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OPINIÃO: Ser Professor. Mais do que um Sacerdócio



Professor Nazareno*
 

Eu sou professor e disso quase todo mundo sabe. O que muita gente ainda não sabe é que estou ministrando aulas há mais de 35 anos ininterruptos e que, por incrível que possa parecer, sou muito feliz com a profissão que escolhi. As razões são as mais variadas possíveis. A começar pelo alto salário que recebo pela minha faina diária. Confesso que às vezes, no final do mês, nem sei o que fazer com tanto dinheiro em minha conta corrente. Já pensei em fazer aplicações na Bolsa de Valores, investir pesado na compra de imóveis, adquirir fazendas, iates de luxo, carros importados, ações e outros mimos oferecidos pelo Capitalismo. A valorização do professor hoje é uma realidade no Brasil. Profissão amplamente reconhecida pelos mais variados setores da nossa sociedade, estar dentro de uma sala de aula é algo extremamente recompensador para quem não escolheu ainda uma boa profissão para seguir. Deve ser por isso que nos vestibulares há uma concorrência muito grande para os cursos da área do Magistério.
 

Ser professor não é só ensinar aos outros e todo mundo sabe disto. Como dizia o mestre Paulo Freire: “aprendemos muitas coisas diariamente com os nossos alunos”. Zelosos, higiênicos, compreensivos, dedicados, inteligentes e sempre muito bem educados, os meninos, cujos nomes de muitos parecem ser retirados de latas de goiabada, sempre estão prontos para cooperar conosco. O respeito é fundamental e por isso a obediência é um destaque. É uma profissão que não apresenta ossos do ofício, por incrível que pareça. Outro fator muito importante na nossa labuta é a cooperação dos pais. “Com pais tão dedicados e participativos assim e também altamente interessados pela educação dos filhos, trabalhar nas escolas públicas do Brasil se tornou uma agradável rotina” comentou outro dia um professor que não conseguia esconder o largo sorriso de tanta felicidade. Porém, só presidiário mesmo é que gosta de professor. Político também, mas só no dia 15 de outubro para tecer loas hipócritas “aos mestres”.
 

Dar aulas no Brasil é uma dádiva dos céus e em Rondônia é melhor ainda. Aqui temos um Sindicato, o Sintero, que dispensa quaisquer comentários. Com dirigentes muito bons, probos e competentes (eles competem todas as vezes em que há eleições, no Sindicato e fora dele) os mestres rondonienses se sentem no paraíso. Esses dirigentes são tão bons e politizados que até já se tornaram, por conta própria, amigos do patrão, o Governo do Estado. Para eles, continuísmo é renovação: afirmam que mudarão o sindicato e sempre são candidatos. As escolas de Porto Velho, por exemplo, são limpas, asseadas e todas muito bem organizadas. É uma segunda casa para nós professores. Só para ampliar ainda mais o já concorrido mercado de trabalho, muitos professores trabalham na escola pública e matriculam seus filhos nas escolas particulares. Além do mais, os mestres se esmeram em fazer amizades e incentivar uns aos outros quando o assunto é melhoria na qualidade da Educação. São tão bons que muitos serão candidatos a Diretor das escolas só para ganhar mais experiências em seus currículos. Que bom!
 

O bom professor, agora transformado em profissional da educação, ou seja, mais um proletário, sabe muito bem o que fazer para manter suas qualidades: não fala mal da profissão na frente dos alunos, incentiva todos eles a seguir a nobre carreira, evita ir à sala de professores para não se contaminar com pessimismos, não come a merenda servida pelo Estado, elogia sempre o Governo de plantão, cumpre suas tarefas, jamais leva trabalhos para corrigir em casa, obedece ao Diretor, mantém sempre os diários atualizados e tem um bom humor que ninguém sabe de onde vem. Professor também sabe como comemorar a sua data: sempre que pode, antecipa em um dia ou dois as homenagens só para não ter que trabalhar. Estudar para outros concursos durante as aulas, jamais. Nenhum professor faz isso. Assim como também não junta as salas para liberar os alunos mais cedo, não adianta aulas, chega sempre dez minutos antes dos alunos e só os libera depois de tocar o sinal e tem total controle sobre as suas turmas. Somos uns “zeróis”. Ser professor é tão bom e prazeroso que qualquer técnico de futebol hoje em dia faz questão de ser chamado também de professor. Como no Japão, devíamos receber reverência das nossas autoridades. O Governo faz zelosamente a sua parte “incentivando a profissão e valorizando a Educação”. As autoridades, espertas, sempre fizeram esta ação no Brasil. Por isso, pelo menos hoje, parabéns para todos nós.
 

*É Professor em Porto Velho.
 


Fonte: Professor Nazareno
 

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