ação, as organizações apontam ainda a fragilidade dos estudos de
modelagem apresentados pela Petrobras, que deveriam indicar o comportamento do
óleo em caso de vazamento. Segundo o processo, o modelo utilizado ignora
fatores críticos, como as correntes subsuperficiais e a presença de sedimentos,
além de subestimar o uso de dispersantes.
Segundo as entidades, em caso de acidente grave, até 20% do óleo
derramado poderia atingir o Grande Sistema Recifal Amazônico, um ecossistema
único e de alta biodiversidade. As ONGs afirmam ainda que a Petrobras usou
dados de 2013, embora já existam informações atualizadas de 2024. Mesmo
reconhecendo as falhas, o Ibama concedeu a licença, exigindo apenas que a nova
modelagem fosse apresentada posteriormente.
As ONGs questionam o fato de o licenciamento ignorar os impactos
climáticos do projeto. Desde 2021, a Agência Internacional de Energia alerta
que nenhum novo projeto de combustíveis fósseis deve ser iniciado se o mundo
quiser limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
Para as organizações, ao liberar a exploração de petróleo na Amazônia às
vésperas da COP30, o Brasil “tripudia sobre o Acordo de Paris”, contradizendo o
discurso de liderança climática do país.
"A Petrobras se autoproclama líder da transição energética justa,
mas é responsável por 29% de toda a expansão fóssil da América Latina. Não
existe justiça quando povos e territórios são sacrificados. O próprio Ibama e a
Funai já reconheceram os impactos sobre comunidades tradicionais. Ignorar isso
é fechar os olhos para a ciência e para a lei”, disse Nicole Oliveira,
diretora-executiva do Instituto Internacional Arayara.
“Em plena crise climática e às vésperas da COP 30, o Brasil joga no
fundo do oceano a tentativa de liderar pelo exemplo e põe em risco o legado
climático do país ao autorizar a perfuração do bloco FZA-M-59 na bacia da Foz
do Amazonas, lançando as bases para a ocupação da região pela exploração
petroleira. Ao invés de proteger os ecossistemas e o sistema climático e prezar
pelo cumprimento da Constituição Federal, liberou-se a perfuração de forma
inconsequente”, disse Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do
Observatório do Clima.
O Bloco FZA-M-59, onde a Petrobras já perfura o poço Morpho, é apenas o
primeiro de uma série. Outros oito blocos estão em licenciamento, e 19 foram
arrematados em leilão da ANP em junho. A expansão da fronteira petrolífera na
região, afirmam as ONGs, aumentará as emissões de gases de efeito estufa,
agravando a crise climática global.
Outro
lado
Procurado, o Ibama afirmou que a emissão da licença ocorre após rigoroso
processo de licenciamento ambiental.
O instituto afirma que, após o indeferimento da licença em maio de 2023,
Ibama e Petrobras iniciaram discussões que permitiram "significativo
aprimoramento do projeto, sobretudo no que se refere à estrutura de resposta a
emergência".
Entre os aperfeiçoamentos, o instituto destaca: a construção e
operacionalização de mais um Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) de
grande porte, no município de Oiapoque (AP) e a inclusão de três embarcações
offshore dedicadas ao atendimento de fauna oleada.
O Ibama destaca ainda que, durante a atividade de perfuração, será
realizado novo exercício simulado de resposta a emergência, com foco nas
estratégias de atendimento à fauna.
Já a Petrobras informa que atendeu a todos os requisitos estabelecidos
pelo Ibama, cumprindo integralmente o processo de licenciamento ambiental.
"Como última etapa de avaliação, a companhia realizou, em agosto,
um simulado in loco, denominado Avaliação Pré-Operacional (APO), por meio do
qual o Ibama comprovou a capacidade da Petrobras e a eficácia do plano de
resposta à emergência", defendeu, em nota.
"A companhia segue comprometida com o desenvolvimento da Margem
Equatorial brasileira, reconhecendo a importância de novas fronteiras para
assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para a
transição energética justa", completou.
Procurada, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que irá conferir
tratamento prioritário à ação judicial, no intuito de garantir a preservação de
todos os aspectos ambientais, sociais e econômicos que permeiam o caso.
"A AGU reafirma seu compromisso com a legalidade dos processos de
licenciamento ambiental e com a defesa do interesse público, o qual será
inteiramente observado em sua atuação no caso", destacou, em nota.
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